2 anos depois
O sol batia com
força nas costas do meu top turquesa. Estava sentada numa esplanada de um café,
em Atenas, na Grécia, com um bonito rapaz há minha frente.
Parecia-me que ele
estava mais interessado no meu conjunto de top curto e calções brancos do que
propriamente na nossa conversa, mas não me importei. Levei a palhinha do sumo de
laranja à boca, sem tirar os olhos dele. Sabia que as raparigas há minha volta
me olhavam com inveja, e não era para menos. Alexio, o rapaz há minha frente, parecia
mesmo um “deus grego”. Moreno, de olhos castanhos cor de chocolate, rebeldes
caracóis pretos e um sorriso de anjo que fazia levar qualquer uma à loucura.
Qualquer uma que não
tivesse já o coração ocupado.
Conhecera Alexio uma
semana depois de chegar a Atenas. Fora um encontro muito casual. Eu estava
deitada na areia de uma das belas praias de Atenas e ele estava a jogar
voleibol com uns amigos não longe dali. Já tinha reparado nele, claro. Apesar
de os amigos serem giros, eram facilmente ofuscados por aquela beleza. No
entanto, não mostrei muito interesse, preferindo preocupar-me em não ser atingida
pela demoníaca bola de voleibol.
Não sei se foi
estratégia ou acidente, o que é certo é que a bola de voleibol me acertou na perna
direita. Eu estava com óculos de sol, de olhos fechados e só dois segundos
depois de sentir o impacto da bola no meu corpo é que abri os olhos e me sentei. Lá estava ele, de
calções de banho verdes, exibindo um corpo de fazer inveja e com o seu lindo
sorriso. Viu logo que eu era estrangeira pelo que falou comigo num inglês com
sotaque que devia derreter todas, mas que a mim me irritou um bocadinho. Ele
pediu desculpa e, vendo-me sozinha, aproveitou para meter conversa. Eu alinhei
e dali a pouco já estava ele a pedir-me para sair.
Saímos algumas
vezes. Ele era atraente e chamava constantemente as atenções. Não que não fosse
atencioso, mas era muito atiradiço. Nunca fomos além de conversas, embora ele
tivesse tentado. Devia ser isso que ele gostava em mim, o facto de me fazer de
difícil. Para ser sincera, estava à espera que ele se fartasse e partisse para
outra, mas por outro lado gostava do gozo que a situação me proporcionava e do
facto de ser “a escolhida” entre todas as raparigas. Infantil, sim. Mas bom
para o esquecer.
O que, claro, era
algo que nunca tinha conseguido fazer. Pode ser difícil ou mesmo impossível de
acreditar, mas não passara um único dia ao longo destes dois anos em que não
tivesse pensado nele.
E em tudo o que se
passara entre nós, tudo o que acontecera. Em como o tinha deixado ir, assim,
sem mais ou menos. Culpava o orgulho, culpava o facto de nunca podermos estar
juntos, mas sabia que não era nada disso. Tinha sido por medo que o tinha deixado
ir. Era por medo que o continuava a tentar esquecer, em vez de lutar.
O mundo acalmara
muito depois do ataque de Magneto (claro que continuava a recusar-me a
chamar-lhe pai). Fury não me chamara para mais nenhuma missão. Não era por
não haver missões para realizar, bem o sabia. Fury apenas temia que voltar à
S.H.I.E.L.D. e recordar tudo me fizesse desmoronar. Temia que me
descontrolasse. Para ser sincera, eu também o temia.
Por isso tinha
andado em viagens pelo mundo durante estes dois anos. Vida boa, pois era. Conhecer
novas culturas e pessoas diferentes, visitar símbolos nacionais ou locais que
só aparecem nos filmes, sim, era um sonho. Mas por vezes sentia falta de um
lar, de um refúgio, de voltar para casa ao fim de um longo dia de trabalho, de
me aconchegar no sofá a ver um filme.
A minha vida nestes
dois últimos anos havia-se tornado uma festa: uma constante e imutável
diversão. Dinheiro não faltava, sítios para ver e locais para visitar também
não. Ia sozinha, mas depressa conhecia outras pessoas. Mudara de visual para
não ser reconhecida como Magnum. Detestaria ir de férias como famosa. Pintara o
cabelo de castanho, deixara-o crescer e usava roupas mais sofisticadas porque
as pessoas sabiam que o visual da mística Magnum consistia em modestas calças de ganga e
t-shirts largas.
Falava
frequentemente com os Vingadores. Cada um seguira o seu caminho. Não houvera
mais nenhuma ameaça e por isso não fora necessário ao grupo voltar a juntar-se.
Mas eles reuniam-se de vez em quando, para sair e divertirem-se. Como eram
mundialmente conhecidos via-os muitas vezes em capas de revistas, principalmente
a Tony, e também em eventos.
Natasha contara-me
que consolidara a sua relação com Clint: estavam agora mais próximos de uma
relação amorosa, embora as suas personalidades distantes e complexas ainda não tivessem
permitido uma aproximação mais profunda.
As indústrias Stark
iam de vento em popa. Tony continuava a construir mais armaduras e a ser a “personalidade”
do ano. Pedira Pepper finalmente em casamento, que ainda não tinha data
marcada.
A Bruce era agora
cada vez mais fácil controlar a sua raiva. O Hulk já raramente saía cá para
fora, e o cientista dedicava-se a ajudar os outros e a tentar arranjar curas
para doenças.
Thor continuava em
Asgard. Não ouvira mais notícias dele. Desconfiava que os Vingadores fossem
sabendo dele, mas nenhum deles me contava. Eu também não perguntava. Eles
sabiam que eu me importava com Thor e que claro que queria saber se ele estava
bem, mas era um assunto demasiado próximo dele
e por isso preferia evitá-lo. De resto, sabia que Thor tinha vindo várias vezes
à Terra para se encontrar com a sua amada, Jane Foster.
E Steve… bom, Steve
continuava o mesmo soldado responsável e amável que conheci. Natasha referia
várias vezes que ele tinha muitas saudades minhas. Eu falava com ele algumas vezes
por telefone, mas sentia-o distante. Sabia que não era por me ter ido embora
que ele estava chateado, era por quem eu me tinha embora. Ele nunca me perdoara
por me apaixonar por ele.
Era com Natasha que
falava mais frequentemente: mandava-lhe vários postais das minhas viagens.
Também lhe escrevia, e falávamos por telefone e Internet. Eles tinham saudades
minhas, eu deles. Culpava-me por os ter deixado, mas tinha de o fazer. Não por ele. Por mim.
Tinha viajado pelos
cinco continentes e em nenhuma ocasião se revelara necessário usar os meus
poderes. Era impossível esquecê-los, no entanto. Faziam parte de mim. E eu
não podia mudar o facto de ser filha de Magneto.
Não que não gostasse
dos meus poderes. Claro que era bom sentir-me poderosa e intocável, mas com
eles também vinham memórias dolorosas, e outras boas, que se tornavam ainda
mais dolorosas pelo facto de serem boas e não voltarem mais.
De repente Alexio
pôs-me a mão no joelho. Eu perdera-me no laranja do sumo e no castanho dos seus
olhos, pondo-me a pensar no passado. Ele já devia ter repetido a mesma frase
para aí umas cinquenta vezes, com aquela paciência que o permitia ter tanto
tempo para o sexo oposto.
-Estás bem? –
perguntou-me ele em Inglês com o seu sotaque grego. Habituara-me a ele ao longo
do tempo.
-Estou ótima –
respondi. Olhei para mão dele no meu joelho. Ele percebeu e retirou-a.
-Desculpa. Sei que
não gostas…
-É complicado –
respondi. Ele esboçou um sorriso franco.
-É sempre – depois baixou
o tom de voz, falando com uma voz sedutora e doce – mas tu sabes que comigo não
tem de ser.
-Eu sei – acabei por
dizer. Depois desviei o olhar para o lado e o meu coração parou.
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