sábado, 22 de fevereiro de 2014

Chamas de Poder

Aterrámos no campo de treino do quartel general da S.H.I.E.L.D. Loki foi o primeiro a cair em cima dos colchões da sala de treinos, depois eu. Thor ia cair em cima de mim se Loki não me tivesse puxado para si. Isto era bom pois assim não ficara esmagada por Thor, mas era mau pois agora estava em cima de Loki. Apesar de tudo, ele esboçou um meio sorriso endiabrado. Olhei-o, furiosa, levantando-me. Eles fizeram o mesmo e saímos da sala de treinos. O porta-aviões ainda estava aterrado nas instalações terrestres da S.H.I.E.L.D, mas agora estava uma noite calma e pacífica. O temporal tinha passado.
-Thor, Bridget e Loki, ao meu gabinete, JÁ – ordenou a voz de Fury pelos altifalantes. Eu e Thor ladeámos Loki durante a ida ao escritório de Fury, com vários agentes a olharem para nós. Quem decidisse trabalhar para a S.H.I.EL.D. não se podia queixar de aborrecimento, havia sempre algo a fazer a ou a ver.
A porta do gabinete de Fury estava aberta. Entrámos e sentámo-nos nas cadeiras, eu a sentir-me minúscula sentada entre os dois poderosos Deuses.
-Fico contente de te ter contado o plano todo – afirmou Fury para Thor.
-É, parece que isso salvou a minha vida – Loki revirou os olhos, voltando ao seu velho eu sarcástico.
-Devias estar agradecido – disse Fury duramente – a quantidade de pessoas que faz aquilo que a Bridget e o Thor fizeram por ti hoje é reduzida. Tu és uma pessoa cheia de sorte, Loki.
-Tenho a certeza que sim – ironizou ele, levando uma cotovelada da minha parte. Ele encarou-me furioso e eu não consegui deixar de sorrir maleficamente. Era bom sorrir depois de toda a ansiedade e fúria daquele dia.
-Então, espero mesmo que nos ajudes, Loki – disse Fury.
-Sinto-me honrado, não é todos os dias que me pedem ajuda. Primeiro, Thor, agora o Fury – virou-se para mim, o sorriso endiabrado a bailar-lhe os lábios – também me queres pedir ajuda, Bridget?
Revirei os olhos.
-Só espero que aceites esta oportunidade de te redimires. É a única que tens para escapares à tua sentença, Loki – afirmei.
-Então, eu devia agradecer a este novo perigo que ameaça Midgard? Por me ter dado a hipótese de me salvar? – perguntou Loki.
-Exatamente – concordei.
-E quem é esse perigo, afinal? – inquiriu Loki.
-O seu nome é Magneto – referiu Fury – os seus poderes baseiam-se no magnetismo e manipulação dos materiais. Tem um exército de mutantes consigo.
-Magnetismo? – Loki franziu o sobrolho, olhando de relance para mim.
-Fury acha que Magneto pode estar de alguma forma relacionado com a Bridget – disse Thor – ela é um ponto fulcral na derrota de Magneto, e tu também. Por isso gostava que deixasses o teu orgulho de lado e nos ajudasses, Loki – Thor olhou-o nos olhos – pela mãe.
Os olhos de Loki escureceram levemente.
-Vou pensar no assunto.
-Os pais confiaram em ti, Loki. Eu confiei em ti. Fury confiou em ti – disse Thor.
-Eu confiei em ti – sussurrei, esperando não me vir a arrepender do que acabara de dizer. Loki virou-se para mim, com um sorriso malicioso no rosto.
-O que é que disseste?
-Tu ouviste o que eu disse - cruzei os braços sob o peito, olhando em frente.
-Importas-te de o repetir? – pediu ele.
-Importo – asseverei.
-Então não nos desiludas, Loki – continuou Thor.
-Isso é uma grande responsabilidade que eu não sei se quero tomar – fez ver Loki.
-Preferes morrer? – instiguei. Vi-o engolir em seco.
-Onde vou ficar hospedado? – perguntou ele, desviando a conversa.
-No porta-aviões. Vamos dar-te um quarto, mas vais ficar com dois guardas à porta – declarou Fury – se não se importam, gostaria que fossem andando. Loki, não tentes fazer nenhum truque. Temos Heimdall, Thor, Bridget e vários guardas a vigiar-te. Um passo em falso e vais direitinho a Asgard, e sabes o que isso significa. Agora vão, vou chamar os restantes Vingadores para lhes contar todo o plano.
-Prepare-se para ouvir indignações, Fury – afirmei – eles não ficar nada contentes com o plano.
-Como super-heróis, o dever deles é lutar pela Terra, quer isso signifique que seja individualmente ou com Loki a ajudar. De qualquer maneira, por muito que a ideia de trabalharem com Loki lhes desagrade, não me parece que vão perder uma oportunidade para mostrarem o seu brilhantismo. Principalmente o Tony Stark.
Com isto, saímos os três do gabinete de Fury, enquanto o ouvíamos a chamar os outros Vingadores ao seu escritório pelos altifalantes. Fui até ao meu quarto, no porta-aviões, deixando Loki com Thor e os guardas. Estava cansada, mas contente por Loki não ter morrido. Agora só esperava que ele não fizesse asneira e desperdiçasse a sua oportunidade de redenção.
Eu queria mesmo que ele mudasse, quer fosse por razões pessoais ou profissionais.

*

No dia seguinte, sentia-me melhor. Já não estava nervosa relativamente ao julgamento de Loki nem à sua sentença, agora só sentia o peso da responsabilidade em cima dos meus ombros devido a Magneto. Fui até ao bar, onde encontrei Clint, Natasha e Steve.
-Então sabias do plano todo e não nos disseste nada, Bridget? – perguntou Steve assim que me viu.
-Olá também para ti – retorqui – eu não podia contar, não é? Era informação confidencial.
-O Steve sabe disso, só está chateado porque tu sabias mais do que ele – indagou Clint, com um sorriso na cara.
-Ou então porque o assunto estava relacionado com o Loki – alvitrou Natasha, recebendo um olhar de fúria por parte de Steve. Pedi uma sandes e juntei-me a eles.
-Ainda não acredito que o Loki nos vai ajudar - disse Steve - se é que vai.
-Pois. Mas se ele fizer asneira, nós damos conta do recado - declarou Natasha. Steve olhou para mim.
-Bridget, por favor, não te metas em confusões com ele. Ele é perigoso, e apesar de Fury o ter convocado, não confio no Loki.
-Não te preocupes, Steve. Vou ter cuidado.
Depois a tensão acerca de Loki desanuviou quando começámos a falar de assuntos mais interessantes como quando Natasha tinha embaraçado Tony com o pedido de casamento a Pepper. Passados alguns momentos, Maria Hill entrou no bar e chamou-me.
-O Fury quer que vás mostrar ao Loki o relatório sobre os teus poderes que mostraste aos outros – disse ela. Franzi o sobrolho.
-Isso não é perigoso? Considerando que é de Loki que estamos a falar…
-Eu sei, mas acho que a única hipótese que temos é confiar nele. É difícil e muito arriscado, mas o Thor conhece-o como ninguém e se ele diz que o Loki está mudado…
-O Loki não é propriamente pessoa de se confiar nem de se tirar suposições. Ele sabe enganar muito bem as pessoas – aludi.
-Tens razão, mas vai ter que ser. Boa sorte, Bridget - desejou ela.
Encaminhei-me pelos corredores do porta-aviões, indo buscar a pasta de documentos ao meu quarto. Esquecera-me de perguntar a Maria onde estava Loki. Não sabia onde podia encontrá-lo, mas isso não foi problema. Ele fê-lo por mim.
-À procura de alguém, Bridget? – perguntou ele, aparecendo à minha frente numa esquina.
-Tinhas de acertar pelo menos uma vez, não é? – sorri eu, um sorriso irónico – sim, estou, Loki. Tenho de te mostrar isto.
Acenei com a pasta em frente aos olhos dele.
-Tens a certeza que confias em mim? – sorriu ele, escusado será dizer que tipo de sorriso.
-Não, mas não é como se tivesse muitas opções. Sim, tenho consciência de que te estou a dar a forma mais fácil de descobrires os meus pontos fracos e sim, tenho consciência de que podes vir a usar isto contra mim e sim, também tenho consciência de que é provável que te juntes a Magneto em vez de a nós, mas…
-Eu não me vou juntar a Magneto – interrompeu-me ele, o olhar a endurecer.
-E porque não? – inquiri. Ele olhou-me bem fundo nos olhos, provocando arrepios no meu corpo.
-Porque não vou cometer o mesmo erro duas vezes.
Engoli em seco. O azul-esverdeado dos seus olhos parecia tão certo, tão verdadeiro… mas continuava reticente em acreditar nele. Era difícil confiar no Deus do Prejuízo.
Pessoas como o Loki nunca mudam, tinham sido as palavras de Steve.
-Espero que não, Loki – afirmei, respirando fundo – bom, aqui está…
Estendi-lhe a capa com documentos, que eram apenas uma fotocópia do documento original, mas depois reconsiderei.
-Pensando bem, é melhor ficar de olho em ti. Vigiar-te, quero dizer.
-A querer passar mais algum tempo comigo, Bridget? – provocou ele. Revirei os olhos.
-Sim, pois, querias – argumentei.
-Vocês parecem dois adolescentes – disse uma voz atrás de nós. Era Tony – sempre a picarem-se um ao outro.
-Olha quem fala – sorri eu.
-Eu deixo-vos continuarem a namor… a trabalhar – sorriu Tony, piscando o olho e indo embora. Ignorei aquilo que ele ia dizer, abrindo as portas de uma sala de reuniões que eu sabia estar a ser vigiada, caso Loki tentasse alguma coisa.
-A sala vazia é para estarmos mais à vontade, Bridget? – inquiriu Loki. Sem pensar, dei-lhe uma estalada na cara. Ele piscou os olhos por um momento, mas depois o sorriso regressou à sua cara. Talvez eu tivesse exagerado, mas os seus comentários provocatórios já me estavam a irritar.

*

Ponto de vista de Loki

-A sala vazia é para estarmos mais à vontade, Bridget? – instiguei, mas mal tive tempo para pensar pois ela pregou-me uma estalada. Ok, talvez eu tenha merecido, mas um único pensamento me passou pela cabeça quando ela me bateu: quanto mais me bates mais eu gosto de ti. Claro que esse pensamento não se enquadrava na situação. Eu não gostava dela, ela não gostava de mim. Ponto.
-Desculpa se toquei num ponto fraco – sorri eu. Pensei que ela me fosse bater novamente, mas limitou-se a suspirar e a sentar-se numa das cadeiras da longa mesa de reuniões.
-Então, a primeira coisa que devias saber sobre os meus poderes é que eu não sei quão poderosos são – começou ela. Sentei-me em frente a Bridget e ela prosseguiu - não conheço as suas limitações, pois nunca o testei o suficiente.
-E agora parece que é tarde demais para isso – referi. Ela acenou com a cabeça.
-Sim, é… mais ou menos isso. Todavia, não tenho tempo para os testar, pelo que vou ter que confiar nas minhas capacidades – Bridget fixou os olhos nos meus, chamas de poder a dançar no seu olhar – agora, Loki, se tu tentas, de alguma forma, usar estas informações contra mim ou contra qualquer outra pessoa que não o inimigo, eu juro que…
-Não o vou fazer, eu disse-te – interrompi-a.
-Pela tua sanidade, é melhor que não – finalizou ela, as chamas continuando a dançar no verde dos seus olhos. 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Condenado

-Como queiras – Steve encolheu os ombros. Natasha revirou os olhos.
-Vocês, homens, são tão dramáticos. Fazem um drama por qualquer coisinha. Estás a fazer uma tempestade num copo de água, Steve. Se a Bridget disse que não se passa nada, é porque não se passa nada. Esquece lá isso! – exclamou ela. Steve meditou nas suas palavras.
-Tens razão, Nat. Desculpa, Bridget.
Eu sorri.
-Não faz mal.
Ele sorriu também. Pelo canto do olho, vi Natasha piscar-me o olho discretamente e sorri-lhe, agradecida.
-Olhem ali! - Tony apontou subitamente para a porta do bar. Virei-me para olhar, mas só ouvi Natasha dizer:
-Tony, para de beber.
Sorri. Queria esquecer o que se passaria amanhã e aproveitar a saída com a Pepper e os Vingadores.

*

No dia seguinte, eu e Steve devíamos ser os únicos sem ressaca. Tony conseguira beber à vontade, e todos os outros tinham alinhado. Eu ficara-me por um copo e Steve não conseguia ficar geneticamente bêbedo.
Mas eu não estava menos ansiosa que todos os outros, só que por razões diferentes. Só conseguia pensar no que se estaria a pensar em Asgard naquele dia, durante o julgamento de Loki.
-Precisas de te acalmar, Bridget – disse-me Maria Hill à hora de almoço – senão o Fury vai notar que estás estranha e vai perceber que já sabes.
Assenti, mas não me consegui acalmar. Estive com Steve a maior parte do dia no ginásio e no campo de treinos e notei que ele percebeu que eu estava estranha, mas não perguntou nem fez nenhum comentário. A certa altura, enquanto Steve lançava com potência o seu escudo contra a minha barreira, a sala tremeu, lançando-nos contra o chão. Depois ouviu-se um estrondo. Em seguida, uma luz brilhante e depois novamente outro estrondo.
-Que é que se passa? – perguntei, enquanto eu e Steve nos levantávamos. Saímos da sala de treinos, e a voz de Fury ecoou pelos altifalantes.
-Devido ao temporal que começou subitamente, tivemos de aterrar no quartel general da S.H.I.EL.D. Estão a ser fornecidos carros para quem quer ir para casa, mas aviso que não é prudente conduzir no meio de um temporal como este.
Chegámos à sala de comandos e olhei pela janela. Chovia torrencialmente e o vento uivava, mas não foi isso que me chamou mais a atenção. O primeiro estrondo que ouvira fora o do porta-aviões da S.H.I.EL.D a aterrar nas instalações terrestres, em Nova Iorque, denominadas de Triskelion, que era um edifício grande.



Porém, a luz brilhante que se seguira fora um relâmpago e o barulho ensurdecedor fora um trovão. Trovões. Thor. O Deus dos Trovões. O Julgamento. Loki.
Sabia que podia ser apenas uma coincidência, mas a minha cabeça teimava em fazer a ligação entre o súbito temporal e o julgamento de Loki. Decidi ficar pelo porta-aviões, uma vez que era perigoso ir para casa.
As televisões e as rádios diziam que aquele temporal não estava previsto e os especialistas em meteorologia e Ciência não o conseguiam explicar, o que reforçava a minha teoria sobre Thor e Loki. Estaria Thor furioso por terem ilibado Loki? Estaria furioso porque lhe tinham dado uma sentença pequena? Ou porque lhe teriam dado uma sentença exagerada?
Fechada no quarto, ansiosa, não aguentei. Caminhei pertinentemente até ao gabinete do Fury. Como não queria quebrar todas as regras, bati à porta.
-Sim? – perguntou a voz dele de dentro do escritório. Sem mais hesitações, abri a porta e perguntei a Fury de rajada:
-Qual foi a sentença de Loki?
Apenas não reparei que Steve estava sentado em frente a Fury, a estudar uns papéis. O olhar dele, quando se virou para me encarar, foi frio e severo.
-Bridget, como é que sabias que era hoje o julgamento? – questionou Fury. Encolhi os ombros, desvalorizando a pergunta.
-Ouvi por aí – depois olhei de relance para Steve – e estava apenas curiosa, claro.
-Como deves ter reparado, o Thor não está muito contente com a sentença – e apontou para a janela. O temporal continuava.
-Este temporal… é obra dele? – inquiri. Fury assentiu com a cabeça e olhou-me de forma preocupada.
-Loki foi condenado à morte.
Um relâmpago potente rasgou os céus, seguido de um trovão ensurdecedor. A dor atingiu-me com força. Não podia ser… Frigga nunca o permitiria…
-Isso… não é verdade… - gaguejei, ofegante, sem saber o que fazer ou pensar. Parecia tudo um grande pesadelo…
-Foi o que Thor me revelou.
Fury parecia triste, mas apenas porque assim não podia usar Loki no seu plano para derrubar Magneto. E eu? A que se deveriam os meus sentimentos de dor? Lembrei-me do primeiro dia em que o vira, quando o vigiara… das constantes provocações, da ida a Asgard, da noite na varanda depois do jantar em que eu falara sobre o meu passado, do beijo debaixo do túnel de flores… de Klaus e do passeio a cavalo…
-Mas… e o facto de ele estar a ser controlado pelo Tesseract? – interroguei.
-Aparentemente não foi suficiente para ilibar Loki de tudo o que ele fez quando estava consciente – afirmou Fury. Steve permanecia calado. Eu lutava contra as lágrimas. Engoli em seco e virei-me, para eles não me verem chorar. Depois Steve falou.
-Se tu o queres mesmo ajudar… pede a Heimdall que te abra o portal e luta, Bridget. Luta.
E não foi preciso dizer mais nada. Saí do gabinete de Fury a toda a velocidade, correndo para a saída das instalações. A chuva e o vento fustigaram-me e tremi de frio, as minhas lágrimas misturando-se com as gotas da chuva.
-Heimdall, por favor! Se me ouves, abre o portal!
Um feixe de luz dourada aterrou sob mim, teletransportando-me para Asgard.

*

Aterrei em Bifrost, zonza, e agradeci a Heimdall.
-Obrigada.
-O príncipe Loki está na praça principal – referiu ele. Corri pela ponte até a praça. Em Asgard não estava a chover, e o sol era esplendoroso. Não foi difícil chegar até à praça pois já lá tinha estado com Thor, Sif e os Três Guerreiros.
Alguns asgardianos olharam-me de forma estranha, mas a maioria deles estava concentrado na praça principal, perto do palácio. Esta era um grande largo, com uma multidão enorme e uma espécie de palco montado. Frigga chorava desalmadamente ao fundo do palco, Odin tentava consolá-la e não havia sinais de Thor. E depois vi Loki. Os guardas empurraram-no para o meio do palco, um deles a desembainhar uma espécie de espada mágica que conseguiria matar Loki. Este tinha as mãos atadas, vestido com o seu manto verde normal, e o seu olhar parecia perdido, vagueando pela multidão. Eu estava no fundo, mas os seus olhos incidiram nos meus. Apesar de tudo o que ele tinha feito, não conseguia vê-lo… morrer. Projetei uma onda magnética que levantou os guardas do palco e os atirou contra o chão.
-Bridget! – gritou Frigga. A multidão separou-se, deixando o caminho livre para eu ir até ao palco. Tentei manter-me calma e segura enquanto caminhava na direção deste.
 -Como pôde… como pôde condená-lo à morte? – sussurrei, aproximando-me para que só ela, Odin, e provavelmente Loki, me pudessem ouvir.
-Não depende de mim, Bridget – disse-me Frigga, as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara.
-Mas a senhora é a rainha! – exclamei eu, elevando a voz. Ouvi a multidão aproximar-se para ouvir melhor – e ele é seu filho!
-É a desgraça de Asgard! Acabem o que têm de acabar! – gritou uma voz da multidão. Virei-me para a plateia.
-E como acham que se sentiriam se a vossa vida, se tudo aquilo que conheciam, fosse mentira? – questionei – Loki não sabia que era adotado e não estou a dizer que ele devia ser desculpado só porque lhe mentiram toda a vida. Mentiram-no para o proteger, mas todas as mentiras magoam. E Loki errou e meteu-se com quem não devia e eles controlaram-no. A partir daí, usaram-no sem escrúpulos, como a um boneco, manipulando-o e fazendo dele aquilo que queriam. Loki tinha consigo uma luta interna, contra o poder do Tesseract, mas ninguém percebia. E ele… para ele é difícil distinguir o certo do errado, mas por favor… por favor… - engoli em seco – não o matem.
-E porquê? – gritou outra voz.
-Porque precisamos dele em Midgard – disse alguém de repente. Esperem lá… eu reconhecia aquela voz. Aquela voz trovejante e rouca. Thor. Aterrou ao meu lado, com o martelo bem seguro na mão, fazendo estremecer o palco, a capa vermelha a esvoaçar atrás dele.
-Thor? – perguntei.
-Fury também me contou os planos que tinha para Loki – declarou Thor – precisamos dos dons dele para combater uma nova ameaça em Midgard. Se Loki nos ajudar e tiver sucesso… poderá redimir-se.
-Thor, não o podemos deixar ir assim – fez ver Odin.
-Heimdall vigia-o, pai! – respondeu Thor – e até pode ser que Loki não o demonstre, mas eu acho… eu acho que lá no fundo… ele está diferente.
Loki não se pronunciara até ali. Nesse momento, levantou a cabeça do chão e encarou os olhos de Thor. Eu ainda tinha as minhas dúvidas, de que Loki mudasse, mas aquela era a oportunidade perfeita para salvar Loki da morte.
-Toda a gente merece uma segunda oportunidade – alegou Thor – eu prometo… - e olhou diretamente para os olhos de Odin – que se Loki falhar, se eu falhar… se Loki ficar ainda pior que antes, se fizer algo de mau… eu acartarei com as culpas e com toda a responsabilidade. Aceito que Loki fique à minha responsabilidade, se isso o salvar da morte.
-Defendam Midgard! – exclamou uma voz fina da multidão. Era uma rapariga pequena, sentada nos ombros do pai – não há povo mais nobre do que aquele cujos dois príncipes se unem e se sacrificam por outra nação! E Asgard é esse povo, pois os seus príncipes sacrificar-se-ão por Midgard!
-Por favor, pai – pediu Thor. Bastou a Odin um olhar suplicante de Frigga para acenar em sinal de concordância.
-Mas se… se Loki falhar, Thor… espero que estejas consciente que não será apenas Midgard a cair. Tu também, toda a família real, e toda Asgard caíra – declarou Odin em voz profunda.
-Aceito o peso da responsabilidade – afirmou Thor – os asgardianos nunca desistem.
Com esta afirmação, Thor encheu a multidão de asgardianos com orgulho. Começaram a aplaudir e a incentivar os príncipes.
-Partam agora, meus filhos – declarou Frigga – antes que seja tarde demais. E lutem pela vossa preciosa Midgard.
Os olhos de Loki cruzaram-se novamente com os meus, mas eu estava demasiado confusa e nervosa para identificar o que ele estava a sentir. Depois, um feixe de luz dourado incidiu no palco e eu, Thor e Loki partimos em direção à Terra. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Verdade ou Consequência

Estava a acabar de me vestir para sair, naquele dia à noite, quando alguém bateu à porta do meu quarto.
-Quem é? – perguntei.
-Steve – respondeu uma voz. Mordi o lábio inferior. Não queria estragar a nossa relação amigável, mas ele parecia distante. Abri a porta e ele deixou-se ficar ao pé dela, sendo um cavalheiro e não entrando por ali adentro. Era estranho pensar que ele tinha estado “congelado” no tempo.
-Estou pronta. Vamos?- questionei e ele assentiu. Um silêncio incómodo instalou-se entre nós durante toda a viagem de helicóptero até à cidade, eu a fixar o mar escuro pela janela.
-Steve… - comecei, quando saímos do heliporto instalado na base terrestre da S.H.I.E.L.D. e um táxi nos levou até ao centro de Nova Iorque.
-Sim? – perguntou ele.
-O que é que se passa? Quer dizer... tens estado estranho… muito calado… desde… desde que regressei de Asgard.
Saíramos do táxi e caminhávamos agora por Nova Iorque, iluminada e mesmo assim cheia de pessoas. Steve suspirou.
-É só que… não consigo perceber como é que depois de tudo o que o Loki fez ainda o queres ajudar.
Por momentos, pensei que Steve soubesse do plano de Fury de “usar” Loki para se redimir, embora eu soubesse que Fury não estava preocupado com Loki, mas sim interessado na ajuda que ele nos poderia dar contra Magneto e o seu exército de mutantes. Mas depois percebi que Steve se referia ao Tesseract e em como eu interrompera o julgamento para ajudar Loki.
-Acho que nem eu própria sei – acabei por dizer.
-E também não percebo porque… porque é que aquele tal de Klaus te levou a ti em vez de alguém que fosse mais importante para Loki.
-Eu sou mais fácil de apanhar do que o Thor ou do que membros da família real de Asgard, não? – referi.
-Sim, mas mesmo assim… Klaus não teria interesse em ti se… se Loki também não tivesse.
Esforcei-me para não corar, embora isso fosse algo que eu não pudesse controlar.
-Duvido – afirmei, tentando demovê-lo daquela ideia.
-É o que te digo, Bridget. Não sei porquê, mas Loki tem alguma espécie de interesse em ti… e só espero que esse interesse não te acabe por magoar. Não podes confiar nele, Bridget. Pessoas como o Loki nunca mudam. Ele pode acabar por te magoar a sério.
As palavras dele atingiram-me como lâminas. Ele tinha razão, mas eu não queria acreditar. E não sabia porquê, porque eu própria o admitira, que ele nunca mudaria… mas no fundo do meu ser ainda havia esperança…
-Eu sei tomar conta de mim – declarei.
-Foram precisos seis super-heróis para o derrotar, Bridget – alegou Steve, olhando-me com preocupação.
-A ele e ao seu exército – completei.
-Só não quero que te magoes.
-Eu agradeço-te, Steve, mas…
-E aí estão vocês! – exclamou uma voz que me interrompeu – finalmente!
Era Tony, que saía pela porta de um bar. Olhei para cima, vendo “Chick ‘n’ Rolls” escrito a letras berrantes. Havia mais bares ao lado e montes de gente veio a correr ter com Steve e Tony, pedindo-lhes autógrafos como fossem estrelas de música ou cinema. Mas depois lembrei-me. Eram super-heróis que haviam salvo o mundo. De Loki e do seu exército.
Bolas, Steve tinha razão.
Alguém me puxou para dentro do bar, salvando-me de sufocar entre aqueles fãs. Era Clint e dentro do bar já estavam Bruce e Natasha. Havia mais alguns agentes da S.H.I.E.L.D por ali e os barmans, mas mais nada. Extravagâncias dos Vingadores e da S.H.I.E.L.D. Reservar um bar inteiro apenas para os Vingadores e para os agentes.
-Obrigada – agradeci eu e Clint sorriu levemente.
-O Steve deve vir aí, mas não sei se conseguimos arrancar o Tony dos flashes e dos autógrafos – mencionou Clint. O bar era agradável, com cadeiras, cadeirões, pufes, duas grandes televisões, um balcão longo e inúmeras bebidas. Em que é que eu me ia meter?
Steve entrou no bar, arrastando Tony com ele, despedindo-se delicadamente dos fãs e fechando a porta do bar.
-Yannis, traz-nos uma rodada, por favor! – gritou Tony quando entrou e o barman acedeu.
-Uma rodada de quê? – interroguei.
Tony olhou-me como se fosse óbvio.
-Uísque, claro.
-Eu não quero embebedar-me – disse firmemente, embora tenha acrescentado mentalmente “mas se calhar isso ajudava-me a não pensar no julgamento de Loki amanhã”.
-Um shot ou dois não fazem mal a ninguém, Bridget – reclamou Tony – não sejas cortes.
Entretanto, o barman pousou as bebidas numa mesa recostada, que estava rodeada por sofás. Natasha, Bruce, Clint e Steve sentaram-se, tirando cada um um pequeno copo com uísque.
-Não me parece…
-Finalmente! – exclamou Tony. Virei-me, vendo uma mulher loura a sair do que pareciam ser as casas-de-banho.
-Não demorei assim tanto tempo, Tony – sorriu ela.
-Pepper… - ele sorriu também. Depois olhou para mim – Pepper, esta é a Bridget. Bridget, é a Pepper.
-Olá – cumprimentei, apertando-lhe a mão.
-Então, foste tu que puseste o Loki nos eixos – sorriu ela calorosamente. Quase podia ver Steve a revirar os olhos, atrás de mim.
-Não me parece que isso alguma vez vá acontecer – declarei, delicadamente.
-Vamos jogar ao “Verdade ou Consequência”! – berrou Tony subitamente, sentando-se com Pepper no sofá.
-Não seremos demasiado velhos para isso? – perguntou Bruce.
-A infância é o reino onde ninguém morre – declarou Tony solenemente. Bruce arqueou uma sobrancelha.
-Então, eu começo – disse Natasha, sorrido com um ar matreiro para Tony – Stark. Verdade ou consequência?
-Consequência! – exclamou ele.
-Muito bem. A primeira hipótese que te dou é ficares de boca calada o resto da noite – disse Natasha, o seu sorriso a aumentar à medida que a expressão de Tony entristecia – ou então podes falar mas não bebes mais. A terceira opção é pedires a Pepper em casamento.
Todos abrimos a boca, boquiabertos. Pepper e Tony trocaram olhares desconfortáveis.
-Eu não… eu não estou… preparado... para… isso.  – gaguejou Tony.
-O quê, ficares sem beber o resto da noite? – riu Natasha – tu escolhes, Tony.
-Eu não tenho nenhum anel – admitiu Tony, sorrindo por ter encontrado uma desculpa.
-Apenas pergunta – ripostou Natasha.
-Não acho que seja uma boa ideia – interferiu Pepper.
-É, eu fico sem beber o resto da noite – concordou Tony, engolindo em seco, os olhos parados sobre os copos na mesa.
-Não acredito, mas ok – alegou Natasha – é a tua vez.
Tony e Pepper suspiraram de alívio. Depois, Tony virou-se para Steve, sorrindo.
-Rogers, verdade ou consequência?
-Verdade – respondeu ele, temendo o que aí vinha.
-Vais arrepender-te de ter dito verdade – declarou Clint.
-É verdade, Steve, que és um velho virgem?
Steve engasgou-se, e eu esforcei-me por conter o riso.
-Eu não vou responder a isso – sibilou ele entre deles.
-Tomo isso como um sim – afirmou Tony, sob o olhar furioso de Steve – é a tua vez, Capitão.
Steve olhou de soslaio para Tony, a sua cara a virar-se para mim. Senti-me nervosa. Quase que podia adivinhar o que aí vinha.
-Bridget… verdade ou consequência?
-Consequência – respondi e Steve pareceu frustrado com a minha resposta.
-Então tens de…  atingir com raios eletromagnéticos o Tony durante dez minutos, ou atingi-lo com ondas magnéticas ou com choques.
-Ei, isso vai magoar-me! – protestou Tony.
-Tu mereces – replicou Steve. Cruzei os braços sob o peito.
-Bom, eu não vou fazer isso.
-Ótimo. Então, verdade – disse Steve e eu sabia que tinha sido esse o seu objetivo desde o início - Bridget, tens de dizer-nos a verdade sobre o que se passa realmente entre ti e o Loki.
Engoli em seco, sentindo os olhares de todos, não só dos Vingadores, mas também de Pepper, dos agentes da S.H.I.E.L.D e dos funcionários do bar, cravados em mim.
-Não se passa nada entre mim e o Loki, Steve – declarei num tom seco.
-Estou a pedir-te para dizeres a verdade – Steve enfrentou-me com o olhar e o azul-esverdeado do seu olhar fez-me lembrar o de Loki, que por sua vez me relembrou do julgamento que aconteceria amanhã e do qual eu não deveria ter conhecimento.
-E eu estou a dizer a verdade - susti o seu olhar, esperando não corar – só porque o ajudei, não quer dizer que se passe… algo entre nós. Não quer dizer que eu seja má pessoa em o ajudar. Só fiz o que achei correto, que foi provar a verdade. Se Loki estava realmente a ser controlado por algo exterior, tinha o direito de ter isso a seu favor no julgamento.
Steve olhou-me com olhos profundos, como se estivesse a analisar o que eu dissera e a minha reação. Tentei comportar-me de forma normal e convencer-me que aquilo que acabara de dizer era a única razão pela qual eu o ajudara. Mas, perdida naquele azul-esverdeado dos olhos de Steve que me lembravam os de Loki, não conseguia ter a certeza disso, nem se havia mais alguma coisa por detrás da súbita vontade de o ilibar. 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Futuro

Eram demasiadas informações para o meu cérebro processar quando saí do gabinete de Fury e fui chamar os Vingadores. Eles encontravam-se numa espécie de sala de convívio ou de jogos que apenas era utilizada por eles. Tinha uma mesa de snooker, uma mesa de pingue-pongue, um enorme ecrã plasma com consolas, videojogos e filmes, aparelhagem, colunas de som e montes de CDs, sofás com almofadas e pufes, um mini bar com bebidas e pacotes de aperitivos e uma máquina de karaoke.Resumindo, um autêntico paraíso de adolescentes. Bati à porta delicadamente, mas como ninguém respondeu voltei a bater com mais força.
-Os guardas não são permitidos – soou a voz de Tony do outro lado da porta.
-Sou a Bridget – afirmei.
-Entra – respondeu ele de imediato. Peguei na fechadura da porta e caí para a frente quando alguém ma abriu, embatendo contra o peito de Steve. Ele amparou-me, impedindo-me de cair.
-Obrigada – declarei, olhando para o chão.
-Então, encontraste o nosso esconderijo secreto, Bridget! - exclamou Tony.
-Oh, sim, é muito secreto – confirmei eu com sarcasmo – na sala de comandos toda a gente anda a perguntar-se que tipo de posters é que o Tony Stark põe nas paredes desta sala. Confesso que fico admirada por não ter nenhuma mulher nu…
-Ei, respeitinho, Robinson! - avisou Tony, sorrindo – és servida?
Estendeu-me uma taça com amendoins, que eu recusei. Estava sentado num dos sofás, com Bruce sentado ao lado a ver um programa na televisão enorme. Steve sentou-se num cadeirão a ler uma banda desenhada dos anos 40. Não havia sinais de Natasha nem de Clint e ao constatar que Thor também faltava pensei inevitavelmente em Loki. E isso relembrou-me o que tinha de fazer.
-O Fury chamou-vos ao seu gabinete, bem como à Natasha e ao Clint. Bom, ele disse-me para chamar os Vingadores, pelo que suponho que isso também inclua o Thor, mas visto que ele não está cá penso que são só vocês os cinco.
-Passa-se alguma coisa? – interrogou Steve, desviando os olhos da revista e olhando para mim. O clima entre nós desde que eu voltara estava um pouco desconfortável, mas agora agíamos normalmente.
-É para isso que o Fury precisa de vocês – afirmei.
-Vingadores, reunião! – berrou Tony, pousando com estardalhaço a taça dos amendoins em cima da mesinha de centro – vamos!
Encaminharam-se os três para fora da sala em direção ao gabinete do Fury. Eu fui desfazer as malas no meu quarto. Pensei em Magneto e se eu e ele partilhávamos alguma ligação. Se sim, qual seria? A cara dele parecia-me familiar… mas eu nunca o vira antes. Pensei também na minha avó e na sua morte… se eu não fosse diferente, se não tivesse poderes, não estaria onde estava agora. Fury nunca teria batido à porta do quarto de hotel, a S.H.I.EL.D nunca me teria recrutado e eu nunca teria conhecido os Vingadores. Nunca teria conhecido Loki. E por mais que me tentasse convencer que conhecer Loki era uma coisa má, o fundo do meu ser não acreditava nisso. Mas, em contrapartida, conhecer os Vingadores era fantástico.
-Então, vais lutar a nosso lado, hã? – disse uma voz. Virei-me, sobressaltada, reconhecendo Natasha parada à porta do meu quarto.
-Como é que entraste aqui?
-Não é por acaso que sou uma espia – disse ela.
-O Fury já falou convosco? – perguntei. Ela acenou afirmativamente.
-Não achaste nada de estranho no plano dele? – questionou ela, cruzando os braços sob o peito. Franzi o sobrolho, engolindo em seco. Referir-se-ia ela a Loki?
-Que queres dizer? – perguntei.
-Talvez seja só eu, mas… há algo que nos está a escapar. Quer dizer, como é que o Fury espera que o Thor nos venha ajudar? Ele vai estar demasiado ocupado a controlar o Loki, não?
-Mas…
-E de certeza que vai querer ficar em Asgard a vigiá-lo.
- A vigiar quem?
Natasha olhou-me como se fosse doida.
-Ao Loki, claro. Ele vai ficar preso.
Espera aí… eles não sabiam sobre Loki? Fury não lhes contara? Porquê?
-Pois... não sei - respondi, sem saber o que dizer ou fazer. Tinha consciência que Natasha podia saber do plano todo e estar só a tentar manipular-me, mas por alguma razão, não me parecia ser esse o caso. Fury não devia ter dito mesmo nada acerca daquilo que queria de Loki. Talvez tivesse medo que Loki falhasse e não quisesse alimentar falsas esperanças, mas então porquê contar-me a mim? Se os Vingadores não sabiam, eu também não merecia saber, certo? Mas depois as palavras de Fury trespassaram-me a mente... Mas agora nós temos algo que o pode impedir. Ou melhor, alguém.
Estava mesmo a sentir-me confusa, e Natasha notou.
-Estás bem? - perguntou. Acenei afirmativamente, tentando soar convicta.
-Sim, estou só... a pensar que tipo de ligação eu e o Magneto podemos partilhar. E se vou estar à altura do meu trabalho.
-Aposto que vais, Bridget. És mais poderosa do que aquilo que pensas - Natasha lançou-me um último olhar, dando meia-volta e saindo do meu quarto. Suspirei. Não acreditava muito naquilo. Sentia o peso da responsabilidade em cima dos meus ombros. Se corresse bem, a minha carreira na S.H.I.E.L.D. e a minha vida ficariam melhores. Mas se corresse mal... não só Loki deixaria de ter a hipótese de se remediar como eu seria vista como um falhanço. 

*

Uma semana depois, estava reunida numa sala de reuniões nas instalações da S.H.I.E.L.D., com os outros Vingadores, à exceção de Thor, que continuava em Asgard. Ao longo da semana, lera com atenção a pasta de documentos que Fury me dera e e elaborara um relatório sobre as minhas capacidades eletromagnéticas. Bruce ajudara-me na parte cientifica dos meus poderes e Steve na parte mais prática. Eu escrevera sobre o que até ali conseguira fazer com os meus poderes, quais os seus pontos fortes e fracos e as melhores maneiras de vencer o magnetismo. Revelar toda aquela informação aborrecia-me, pois, embora fosse útil para derrubar Magneto, também era útil para me derrubar a mim. Contudo, fazia parte do meu trabalho e tinha de me resignar.
-Acho que devíamos fazer uma pausa - declarou Tony, pousando as folhas em cima da longa mesa - e fazer algo mais divertido.
Natasha franziu o sobrolho.
-Não vem aí coisa boa.
-Agente Romanoff, só estou a dizer que devíamos ir sair ou algo assim - sorriu Tony e perante a expressão zangada de Natasha reconsiderou - não a sós, claro! Todos nós. O Steve também pode vir.
-Ei! - protestou ele, indignado.
-Que é? - perguntou Tony, fingindo-se inocente - tu não podes ficar bêbedo, por isso qual é a piada de beberes?
-Tony, alguma vez vais crescer? - questionou Natasha.
-Eu acho que uma saída ia ser bom - disse Clint antes que Tony e Natasha começassem a discutir a sério - mas não é preciso embebedarmo-nos.
Tony cruzou os braços sob o peito, agindo como um menino amuado.
-Assim não tem piada.
-Então vamos nós e tu ficas - redargui. Ele levantou os braços em sinal de rendição.
-Isso não! Eu sou a alma da festa! - exclamou ele.
-Festa? Quem falou em festa? - inquiriu Bruce - é só uma saída.
-Todas as saídas se tornam festas com o Stark, Bruce - fez ver Steve, ainda magoado. 
-Bom, então vamos sair hoje à noite - finalizou Tony - vamos ao Chick 'n' Rolls? 
Franzi o sobrolho.
-Isso não é um bar de stri...
Tony olhou-me escandalizado, mas Steve, Clint e Bruce soltaram leves gargalhadas.
-Por amor de Deus, Bridget, que raio de imagem tens tu de mim? Primeiro achas que tenho posters de mulheres em... em trajes menores penduradas na sala de convívio e agora achas que frequento bares... desses?
Encolhi os ombros.
-Pelo nome, pensei que...
-O Chick 'n' Rolls é um dos melhores sítios para comer shawarma - esclareceu Tony, depois esboçou um sorriso endiabrado - mas por acaso perguntei ao dono porque se chamava assim e ele disse-me que antigamente costumava ser um bar de stri...
-Tony! - inrerrompeu Steve, olhando depois para mim - o bar chama-se assim porque é a abreviatura de chicken. Não tem nada dessas coisas, senão eu não o frequentava.
-Bom, agora que esta confusão toda sobre o nome do bar está resolvida, proponho que nos encontremos lá por volta das onze - disse Tony.
-Mas eu não sei onde é - fiz ver.
-O Steve mostra-te o caminho - afirmou Tony. Eu e Steve trocámos olhares desconfortáveis um com o outro. Bem, pelo menos teria a oportunidade de esclarecer as coisas com ele e de lhe perguntar porque estava a agir de forma tão estranha desde que eu voltara de Asgard. 
-Até logo - declarou Tony e saímos da sala de reuniões. Ia a entrar no meu quarto quando Maria Hill me pediu se podia entrar. Fechei a porta do meu quarto atrás de mim, esperando, expectante que ela me dissesse o que queria.
-Bridget, o Fury revelou-me algo que eu sei que não devia estar a dizer-te, mas sinto que tens o direito de saber. O Thor contactou-o - alegou ela, olhando-me no olhos - o julgamento de Loki já foi marcado. 
-Quando? - sussurrei.
-Amanhã - respondeu ela.
Engoli em seco. Era já amanhã... interroguei-me qual seria a sentença de Loki. Com as novas provas do Tesseract e o amor incondicional de Frigga e de Thor, e também de Odin para com Loki, qual seria o futuro dele?
-É tudo o que sei, Bridget - afirmou Maria - não contes nada disto a ninguém, muito menos ao Fury.
-Claro que não, Maria. Obrigada.
Ela saiu do meu quarto. Ficava-lhe agradecida por me ter contado, mas tinha sido em má altura. Sentia-me nervosa e de repente já não me apetecia ir sair, mas não podia fazer essa desfeita aos outros. Só que sabia que não ia aproveitar a saída como iria senão tivesse sabido da notícia. O futuro de Loki seria determinado amanhã e, mesmo apesar de tudo o que ele causara, eu não conseguia evitar preocupar-me com o que lhe iria acontecer.