sábado, 8 de fevereiro de 2014

Futuro

Eram demasiadas informações para o meu cérebro processar quando saí do gabinete de Fury e fui chamar os Vingadores. Eles encontravam-se numa espécie de sala de convívio ou de jogos que apenas era utilizada por eles. Tinha uma mesa de snooker, uma mesa de pingue-pongue, um enorme ecrã plasma com consolas, videojogos e filmes, aparelhagem, colunas de som e montes de CDs, sofás com almofadas e pufes, um mini bar com bebidas e pacotes de aperitivos e uma máquina de karaoke.Resumindo, um autêntico paraíso de adolescentes. Bati à porta delicadamente, mas como ninguém respondeu voltei a bater com mais força.
-Os guardas não são permitidos – soou a voz de Tony do outro lado da porta.
-Sou a Bridget – afirmei.
-Entra – respondeu ele de imediato. Peguei na fechadura da porta e caí para a frente quando alguém ma abriu, embatendo contra o peito de Steve. Ele amparou-me, impedindo-me de cair.
-Obrigada – declarei, olhando para o chão.
-Então, encontraste o nosso esconderijo secreto, Bridget! - exclamou Tony.
-Oh, sim, é muito secreto – confirmei eu com sarcasmo – na sala de comandos toda a gente anda a perguntar-se que tipo de posters é que o Tony Stark põe nas paredes desta sala. Confesso que fico admirada por não ter nenhuma mulher nu…
-Ei, respeitinho, Robinson! - avisou Tony, sorrindo – és servida?
Estendeu-me uma taça com amendoins, que eu recusei. Estava sentado num dos sofás, com Bruce sentado ao lado a ver um programa na televisão enorme. Steve sentou-se num cadeirão a ler uma banda desenhada dos anos 40. Não havia sinais de Natasha nem de Clint e ao constatar que Thor também faltava pensei inevitavelmente em Loki. E isso relembrou-me o que tinha de fazer.
-O Fury chamou-vos ao seu gabinete, bem como à Natasha e ao Clint. Bom, ele disse-me para chamar os Vingadores, pelo que suponho que isso também inclua o Thor, mas visto que ele não está cá penso que são só vocês os cinco.
-Passa-se alguma coisa? – interrogou Steve, desviando os olhos da revista e olhando para mim. O clima entre nós desde que eu voltara estava um pouco desconfortável, mas agora agíamos normalmente.
-É para isso que o Fury precisa de vocês – afirmei.
-Vingadores, reunião! – berrou Tony, pousando com estardalhaço a taça dos amendoins em cima da mesinha de centro – vamos!
Encaminharam-se os três para fora da sala em direção ao gabinete do Fury. Eu fui desfazer as malas no meu quarto. Pensei em Magneto e se eu e ele partilhávamos alguma ligação. Se sim, qual seria? A cara dele parecia-me familiar… mas eu nunca o vira antes. Pensei também na minha avó e na sua morte… se eu não fosse diferente, se não tivesse poderes, não estaria onde estava agora. Fury nunca teria batido à porta do quarto de hotel, a S.H.I.EL.D nunca me teria recrutado e eu nunca teria conhecido os Vingadores. Nunca teria conhecido Loki. E por mais que me tentasse convencer que conhecer Loki era uma coisa má, o fundo do meu ser não acreditava nisso. Mas, em contrapartida, conhecer os Vingadores era fantástico.
-Então, vais lutar a nosso lado, hã? – disse uma voz. Virei-me, sobressaltada, reconhecendo Natasha parada à porta do meu quarto.
-Como é que entraste aqui?
-Não é por acaso que sou uma espia – disse ela.
-O Fury já falou convosco? – perguntei. Ela acenou afirmativamente.
-Não achaste nada de estranho no plano dele? – questionou ela, cruzando os braços sob o peito. Franzi o sobrolho, engolindo em seco. Referir-se-ia ela a Loki?
-Que queres dizer? – perguntei.
-Talvez seja só eu, mas… há algo que nos está a escapar. Quer dizer, como é que o Fury espera que o Thor nos venha ajudar? Ele vai estar demasiado ocupado a controlar o Loki, não?
-Mas…
-E de certeza que vai querer ficar em Asgard a vigiá-lo.
- A vigiar quem?
Natasha olhou-me como se fosse doida.
-Ao Loki, claro. Ele vai ficar preso.
Espera aí… eles não sabiam sobre Loki? Fury não lhes contara? Porquê?
-Pois... não sei - respondi, sem saber o que dizer ou fazer. Tinha consciência que Natasha podia saber do plano todo e estar só a tentar manipular-me, mas por alguma razão, não me parecia ser esse o caso. Fury não devia ter dito mesmo nada acerca daquilo que queria de Loki. Talvez tivesse medo que Loki falhasse e não quisesse alimentar falsas esperanças, mas então porquê contar-me a mim? Se os Vingadores não sabiam, eu também não merecia saber, certo? Mas depois as palavras de Fury trespassaram-me a mente... Mas agora nós temos algo que o pode impedir. Ou melhor, alguém.
Estava mesmo a sentir-me confusa, e Natasha notou.
-Estás bem? - perguntou. Acenei afirmativamente, tentando soar convicta.
-Sim, estou só... a pensar que tipo de ligação eu e o Magneto podemos partilhar. E se vou estar à altura do meu trabalho.
-Aposto que vais, Bridget. És mais poderosa do que aquilo que pensas - Natasha lançou-me um último olhar, dando meia-volta e saindo do meu quarto. Suspirei. Não acreditava muito naquilo. Sentia o peso da responsabilidade em cima dos meus ombros. Se corresse bem, a minha carreira na S.H.I.E.L.D. e a minha vida ficariam melhores. Mas se corresse mal... não só Loki deixaria de ter a hipótese de se remediar como eu seria vista como um falhanço. 

*

Uma semana depois, estava reunida numa sala de reuniões nas instalações da S.H.I.E.L.D., com os outros Vingadores, à exceção de Thor, que continuava em Asgard. Ao longo da semana, lera com atenção a pasta de documentos que Fury me dera e e elaborara um relatório sobre as minhas capacidades eletromagnéticas. Bruce ajudara-me na parte cientifica dos meus poderes e Steve na parte mais prática. Eu escrevera sobre o que até ali conseguira fazer com os meus poderes, quais os seus pontos fortes e fracos e as melhores maneiras de vencer o magnetismo. Revelar toda aquela informação aborrecia-me, pois, embora fosse útil para derrubar Magneto, também era útil para me derrubar a mim. Contudo, fazia parte do meu trabalho e tinha de me resignar.
-Acho que devíamos fazer uma pausa - declarou Tony, pousando as folhas em cima da longa mesa - e fazer algo mais divertido.
Natasha franziu o sobrolho.
-Não vem aí coisa boa.
-Agente Romanoff, só estou a dizer que devíamos ir sair ou algo assim - sorriu Tony e perante a expressão zangada de Natasha reconsiderou - não a sós, claro! Todos nós. O Steve também pode vir.
-Ei! - protestou ele, indignado.
-Que é? - perguntou Tony, fingindo-se inocente - tu não podes ficar bêbedo, por isso qual é a piada de beberes?
-Tony, alguma vez vais crescer? - questionou Natasha.
-Eu acho que uma saída ia ser bom - disse Clint antes que Tony e Natasha começassem a discutir a sério - mas não é preciso embebedarmo-nos.
Tony cruzou os braços sob o peito, agindo como um menino amuado.
-Assim não tem piada.
-Então vamos nós e tu ficas - redargui. Ele levantou os braços em sinal de rendição.
-Isso não! Eu sou a alma da festa! - exclamou ele.
-Festa? Quem falou em festa? - inquiriu Bruce - é só uma saída.
-Todas as saídas se tornam festas com o Stark, Bruce - fez ver Steve, ainda magoado. 
-Bom, então vamos sair hoje à noite - finalizou Tony - vamos ao Chick 'n' Rolls? 
Franzi o sobrolho.
-Isso não é um bar de stri...
Tony olhou-me escandalizado, mas Steve, Clint e Bruce soltaram leves gargalhadas.
-Por amor de Deus, Bridget, que raio de imagem tens tu de mim? Primeiro achas que tenho posters de mulheres em... em trajes menores penduradas na sala de convívio e agora achas que frequento bares... desses?
Encolhi os ombros.
-Pelo nome, pensei que...
-O Chick 'n' Rolls é um dos melhores sítios para comer shawarma - esclareceu Tony, depois esboçou um sorriso endiabrado - mas por acaso perguntei ao dono porque se chamava assim e ele disse-me que antigamente costumava ser um bar de stri...
-Tony! - inrerrompeu Steve, olhando depois para mim - o bar chama-se assim porque é a abreviatura de chicken. Não tem nada dessas coisas, senão eu não o frequentava.
-Bom, agora que esta confusão toda sobre o nome do bar está resolvida, proponho que nos encontremos lá por volta das onze - disse Tony.
-Mas eu não sei onde é - fiz ver.
-O Steve mostra-te o caminho - afirmou Tony. Eu e Steve trocámos olhares desconfortáveis um com o outro. Bem, pelo menos teria a oportunidade de esclarecer as coisas com ele e de lhe perguntar porque estava a agir de forma tão estranha desde que eu voltara de Asgard. 
-Até logo - declarou Tony e saímos da sala de reuniões. Ia a entrar no meu quarto quando Maria Hill me pediu se podia entrar. Fechei a porta do meu quarto atrás de mim, esperando, expectante que ela me dissesse o que queria.
-Bridget, o Fury revelou-me algo que eu sei que não devia estar a dizer-te, mas sinto que tens o direito de saber. O Thor contactou-o - alegou ela, olhando-me no olhos - o julgamento de Loki já foi marcado. 
-Quando? - sussurrei.
-Amanhã - respondeu ela.
Engoli em seco. Era já amanhã... interroguei-me qual seria a sentença de Loki. Com as novas provas do Tesseract e o amor incondicional de Frigga e de Thor, e também de Odin para com Loki, qual seria o futuro dele?
-É tudo o que sei, Bridget - afirmou Maria - não contes nada disto a ninguém, muito menos ao Fury.
-Claro que não, Maria. Obrigada.
Ela saiu do meu quarto. Ficava-lhe agradecida por me ter contado, mas tinha sido em má altura. Sentia-me nervosa e de repente já não me apetecia ir sair, mas não podia fazer essa desfeita aos outros. Só que sabia que não ia aproveitar a saída como iria senão tivesse sabido da notícia. O futuro de Loki seria determinado amanhã e, mesmo apesar de tudo o que ele causara, eu não conseguia evitar preocupar-me com o que lhe iria acontecer.

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