domingo, 16 de fevereiro de 2014

Condenado

-Como queiras – Steve encolheu os ombros. Natasha revirou os olhos.
-Vocês, homens, são tão dramáticos. Fazem um drama por qualquer coisinha. Estás a fazer uma tempestade num copo de água, Steve. Se a Bridget disse que não se passa nada, é porque não se passa nada. Esquece lá isso! – exclamou ela. Steve meditou nas suas palavras.
-Tens razão, Nat. Desculpa, Bridget.
Eu sorri.
-Não faz mal.
Ele sorriu também. Pelo canto do olho, vi Natasha piscar-me o olho discretamente e sorri-lhe, agradecida.
-Olhem ali! - Tony apontou subitamente para a porta do bar. Virei-me para olhar, mas só ouvi Natasha dizer:
-Tony, para de beber.
Sorri. Queria esquecer o que se passaria amanhã e aproveitar a saída com a Pepper e os Vingadores.

*

No dia seguinte, eu e Steve devíamos ser os únicos sem ressaca. Tony conseguira beber à vontade, e todos os outros tinham alinhado. Eu ficara-me por um copo e Steve não conseguia ficar geneticamente bêbedo.
Mas eu não estava menos ansiosa que todos os outros, só que por razões diferentes. Só conseguia pensar no que se estaria a pensar em Asgard naquele dia, durante o julgamento de Loki.
-Precisas de te acalmar, Bridget – disse-me Maria Hill à hora de almoço – senão o Fury vai notar que estás estranha e vai perceber que já sabes.
Assenti, mas não me consegui acalmar. Estive com Steve a maior parte do dia no ginásio e no campo de treinos e notei que ele percebeu que eu estava estranha, mas não perguntou nem fez nenhum comentário. A certa altura, enquanto Steve lançava com potência o seu escudo contra a minha barreira, a sala tremeu, lançando-nos contra o chão. Depois ouviu-se um estrondo. Em seguida, uma luz brilhante e depois novamente outro estrondo.
-Que é que se passa? – perguntei, enquanto eu e Steve nos levantávamos. Saímos da sala de treinos, e a voz de Fury ecoou pelos altifalantes.
-Devido ao temporal que começou subitamente, tivemos de aterrar no quartel general da S.H.I.EL.D. Estão a ser fornecidos carros para quem quer ir para casa, mas aviso que não é prudente conduzir no meio de um temporal como este.
Chegámos à sala de comandos e olhei pela janela. Chovia torrencialmente e o vento uivava, mas não foi isso que me chamou mais a atenção. O primeiro estrondo que ouvira fora o do porta-aviões da S.H.I.EL.D a aterrar nas instalações terrestres, em Nova Iorque, denominadas de Triskelion, que era um edifício grande.



Porém, a luz brilhante que se seguira fora um relâmpago e o barulho ensurdecedor fora um trovão. Trovões. Thor. O Deus dos Trovões. O Julgamento. Loki.
Sabia que podia ser apenas uma coincidência, mas a minha cabeça teimava em fazer a ligação entre o súbito temporal e o julgamento de Loki. Decidi ficar pelo porta-aviões, uma vez que era perigoso ir para casa.
As televisões e as rádios diziam que aquele temporal não estava previsto e os especialistas em meteorologia e Ciência não o conseguiam explicar, o que reforçava a minha teoria sobre Thor e Loki. Estaria Thor furioso por terem ilibado Loki? Estaria furioso porque lhe tinham dado uma sentença pequena? Ou porque lhe teriam dado uma sentença exagerada?
Fechada no quarto, ansiosa, não aguentei. Caminhei pertinentemente até ao gabinete do Fury. Como não queria quebrar todas as regras, bati à porta.
-Sim? – perguntou a voz dele de dentro do escritório. Sem mais hesitações, abri a porta e perguntei a Fury de rajada:
-Qual foi a sentença de Loki?
Apenas não reparei que Steve estava sentado em frente a Fury, a estudar uns papéis. O olhar dele, quando se virou para me encarar, foi frio e severo.
-Bridget, como é que sabias que era hoje o julgamento? – questionou Fury. Encolhi os ombros, desvalorizando a pergunta.
-Ouvi por aí – depois olhei de relance para Steve – e estava apenas curiosa, claro.
-Como deves ter reparado, o Thor não está muito contente com a sentença – e apontou para a janela. O temporal continuava.
-Este temporal… é obra dele? – inquiri. Fury assentiu com a cabeça e olhou-me de forma preocupada.
-Loki foi condenado à morte.
Um relâmpago potente rasgou os céus, seguido de um trovão ensurdecedor. A dor atingiu-me com força. Não podia ser… Frigga nunca o permitiria…
-Isso… não é verdade… - gaguejei, ofegante, sem saber o que fazer ou pensar. Parecia tudo um grande pesadelo…
-Foi o que Thor me revelou.
Fury parecia triste, mas apenas porque assim não podia usar Loki no seu plano para derrubar Magneto. E eu? A que se deveriam os meus sentimentos de dor? Lembrei-me do primeiro dia em que o vira, quando o vigiara… das constantes provocações, da ida a Asgard, da noite na varanda depois do jantar em que eu falara sobre o meu passado, do beijo debaixo do túnel de flores… de Klaus e do passeio a cavalo…
-Mas… e o facto de ele estar a ser controlado pelo Tesseract? – interroguei.
-Aparentemente não foi suficiente para ilibar Loki de tudo o que ele fez quando estava consciente – afirmou Fury. Steve permanecia calado. Eu lutava contra as lágrimas. Engoli em seco e virei-me, para eles não me verem chorar. Depois Steve falou.
-Se tu o queres mesmo ajudar… pede a Heimdall que te abra o portal e luta, Bridget. Luta.
E não foi preciso dizer mais nada. Saí do gabinete de Fury a toda a velocidade, correndo para a saída das instalações. A chuva e o vento fustigaram-me e tremi de frio, as minhas lágrimas misturando-se com as gotas da chuva.
-Heimdall, por favor! Se me ouves, abre o portal!
Um feixe de luz dourada aterrou sob mim, teletransportando-me para Asgard.

*

Aterrei em Bifrost, zonza, e agradeci a Heimdall.
-Obrigada.
-O príncipe Loki está na praça principal – referiu ele. Corri pela ponte até a praça. Em Asgard não estava a chover, e o sol era esplendoroso. Não foi difícil chegar até à praça pois já lá tinha estado com Thor, Sif e os Três Guerreiros.
Alguns asgardianos olharam-me de forma estranha, mas a maioria deles estava concentrado na praça principal, perto do palácio. Esta era um grande largo, com uma multidão enorme e uma espécie de palco montado. Frigga chorava desalmadamente ao fundo do palco, Odin tentava consolá-la e não havia sinais de Thor. E depois vi Loki. Os guardas empurraram-no para o meio do palco, um deles a desembainhar uma espécie de espada mágica que conseguiria matar Loki. Este tinha as mãos atadas, vestido com o seu manto verde normal, e o seu olhar parecia perdido, vagueando pela multidão. Eu estava no fundo, mas os seus olhos incidiram nos meus. Apesar de tudo o que ele tinha feito, não conseguia vê-lo… morrer. Projetei uma onda magnética que levantou os guardas do palco e os atirou contra o chão.
-Bridget! – gritou Frigga. A multidão separou-se, deixando o caminho livre para eu ir até ao palco. Tentei manter-me calma e segura enquanto caminhava na direção deste.
 -Como pôde… como pôde condená-lo à morte? – sussurrei, aproximando-me para que só ela, Odin, e provavelmente Loki, me pudessem ouvir.
-Não depende de mim, Bridget – disse-me Frigga, as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara.
-Mas a senhora é a rainha! – exclamei eu, elevando a voz. Ouvi a multidão aproximar-se para ouvir melhor – e ele é seu filho!
-É a desgraça de Asgard! Acabem o que têm de acabar! – gritou uma voz da multidão. Virei-me para a plateia.
-E como acham que se sentiriam se a vossa vida, se tudo aquilo que conheciam, fosse mentira? – questionei – Loki não sabia que era adotado e não estou a dizer que ele devia ser desculpado só porque lhe mentiram toda a vida. Mentiram-no para o proteger, mas todas as mentiras magoam. E Loki errou e meteu-se com quem não devia e eles controlaram-no. A partir daí, usaram-no sem escrúpulos, como a um boneco, manipulando-o e fazendo dele aquilo que queriam. Loki tinha consigo uma luta interna, contra o poder do Tesseract, mas ninguém percebia. E ele… para ele é difícil distinguir o certo do errado, mas por favor… por favor… - engoli em seco – não o matem.
-E porquê? – gritou outra voz.
-Porque precisamos dele em Midgard – disse alguém de repente. Esperem lá… eu reconhecia aquela voz. Aquela voz trovejante e rouca. Thor. Aterrou ao meu lado, com o martelo bem seguro na mão, fazendo estremecer o palco, a capa vermelha a esvoaçar atrás dele.
-Thor? – perguntei.
-Fury também me contou os planos que tinha para Loki – declarou Thor – precisamos dos dons dele para combater uma nova ameaça em Midgard. Se Loki nos ajudar e tiver sucesso… poderá redimir-se.
-Thor, não o podemos deixar ir assim – fez ver Odin.
-Heimdall vigia-o, pai! – respondeu Thor – e até pode ser que Loki não o demonstre, mas eu acho… eu acho que lá no fundo… ele está diferente.
Loki não se pronunciara até ali. Nesse momento, levantou a cabeça do chão e encarou os olhos de Thor. Eu ainda tinha as minhas dúvidas, de que Loki mudasse, mas aquela era a oportunidade perfeita para salvar Loki da morte.
-Toda a gente merece uma segunda oportunidade – alegou Thor – eu prometo… - e olhou diretamente para os olhos de Odin – que se Loki falhar, se eu falhar… se Loki ficar ainda pior que antes, se fizer algo de mau… eu acartarei com as culpas e com toda a responsabilidade. Aceito que Loki fique à minha responsabilidade, se isso o salvar da morte.
-Defendam Midgard! – exclamou uma voz fina da multidão. Era uma rapariga pequena, sentada nos ombros do pai – não há povo mais nobre do que aquele cujos dois príncipes se unem e se sacrificam por outra nação! E Asgard é esse povo, pois os seus príncipes sacrificar-se-ão por Midgard!
-Por favor, pai – pediu Thor. Bastou a Odin um olhar suplicante de Frigga para acenar em sinal de concordância.
-Mas se… se Loki falhar, Thor… espero que estejas consciente que não será apenas Midgard a cair. Tu também, toda a família real, e toda Asgard caíra – declarou Odin em voz profunda.
-Aceito o peso da responsabilidade – afirmou Thor – os asgardianos nunca desistem.
Com esta afirmação, Thor encheu a multidão de asgardianos com orgulho. Começaram a aplaudir e a incentivar os príncipes.
-Partam agora, meus filhos – declarou Frigga – antes que seja tarde demais. E lutem pela vossa preciosa Midgard.
Os olhos de Loki cruzaram-se novamente com os meus, mas eu estava demasiado confusa e nervosa para identificar o que ele estava a sentir. Depois, um feixe de luz dourado incidiu no palco e eu, Thor e Loki partimos em direção à Terra. 

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