sábado, 22 de fevereiro de 2014

Chamas de Poder

Aterrámos no campo de treino do quartel general da S.H.I.E.L.D. Loki foi o primeiro a cair em cima dos colchões da sala de treinos, depois eu. Thor ia cair em cima de mim se Loki não me tivesse puxado para si. Isto era bom pois assim não ficara esmagada por Thor, mas era mau pois agora estava em cima de Loki. Apesar de tudo, ele esboçou um meio sorriso endiabrado. Olhei-o, furiosa, levantando-me. Eles fizeram o mesmo e saímos da sala de treinos. O porta-aviões ainda estava aterrado nas instalações terrestres da S.H.I.E.L.D, mas agora estava uma noite calma e pacífica. O temporal tinha passado.
-Thor, Bridget e Loki, ao meu gabinete, JÁ – ordenou a voz de Fury pelos altifalantes. Eu e Thor ladeámos Loki durante a ida ao escritório de Fury, com vários agentes a olharem para nós. Quem decidisse trabalhar para a S.H.I.EL.D. não se podia queixar de aborrecimento, havia sempre algo a fazer a ou a ver.
A porta do gabinete de Fury estava aberta. Entrámos e sentámo-nos nas cadeiras, eu a sentir-me minúscula sentada entre os dois poderosos Deuses.
-Fico contente de te ter contado o plano todo – afirmou Fury para Thor.
-É, parece que isso salvou a minha vida – Loki revirou os olhos, voltando ao seu velho eu sarcástico.
-Devias estar agradecido – disse Fury duramente – a quantidade de pessoas que faz aquilo que a Bridget e o Thor fizeram por ti hoje é reduzida. Tu és uma pessoa cheia de sorte, Loki.
-Tenho a certeza que sim – ironizou ele, levando uma cotovelada da minha parte. Ele encarou-me furioso e eu não consegui deixar de sorrir maleficamente. Era bom sorrir depois de toda a ansiedade e fúria daquele dia.
-Então, espero mesmo que nos ajudes, Loki – disse Fury.
-Sinto-me honrado, não é todos os dias que me pedem ajuda. Primeiro, Thor, agora o Fury – virou-se para mim, o sorriso endiabrado a bailar-lhe os lábios – também me queres pedir ajuda, Bridget?
Revirei os olhos.
-Só espero que aceites esta oportunidade de te redimires. É a única que tens para escapares à tua sentença, Loki – afirmei.
-Então, eu devia agradecer a este novo perigo que ameaça Midgard? Por me ter dado a hipótese de me salvar? – perguntou Loki.
-Exatamente – concordei.
-E quem é esse perigo, afinal? – inquiriu Loki.
-O seu nome é Magneto – referiu Fury – os seus poderes baseiam-se no magnetismo e manipulação dos materiais. Tem um exército de mutantes consigo.
-Magnetismo? – Loki franziu o sobrolho, olhando de relance para mim.
-Fury acha que Magneto pode estar de alguma forma relacionado com a Bridget – disse Thor – ela é um ponto fulcral na derrota de Magneto, e tu também. Por isso gostava que deixasses o teu orgulho de lado e nos ajudasses, Loki – Thor olhou-o nos olhos – pela mãe.
Os olhos de Loki escureceram levemente.
-Vou pensar no assunto.
-Os pais confiaram em ti, Loki. Eu confiei em ti. Fury confiou em ti – disse Thor.
-Eu confiei em ti – sussurrei, esperando não me vir a arrepender do que acabara de dizer. Loki virou-se para mim, com um sorriso malicioso no rosto.
-O que é que disseste?
-Tu ouviste o que eu disse - cruzei os braços sob o peito, olhando em frente.
-Importas-te de o repetir? – pediu ele.
-Importo – asseverei.
-Então não nos desiludas, Loki – continuou Thor.
-Isso é uma grande responsabilidade que eu não sei se quero tomar – fez ver Loki.
-Preferes morrer? – instiguei. Vi-o engolir em seco.
-Onde vou ficar hospedado? – perguntou ele, desviando a conversa.
-No porta-aviões. Vamos dar-te um quarto, mas vais ficar com dois guardas à porta – declarou Fury – se não se importam, gostaria que fossem andando. Loki, não tentes fazer nenhum truque. Temos Heimdall, Thor, Bridget e vários guardas a vigiar-te. Um passo em falso e vais direitinho a Asgard, e sabes o que isso significa. Agora vão, vou chamar os restantes Vingadores para lhes contar todo o plano.
-Prepare-se para ouvir indignações, Fury – afirmei – eles não ficar nada contentes com o plano.
-Como super-heróis, o dever deles é lutar pela Terra, quer isso signifique que seja individualmente ou com Loki a ajudar. De qualquer maneira, por muito que a ideia de trabalharem com Loki lhes desagrade, não me parece que vão perder uma oportunidade para mostrarem o seu brilhantismo. Principalmente o Tony Stark.
Com isto, saímos os três do gabinete de Fury, enquanto o ouvíamos a chamar os outros Vingadores ao seu escritório pelos altifalantes. Fui até ao meu quarto, no porta-aviões, deixando Loki com Thor e os guardas. Estava cansada, mas contente por Loki não ter morrido. Agora só esperava que ele não fizesse asneira e desperdiçasse a sua oportunidade de redenção.
Eu queria mesmo que ele mudasse, quer fosse por razões pessoais ou profissionais.

*

No dia seguinte, sentia-me melhor. Já não estava nervosa relativamente ao julgamento de Loki nem à sua sentença, agora só sentia o peso da responsabilidade em cima dos meus ombros devido a Magneto. Fui até ao bar, onde encontrei Clint, Natasha e Steve.
-Então sabias do plano todo e não nos disseste nada, Bridget? – perguntou Steve assim que me viu.
-Olá também para ti – retorqui – eu não podia contar, não é? Era informação confidencial.
-O Steve sabe disso, só está chateado porque tu sabias mais do que ele – indagou Clint, com um sorriso na cara.
-Ou então porque o assunto estava relacionado com o Loki – alvitrou Natasha, recebendo um olhar de fúria por parte de Steve. Pedi uma sandes e juntei-me a eles.
-Ainda não acredito que o Loki nos vai ajudar - disse Steve - se é que vai.
-Pois. Mas se ele fizer asneira, nós damos conta do recado - declarou Natasha. Steve olhou para mim.
-Bridget, por favor, não te metas em confusões com ele. Ele é perigoso, e apesar de Fury o ter convocado, não confio no Loki.
-Não te preocupes, Steve. Vou ter cuidado.
Depois a tensão acerca de Loki desanuviou quando começámos a falar de assuntos mais interessantes como quando Natasha tinha embaraçado Tony com o pedido de casamento a Pepper. Passados alguns momentos, Maria Hill entrou no bar e chamou-me.
-O Fury quer que vás mostrar ao Loki o relatório sobre os teus poderes que mostraste aos outros – disse ela. Franzi o sobrolho.
-Isso não é perigoso? Considerando que é de Loki que estamos a falar…
-Eu sei, mas acho que a única hipótese que temos é confiar nele. É difícil e muito arriscado, mas o Thor conhece-o como ninguém e se ele diz que o Loki está mudado…
-O Loki não é propriamente pessoa de se confiar nem de se tirar suposições. Ele sabe enganar muito bem as pessoas – aludi.
-Tens razão, mas vai ter que ser. Boa sorte, Bridget - desejou ela.
Encaminhei-me pelos corredores do porta-aviões, indo buscar a pasta de documentos ao meu quarto. Esquecera-me de perguntar a Maria onde estava Loki. Não sabia onde podia encontrá-lo, mas isso não foi problema. Ele fê-lo por mim.
-À procura de alguém, Bridget? – perguntou ele, aparecendo à minha frente numa esquina.
-Tinhas de acertar pelo menos uma vez, não é? – sorri eu, um sorriso irónico – sim, estou, Loki. Tenho de te mostrar isto.
Acenei com a pasta em frente aos olhos dele.
-Tens a certeza que confias em mim? – sorriu ele, escusado será dizer que tipo de sorriso.
-Não, mas não é como se tivesse muitas opções. Sim, tenho consciência de que te estou a dar a forma mais fácil de descobrires os meus pontos fracos e sim, tenho consciência de que podes vir a usar isto contra mim e sim, também tenho consciência de que é provável que te juntes a Magneto em vez de a nós, mas…
-Eu não me vou juntar a Magneto – interrompeu-me ele, o olhar a endurecer.
-E porque não? – inquiri. Ele olhou-me bem fundo nos olhos, provocando arrepios no meu corpo.
-Porque não vou cometer o mesmo erro duas vezes.
Engoli em seco. O azul-esverdeado dos seus olhos parecia tão certo, tão verdadeiro… mas continuava reticente em acreditar nele. Era difícil confiar no Deus do Prejuízo.
Pessoas como o Loki nunca mudam, tinham sido as palavras de Steve.
-Espero que não, Loki – afirmei, respirando fundo – bom, aqui está…
Estendi-lhe a capa com documentos, que eram apenas uma fotocópia do documento original, mas depois reconsiderei.
-Pensando bem, é melhor ficar de olho em ti. Vigiar-te, quero dizer.
-A querer passar mais algum tempo comigo, Bridget? – provocou ele. Revirei os olhos.
-Sim, pois, querias – argumentei.
-Vocês parecem dois adolescentes – disse uma voz atrás de nós. Era Tony – sempre a picarem-se um ao outro.
-Olha quem fala – sorri eu.
-Eu deixo-vos continuarem a namor… a trabalhar – sorriu Tony, piscando o olho e indo embora. Ignorei aquilo que ele ia dizer, abrindo as portas de uma sala de reuniões que eu sabia estar a ser vigiada, caso Loki tentasse alguma coisa.
-A sala vazia é para estarmos mais à vontade, Bridget? – inquiriu Loki. Sem pensar, dei-lhe uma estalada na cara. Ele piscou os olhos por um momento, mas depois o sorriso regressou à sua cara. Talvez eu tivesse exagerado, mas os seus comentários provocatórios já me estavam a irritar.

*

Ponto de vista de Loki

-A sala vazia é para estarmos mais à vontade, Bridget? – instiguei, mas mal tive tempo para pensar pois ela pregou-me uma estalada. Ok, talvez eu tenha merecido, mas um único pensamento me passou pela cabeça quando ela me bateu: quanto mais me bates mais eu gosto de ti. Claro que esse pensamento não se enquadrava na situação. Eu não gostava dela, ela não gostava de mim. Ponto.
-Desculpa se toquei num ponto fraco – sorri eu. Pensei que ela me fosse bater novamente, mas limitou-se a suspirar e a sentar-se numa das cadeiras da longa mesa de reuniões.
-Então, a primeira coisa que devias saber sobre os meus poderes é que eu não sei quão poderosos são – começou ela. Sentei-me em frente a Bridget e ela prosseguiu - não conheço as suas limitações, pois nunca o testei o suficiente.
-E agora parece que é tarde demais para isso – referi. Ela acenou com a cabeça.
-Sim, é… mais ou menos isso. Todavia, não tenho tempo para os testar, pelo que vou ter que confiar nas minhas capacidades – Bridget fixou os olhos nos meus, chamas de poder a dançar no seu olhar – agora, Loki, se tu tentas, de alguma forma, usar estas informações contra mim ou contra qualquer outra pessoa que não o inimigo, eu juro que…
-Não o vou fazer, eu disse-te – interrompi-a.
-Pela tua sanidade, é melhor que não – finalizou ela, as chamas continuando a dançar no verde dos seus olhos. 

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