quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Verdade ou Consequência

Estava a acabar de me vestir para sair, naquele dia à noite, quando alguém bateu à porta do meu quarto.
-Quem é? – perguntei.
-Steve – respondeu uma voz. Mordi o lábio inferior. Não queria estragar a nossa relação amigável, mas ele parecia distante. Abri a porta e ele deixou-se ficar ao pé dela, sendo um cavalheiro e não entrando por ali adentro. Era estranho pensar que ele tinha estado “congelado” no tempo.
-Estou pronta. Vamos?- questionei e ele assentiu. Um silêncio incómodo instalou-se entre nós durante toda a viagem de helicóptero até à cidade, eu a fixar o mar escuro pela janela.
-Steve… - comecei, quando saímos do heliporto instalado na base terrestre da S.H.I.E.L.D. e um táxi nos levou até ao centro de Nova Iorque.
-Sim? – perguntou ele.
-O que é que se passa? Quer dizer... tens estado estranho… muito calado… desde… desde que regressei de Asgard.
Saíramos do táxi e caminhávamos agora por Nova Iorque, iluminada e mesmo assim cheia de pessoas. Steve suspirou.
-É só que… não consigo perceber como é que depois de tudo o que o Loki fez ainda o queres ajudar.
Por momentos, pensei que Steve soubesse do plano de Fury de “usar” Loki para se redimir, embora eu soubesse que Fury não estava preocupado com Loki, mas sim interessado na ajuda que ele nos poderia dar contra Magneto e o seu exército de mutantes. Mas depois percebi que Steve se referia ao Tesseract e em como eu interrompera o julgamento para ajudar Loki.
-Acho que nem eu própria sei – acabei por dizer.
-E também não percebo porque… porque é que aquele tal de Klaus te levou a ti em vez de alguém que fosse mais importante para Loki.
-Eu sou mais fácil de apanhar do que o Thor ou do que membros da família real de Asgard, não? – referi.
-Sim, mas mesmo assim… Klaus não teria interesse em ti se… se Loki também não tivesse.
Esforcei-me para não corar, embora isso fosse algo que eu não pudesse controlar.
-Duvido – afirmei, tentando demovê-lo daquela ideia.
-É o que te digo, Bridget. Não sei porquê, mas Loki tem alguma espécie de interesse em ti… e só espero que esse interesse não te acabe por magoar. Não podes confiar nele, Bridget. Pessoas como o Loki nunca mudam. Ele pode acabar por te magoar a sério.
As palavras dele atingiram-me como lâminas. Ele tinha razão, mas eu não queria acreditar. E não sabia porquê, porque eu própria o admitira, que ele nunca mudaria… mas no fundo do meu ser ainda havia esperança…
-Eu sei tomar conta de mim – declarei.
-Foram precisos seis super-heróis para o derrotar, Bridget – alegou Steve, olhando-me com preocupação.
-A ele e ao seu exército – completei.
-Só não quero que te magoes.
-Eu agradeço-te, Steve, mas…
-E aí estão vocês! – exclamou uma voz que me interrompeu – finalmente!
Era Tony, que saía pela porta de um bar. Olhei para cima, vendo “Chick ‘n’ Rolls” escrito a letras berrantes. Havia mais bares ao lado e montes de gente veio a correr ter com Steve e Tony, pedindo-lhes autógrafos como fossem estrelas de música ou cinema. Mas depois lembrei-me. Eram super-heróis que haviam salvo o mundo. De Loki e do seu exército.
Bolas, Steve tinha razão.
Alguém me puxou para dentro do bar, salvando-me de sufocar entre aqueles fãs. Era Clint e dentro do bar já estavam Bruce e Natasha. Havia mais alguns agentes da S.H.I.E.L.D por ali e os barmans, mas mais nada. Extravagâncias dos Vingadores e da S.H.I.E.L.D. Reservar um bar inteiro apenas para os Vingadores e para os agentes.
-Obrigada – agradeci eu e Clint sorriu levemente.
-O Steve deve vir aí, mas não sei se conseguimos arrancar o Tony dos flashes e dos autógrafos – mencionou Clint. O bar era agradável, com cadeiras, cadeirões, pufes, duas grandes televisões, um balcão longo e inúmeras bebidas. Em que é que eu me ia meter?
Steve entrou no bar, arrastando Tony com ele, despedindo-se delicadamente dos fãs e fechando a porta do bar.
-Yannis, traz-nos uma rodada, por favor! – gritou Tony quando entrou e o barman acedeu.
-Uma rodada de quê? – interroguei.
Tony olhou-me como se fosse óbvio.
-Uísque, claro.
-Eu não quero embebedar-me – disse firmemente, embora tenha acrescentado mentalmente “mas se calhar isso ajudava-me a não pensar no julgamento de Loki amanhã”.
-Um shot ou dois não fazem mal a ninguém, Bridget – reclamou Tony – não sejas cortes.
Entretanto, o barman pousou as bebidas numa mesa recostada, que estava rodeada por sofás. Natasha, Bruce, Clint e Steve sentaram-se, tirando cada um um pequeno copo com uísque.
-Não me parece…
-Finalmente! – exclamou Tony. Virei-me, vendo uma mulher loura a sair do que pareciam ser as casas-de-banho.
-Não demorei assim tanto tempo, Tony – sorriu ela.
-Pepper… - ele sorriu também. Depois olhou para mim – Pepper, esta é a Bridget. Bridget, é a Pepper.
-Olá – cumprimentei, apertando-lhe a mão.
-Então, foste tu que puseste o Loki nos eixos – sorriu ela calorosamente. Quase podia ver Steve a revirar os olhos, atrás de mim.
-Não me parece que isso alguma vez vá acontecer – declarei, delicadamente.
-Vamos jogar ao “Verdade ou Consequência”! – berrou Tony subitamente, sentando-se com Pepper no sofá.
-Não seremos demasiado velhos para isso? – perguntou Bruce.
-A infância é o reino onde ninguém morre – declarou Tony solenemente. Bruce arqueou uma sobrancelha.
-Então, eu começo – disse Natasha, sorrido com um ar matreiro para Tony – Stark. Verdade ou consequência?
-Consequência! – exclamou ele.
-Muito bem. A primeira hipótese que te dou é ficares de boca calada o resto da noite – disse Natasha, o seu sorriso a aumentar à medida que a expressão de Tony entristecia – ou então podes falar mas não bebes mais. A terceira opção é pedires a Pepper em casamento.
Todos abrimos a boca, boquiabertos. Pepper e Tony trocaram olhares desconfortáveis.
-Eu não… eu não estou… preparado... para… isso.  – gaguejou Tony.
-O quê, ficares sem beber o resto da noite? – riu Natasha – tu escolhes, Tony.
-Eu não tenho nenhum anel – admitiu Tony, sorrindo por ter encontrado uma desculpa.
-Apenas pergunta – ripostou Natasha.
-Não acho que seja uma boa ideia – interferiu Pepper.
-É, eu fico sem beber o resto da noite – concordou Tony, engolindo em seco, os olhos parados sobre os copos na mesa.
-Não acredito, mas ok – alegou Natasha – é a tua vez.
Tony e Pepper suspiraram de alívio. Depois, Tony virou-se para Steve, sorrindo.
-Rogers, verdade ou consequência?
-Verdade – respondeu ele, temendo o que aí vinha.
-Vais arrepender-te de ter dito verdade – declarou Clint.
-É verdade, Steve, que és um velho virgem?
Steve engasgou-se, e eu esforcei-me por conter o riso.
-Eu não vou responder a isso – sibilou ele entre deles.
-Tomo isso como um sim – afirmou Tony, sob o olhar furioso de Steve – é a tua vez, Capitão.
Steve olhou de soslaio para Tony, a sua cara a virar-se para mim. Senti-me nervosa. Quase que podia adivinhar o que aí vinha.
-Bridget… verdade ou consequência?
-Consequência – respondi e Steve pareceu frustrado com a minha resposta.
-Então tens de…  atingir com raios eletromagnéticos o Tony durante dez minutos, ou atingi-lo com ondas magnéticas ou com choques.
-Ei, isso vai magoar-me! – protestou Tony.
-Tu mereces – replicou Steve. Cruzei os braços sob o peito.
-Bom, eu não vou fazer isso.
-Ótimo. Então, verdade – disse Steve e eu sabia que tinha sido esse o seu objetivo desde o início - Bridget, tens de dizer-nos a verdade sobre o que se passa realmente entre ti e o Loki.
Engoli em seco, sentindo os olhares de todos, não só dos Vingadores, mas também de Pepper, dos agentes da S.H.I.E.L.D e dos funcionários do bar, cravados em mim.
-Não se passa nada entre mim e o Loki, Steve – declarei num tom seco.
-Estou a pedir-te para dizeres a verdade – Steve enfrentou-me com o olhar e o azul-esverdeado do seu olhar fez-me lembrar o de Loki, que por sua vez me relembrou do julgamento que aconteceria amanhã e do qual eu não deveria ter conhecimento.
-E eu estou a dizer a verdade - susti o seu olhar, esperando não corar – só porque o ajudei, não quer dizer que se passe… algo entre nós. Não quer dizer que eu seja má pessoa em o ajudar. Só fiz o que achei correto, que foi provar a verdade. Se Loki estava realmente a ser controlado por algo exterior, tinha o direito de ter isso a seu favor no julgamento.
Steve olhou-me com olhos profundos, como se estivesse a analisar o que eu dissera e a minha reação. Tentei comportar-me de forma normal e convencer-me que aquilo que acabara de dizer era a única razão pela qual eu o ajudara. Mas, perdida naquele azul-esverdeado dos olhos de Steve que me lembravam os de Loki, não conseguia ter a certeza disso, nem se havia mais alguma coisa por detrás da súbita vontade de o ilibar. 

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