Estava a acabar de
me vestir para sair, naquele dia à noite, quando alguém bateu à porta do meu
quarto.
-Quem é? –
perguntei.
-Steve – respondeu
uma voz. Mordi o lábio inferior. Não queria estragar a nossa relação amigável,
mas ele parecia distante. Abri a porta e ele deixou-se ficar ao pé dela, sendo um
cavalheiro e não entrando por ali adentro. Era estranho pensar que ele tinha
estado “congelado” no tempo.
-Estou pronta.
Vamos?- questionei e ele assentiu. Um silêncio incómodo instalou-se entre nós
durante toda a viagem de helicóptero até à cidade, eu a fixar o mar escuro pela
janela.
-Steve… - comecei,
quando saímos do heliporto instalado na base terrestre da S.H.I.E.L.D. e um
táxi nos levou até ao centro de Nova Iorque.
-Sim? – perguntou
ele.
-O que é que se
passa? Quer dizer... tens estado estranho… muito calado… desde… desde que
regressei de Asgard.
Saíramos do táxi e
caminhávamos agora por Nova Iorque, iluminada e mesmo assim cheia de pessoas.
Steve suspirou.
-É só que… não
consigo perceber como é que depois de tudo o que o Loki fez ainda o queres
ajudar.
Por momentos, pensei
que Steve soubesse do plano de Fury de “usar” Loki para se redimir, embora eu
soubesse que Fury não estava preocupado com Loki, mas sim interessado na ajuda
que ele nos poderia dar contra Magneto e o seu exército de mutantes. Mas depois
percebi que Steve se referia ao Tesseract e em como eu interrompera o
julgamento para ajudar Loki.
-Acho que nem eu
própria sei – acabei por dizer.
-E também não
percebo porque… porque é que aquele tal de Klaus te levou a ti em vez de alguém
que fosse mais importante para Loki.
-Eu sou mais fácil
de apanhar do que o Thor ou do que membros da família real de Asgard, não? –
referi.
-Sim, mas mesmo
assim… Klaus não teria interesse em ti se… se Loki também não tivesse.
Esforcei-me para não
corar, embora isso fosse algo que eu não pudesse controlar.
-Duvido – afirmei,
tentando demovê-lo daquela ideia.
-É o que te digo,
Bridget. Não sei porquê, mas Loki tem alguma espécie de interesse em ti… e só
espero que esse interesse não te acabe por magoar. Não podes confiar nele, Bridget.
Pessoas como o Loki nunca mudam. Ele pode acabar por te magoar a sério.
As palavras dele
atingiram-me como lâminas. Ele tinha razão, mas eu não queria acreditar. E não
sabia porquê, porque eu própria o admitira, que ele nunca mudaria… mas no fundo
do meu ser ainda havia esperança…
-Eu sei tomar conta
de mim – declarei.
-Foram precisos seis
super-heróis para o derrotar, Bridget – alegou Steve, olhando-me com
preocupação.
-A ele e ao seu
exército – completei.
-Só não quero que te
magoes.
-Eu agradeço-te,
Steve, mas…
-E aí estão vocês! –
exclamou uma voz que me interrompeu – finalmente!
Era Tony, que saía
pela porta de um bar. Olhei para cima, vendo “Chick ‘n’ Rolls” escrito a letras
berrantes. Havia mais bares ao lado e montes de gente veio a correr ter com
Steve e Tony, pedindo-lhes autógrafos como fossem estrelas de música ou cinema.
Mas depois lembrei-me. Eram super-heróis que haviam salvo o mundo. De Loki e do
seu exército.
Bolas, Steve tinha
razão.
Alguém me puxou para
dentro do bar, salvando-me de sufocar entre aqueles fãs. Era Clint e dentro do
bar já estavam Bruce e Natasha. Havia mais alguns agentes da S.H.I.E.L.D por
ali e os barmans, mas mais nada. Extravagâncias dos Vingadores e da
S.H.I.E.L.D. Reservar um bar inteiro apenas para os Vingadores e para os
agentes.
-Obrigada – agradeci
eu e Clint sorriu levemente.
-O Steve deve vir
aí, mas não sei se conseguimos arrancar o Tony dos flashes e dos autógrafos –
mencionou Clint. O bar era agradável, com cadeiras, cadeirões, pufes, duas
grandes televisões, um balcão longo e inúmeras bebidas. Em que é que eu me ia meter?
Steve entrou no bar,
arrastando Tony com ele, despedindo-se delicadamente dos fãs e fechando a porta
do bar.
-Yannis, traz-nos
uma rodada, por favor! – gritou Tony quando entrou e o barman acedeu.
-Uma rodada de quê?
– interroguei.
Tony olhou-me como
se fosse óbvio.
-Uísque, claro.
-Eu não quero
embebedar-me – disse firmemente, embora tenha acrescentado mentalmente “mas se
calhar isso ajudava-me a não pensar no julgamento de Loki amanhã”.
-Um shot ou dois não
fazem mal a ninguém, Bridget – reclamou Tony – não sejas cortes.
Entretanto, o barman
pousou as bebidas numa mesa recostada, que estava rodeada por sofás. Natasha,
Bruce, Clint e Steve sentaram-se, tirando cada um um pequeno copo com uísque.
-Não me parece…
-Finalmente! –
exclamou Tony. Virei-me, vendo uma mulher loura a sair do que pareciam ser as
casas-de-banho.
-Não demorei assim
tanto tempo, Tony – sorriu ela.
-Pepper… - ele
sorriu também. Depois olhou para mim – Pepper, esta é a Bridget. Bridget, é a
Pepper.
-Olá – cumprimentei,
apertando-lhe a mão.
-Então, foste tu que
puseste o Loki nos eixos – sorriu ela calorosamente. Quase podia ver Steve a
revirar os olhos, atrás de mim.
-Não me parece que
isso alguma vez vá acontecer – declarei, delicadamente.
-Vamos jogar ao
“Verdade ou Consequência”! – berrou Tony subitamente, sentando-se com Pepper no
sofá.
-Não seremos
demasiado velhos para isso? – perguntou Bruce.
-A infância é o
reino onde ninguém morre – declarou Tony solenemente. Bruce arqueou uma
sobrancelha.
-Então, eu começo –
disse Natasha, sorrido com um ar matreiro para Tony – Stark. Verdade ou
consequência?
-Consequência! –
exclamou ele.
-Muito bem. A
primeira hipótese que te dou é ficares de boca calada o resto da noite – disse Natasha,
o seu sorriso a aumentar à medida que a expressão de Tony entristecia – ou
então podes falar mas não bebes mais. A terceira opção é pedires a Pepper em
casamento.
Todos abrimos a
boca, boquiabertos. Pepper e Tony trocaram olhares desconfortáveis.
-Eu não… eu não
estou… preparado... para… isso. – gaguejou Tony.
-O quê, ficares sem
beber o resto da noite? – riu Natasha – tu escolhes, Tony.
-Eu não tenho nenhum
anel – admitiu Tony, sorrindo por ter encontrado uma desculpa.
-Apenas pergunta –
ripostou Natasha.
-Não acho que seja
uma boa ideia – interferiu Pepper.
-É, eu fico sem
beber o resto da noite – concordou Tony, engolindo em seco, os olhos parados
sobre os copos na mesa.
-Não acredito, mas
ok – alegou Natasha – é a tua vez.
Tony e Pepper
suspiraram de alívio. Depois, Tony virou-se para Steve, sorrindo.
-Rogers, verdade ou
consequência?
-Verdade – respondeu
ele, temendo o que aí vinha.
-Vais arrepender-te
de ter dito verdade – declarou Clint.
-É verdade, Steve,
que és um velho virgem?
Steve engasgou-se, e
eu esforcei-me por conter o riso.
-Eu não vou
responder a isso – sibilou ele entre deles.
-Tomo isso como um
sim – afirmou Tony, sob o olhar furioso de Steve – é a tua vez, Capitão.
Steve olhou de
soslaio para Tony, a sua cara a virar-se para mim. Senti-me nervosa. Quase que
podia adivinhar o que aí vinha.
-Bridget… verdade ou
consequência?
-Consequência –
respondi e Steve pareceu frustrado com a minha resposta.
-Então tens de… atingir com raios eletromagnéticos o Tony
durante dez minutos, ou atingi-lo com ondas magnéticas ou com choques.
-Ei, isso vai
magoar-me! – protestou Tony.
-Tu mereces –
replicou Steve. Cruzei os braços sob o peito.
-Bom, eu não vou
fazer isso.
-Ótimo. Então,
verdade – disse Steve e eu sabia que tinha sido esse o seu objetivo desde o
início - Bridget, tens de dizer-nos a verdade sobre o que se passa realmente
entre ti e o Loki.
Engoli em seco,
sentindo os olhares de todos, não só dos Vingadores, mas também de Pepper, dos
agentes da S.H.I.E.L.D e dos funcionários do bar, cravados em mim.
-Não se passa nada
entre mim e o Loki, Steve – declarei num tom seco.
-Estou a pedir-te
para dizeres a verdade – Steve enfrentou-me com o olhar e o azul-esverdeado do seu
olhar fez-me lembrar o de Loki, que por sua vez me relembrou do julgamento que
aconteceria amanhã e do qual eu não deveria ter conhecimento.
-E eu estou a dizer
a verdade - susti o seu olhar, esperando não corar – só porque o ajudei, não
quer dizer que se passe… algo entre nós. Não quer dizer que eu seja má pessoa
em o ajudar. Só fiz o que achei correto, que foi provar a verdade. Se Loki
estava realmente a ser controlado por algo exterior, tinha o direito de ter
isso a seu favor no julgamento.
Steve olhou-me com
olhos profundos, como se estivesse a analisar o que eu dissera e a minha
reação. Tentei comportar-me de forma normal e convencer-me que aquilo que
acabara de dizer era a única razão pela qual eu o ajudara. Mas, perdida naquele
azul-esverdeado dos olhos de Steve que me lembravam os de Loki, não conseguia
ter a certeza disso, nem se havia mais alguma coisa por detrás da súbita
vontade de o ilibar.
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