terça-feira, 29 de julho de 2014

Despedida

Fiquei uma semana na enfermaria a recuperar. Todos me foram visitar, até Loki. Ele foi ver-me quando pensou que eu estava a dormir, mas eu ainda estava acordada. Ele não disse nada, limitou-se a sentar-se no banco ao pé da minha cama e a pegar-me na mão. Tive de me controlar e fingir que estava a dormir, mas a sensação que o toque da mão dele provocava em mim era difícil de ignorar. 
Depois de sair da enfermaria fui autorizada a regressar a minha casa para organizar umas coisas, mas depois tive de voltar à S.H.I.E.L.D para ir falar com Fury. 
Sabia que as grandes organizações, muitas delas secretas, e os governos estavam de olho em mim. Não me conheciam e de um momento para o outro eu revelara-me capaz de destruir um vilão tão poderoso como Magneto. Não sabiam se eu era uma aliada ou se poderia vir a ser uma ameaça.
-Entre, Bridget - ouvi a voz de Fury antes de eu bater na porta da sala de reuniões. Lá dentro estavam Fury, Maria Hill e os Vingadores. Sorriram-me quando me viram, já recuperada da esgotante batalha com Magneto. 
-Olá, Magnum - gozou Tony enquanto eu me sentava. Deitei-lhe um olhar de desprezo, mas era só a brincar. Não desgostava da alcunha.
-Deixemo-nos de gracinhas, Stark - pediu Fury - há coisas mais importantes a tratar. 
E o que aconteceu a seguir foi algo totalmente inesperado. Vi Fury a piscar o olho e depois todos (que reparei que estavam a vestir casacos), correram os fechos revelando camisolas azuis, cada uma com uma palavra. Em conjunto, formavam a frase "Gostarias de fazer parte dos Vingadores, Bridget?". Abri a boca de espanto. Não esperava que me convidassem, muito menos daquela forma.
-Como é que raio convenceram o Fury a fazer isso? - perguntei eu em vez de dizer logo que sim.
-Eu consigo ser bastante persuasivo - riu Tony.
-Então, o que dizes?  - perguntou Steve.
-Claro que sim! - respondi - mas acham que estou à altura?
-Não, Bridget, alguém que conseguiu derrotar Magneto não está à nossa altura - riu Thor - claro que estás!
-Bem-vinda! - exclamaram os outros.
Eu não conseguia acreditar. Era uma Vingadora, agora! Fazia parte da equipa de super-heróis mais poderosa da Terra! 

*

Era estranho andar agora pelas ruas de Nova Iorque. As pessoas reconheciam-me, iam pedir-me autógrafos ou fotos, como se eu fosse uma celebridade. Eu não gostava dessa atenção toda, sendo mais parecida com Steve do que com Tony nesse (e muitos outros) aspetos. 
Em relação a Loki, eu não falara muito com ele desde que saíra da enfermaria. Acho que ele estava a ser interrogado pela S.H.I.E.L.D a maior parte do tempo. Eu queria ir falar com ele, mas não conseguia. Ou então tinha medo. As palavras de Natasha ecoavam na minha mente. Eu não o amava. Eu não podia… mas o amor também não pedia permissão. Acontecia. E quando nos apercebíamos de que caíramos na sua teia, era tarde demais. Seria isso que estava a acontecer comigo? 
Na véspera de Loki e Thor partirem para Asgard de forma a que Loki cumprisse a sua sentença, tomei coragem e fui falar com ele. Ele estava instalado no porta-aviões da S.H.I.E.L.D, que ainda estava aterrado, e eu, como não tinha mais missões, ia dormir a minha casa todos os dias. Mas nesse dia deixei-me ficar mais tarde no Triskelion e vi-o a passear pelos jardins lá perto. Estava uma noite estrelada e pacífica.
-Olá, Loki – disse eu.
-Bridget – cumprimentou ele. Ficámos em silêncio durante mais algum tempo, sem saber o que dizer, apenas a caminhar com a brisa fresca a bater-nos na cara, até que ele quebrou o gelo.
-Pedi ao Thor para não te convidar para ires para Asgard. Seria egoísta da minha parte se fosses, quando tens a tua vida toda aqui.
-Bem, também nada te diria que eu aceitasse – afirmei, friamente.
-Também tens razão. Acho que isso é apenas mais uma das coisas arrogantes e egoístas que fiz. Tu nunca virias para Asgard comigo.
Engoli em seco, o coração a bater depressa.
-Por isso é que tenho de fazer isto contigo, Bridget – continuou Loki – não posso ser egoísta contigo. E talvez tudo o que eu vá dizer a seguir vá ser também egoísta, mas se estiver certo, e tu te importares comigo… então, eu tenho de te deixar ir. Não posso deixar que fiques há minha espera, tens de viver a vida. Não quero que me visites em Asgard. Talvez seja tolice minha pensar que o farias. Não sabes o quanto agradeço tudo o que fizeste por mim, mesmo que eu não tenha merecido nada disso. Não mereço a tua amizade, Bridget. E é por isso que temos de seguir caminhos separados.
-É isso mesmo que queres? – foi tudo o que consegui dizer. Loki fitou os meus olhos.
-Tem de ser assim, Bridget. Não percebes? Nunca poderemos estar juntos. Tu mereces alguém muito melhor que eu. Talvez te estejas a rir por eu pensar que sentes o mesmo que eu, mas… eu quero acreditar que sim. E se tu sentires o mesmo que eu então sabes que não podemos estar juntos e que tu mereces toda a felicidade do mundo e que nunca serei eu a poder dar-ta. Precisas de me deixar ir.
-Dir-me-ias tudo isso se eu não tivesse vindo aqui hoje? – perguntei. Ele não respondeu. Eu suspirei. Acho que foi nesse momento que tomei total consciência do que sentia por Loki. Todas as indiretas, tudo aquilo que me tinham dito sobre gostarmos um do outro, tudo o que e Loki tínhamos vivido, fez sentido nesse momento.
-Tens razão numa coisa. Não estás a ser egoísta ou arrogante em pensares que eu sinto o mesmo por mim, Loki, porque a verdade é que o sinto! Se o que sentes é amor… então também eu sinto isso. E eu não queria que tivesse acontecido, mas aconteceu. Mas não concordo contigo quando dizes que o melhor é deixares-me ir. Só te interessa o que é melhor para ti? Não te importas com o que eu penso?
-O que é melhor para mim é o que é melhor para ti, Bridget. Nós não pertencemos juntos.
-Tudo bem! Como queiras. Tu vais para Asgard e eu continuo com a minha vida. Eu faço isso. Mas não me peças para te esquecer. Posso deixar-te ir, mas nunca ignorar o que se passou.
-Não te pedi isso. Eu também nunca esquecerei o que fizeste por mim, mesmo quando não tinhas que o fazer. De qualquer maneira, se eu não tivesse cometido todos os crimes horríveis que cometi, continuaria a ser imortal. E tu não.   
-Achas que vou conseguir ultrapassar-te? – perguntei, insegura.
-És mais corajosa do que pensas. Bridget, eu quero que sigas em frente e que fiques com alguém que te mereça, alguém que te faça sempre feliz.
-E nunca te passou pela cabeça que essa pessoa pudesses ser tu? – questionei em voz débil.
-Eu gostaria que sim. Mas ambos sabemos que isso não é possível. Não da forma como sou.
-Farei o que dizes. Adeus, Loki.
Virei-me, mas ele segurou-me gentilmente no pulso.
-Desculpa se isto vai soar a mais egoísmo da minha parte, mas tenho de ser eu a partir primeiro.
-Porquê? – interroguei, os olhos dele fixados nos meus.
-Porque não suporto ver-te afastares-te de mim.
E depois ele aproximou a sua cara da minha, os nossos olhos a fitarem-se mutuamente. Senti os lábios dele tocarem os meus ao de leve, enviando arrepios quentes por todo o meu corpo, enquanto o meu coração me batia forte no peito.
-Obrigada por tudo, Bridget Robinson. Fizeste de mim uma pessoa melhor.
Com isto, passou por mim e foi-se embora, deixando-me especada, sozinha na noite, uma lágrima a correr-me pela cara quando percebi que aquele momento fora o último. 

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