sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Amor

Quando a minha mão bateu na sua cara, percebi que desta vez era a sério. Era real, não uma qualquer ilusão de ótica, não uma alucinação. Loki estava realmente diante de mim. Tínhamos acabado de nos envolver, ele tinha acabado de me enganar e eu tinha acabado de lhe bater.
-Lá se vai o meu último truque de magia – disse Loki, a voz que eu tanto tentara esquecer e ao mesmo tempo tanto tentara relembrar.
-Que é que estás aqui a fazer? E porque é que acabaste de te passar pelo Alexio? – perguntei, completamente confusa.
Não sabia como era possível Loki esboçar um sorriso sarcástico naquelas circunstâncias.
-Bridget, nunca houve o Alexio. Ele não existe. Todo este tempo… era eu. Disfarçado.
-O quê?
-É verdade. Confesso que fico contente por teres sido tão resistente ao charme “dele”, mas vejo que nem tu conseguiste resistir.
-És maluco! Como é que pudeste!? E porquê?
Ao ver-me tão desamparada, confusa e magoada, a expressão de Loki suavizou-se. E mesmo sem admitir, continuava a adorar o efeito que tinha sobre ele.
-Não estás a enlouquecer, Bridget – afirmou Loki, como se me lesse a mente – todas aquelas vezes… em Londres, em Tóquio… em Melbourne… todas aquelas vezes que julgaste ver-me, que achaste que estavas a endoidecer, era eu, Bridget. Era eu, lá da cela em Asgard, a projetar ilusões em Midgard, para me certificar de que estavas bem.
Aquilo apanhou-me desprevenida. A revelação de que não só não estava doida como também Loki usara o seu poder para se certificar de que eu estava bem era aterradora. Estranhamente, não desconfiei dele. Acho que a nossa relação há muito já passara do ponto da desconfiança. Agora sabia que ele faria tudo isto por mim. Mas isso não tornava nada disto mais fácil.
-E porque é que “criaste” o Alexio? E és mesmo tu, agora? Não és uma ilusão?
Loki sorriu. Mas desta vez foi um sorriso verdadeiro.
-Se eu fosse uma ilusão, esta ter-se-ia desvanecido com a tua bofetada. Sou real, Bridget. Sim, tu acabaste de me beijar, mesmo.
Revirei os olhos.
-Passei estes dois últimos anos fechado numa cela em Asgard. A minha mãe… visitou-me muitas vezes. O Thor também.
Fiquei contente com o facto de Loki chamar “mãe” a Frigga.
-Não penses que não foi difícil. Foi aterrador. Estava assustado. Era insuportável ter de passar todos aqueles dias na cela, sem… sem te poder ver. Sem te ter comigo. A única coisa que me mantinha são, além das visitas da minha família, eras tu. Pensar que um dia sairia daquele lugar para te voltar a ver. Acho que me fizeste descobrir a esperança, Bridget. Foste o que manteve a minha sanidade.
Engoli a emoção e forcei-me a falar com uma voz firme.
-Isso não explica o facto de aqui estares.
-Acho que tinhas razão. Descobri que há pessoas, além de ti, que ainda se preocupam comigo. A minha mãe e o Thor, por exemplo. Viram que estava lentamente a enlouquecer naquele lugar, sabiam que não ia aguentar muito mais tempo sem ti. E levar-te para Asgard não era uma opção, nem eu queria isso. Então fizeram algo que eu sei que nunca serei capaz de retribuir, algo que eu sei que não mereço. Foram falar com Odin. Moveram montanhas para o convencer. Ele gosta demasiado do Thor e da minha mãe, por isso acedeu. Deixou-me ir embora da prisão, deixou-me regressar a Midgard, mas com uma condição. Estou privado dos meus poderes. Odin tirou-mos. Esta ilusão com o Alexio foi a minha última. Confesso que, para último truque, foi bastante bom.
Revirei os olhos, mas não disse nada. Estava demasiado comovida e surpreendida com o facto de Loki ter preferido vir para a Terra sem o seus poderes do que ficar em Asgard com eles. E tudo por mim.
-A minha mãe e Thor vêm visitar-me. Heimdall está constantemente a vigiar-me. Odin quer que me misture com os humanos. Vai ser difícil, sendo eu considerado o maior inimigo da Terra.
-Podes sempre fazer como eu – declarei.
-Eu sei. Pintaste o cabelo - observou Loki. Depois hesitou por um segundo – preferia-te loira.
Não respondi, pelo que Loki prosseguiu:
-Estar aqui, sem poderes, é, segundo Odin, como vir cumprir o resto da minha sentença em Midgard. Mas estar contigo nunca será uma sentença.
Desviei os olhos dos dele.
-Passaram-se dois anos, Loki. Dois anos sem ter qualquer notícia de ti, dois anos a tentar esquecer-te, a evitar pensar em ti, ainda que fosse inevitável. Odeio-te por não me teres dito que eras tu, por não me teres garantido que não estava a ficar louca, de todas aquelas vezes que pensei que te via. Odeio-te por me teres feito sofrer tanto, por me teres enganado, por te aproveitares!
Loki olhou-me com tal tristeza que julguei não poder continuar. Mas prossegui.
-Odeio-te por me teres feito apaixonar por ti, odeio-te por tudo o que passei por tua causa, mas acima de tudo, a única razão porque te odeio é porque te amo! E odeio como te amo, e ao mesmo tempo não odeio. Ao mesmo tempo sei que não me arrependo, porque isto, o que nós temos, é a coisa mais feliz que já me aconteceu na vida. Porque és tu a pessoa que me faz sentir mais viva, porque és tu em quem eu estou sempre a pensar, porque no final do dia foste tu que estiveste lá para mim… e porque sei que, apesar de tudo, foste a melhor coisa que já me aconteceu na vida.
Já não conseguia controlar, as lágrimas escorriam-me pela cara abaixo. Mas eu não me importava. Tudo o que dissera era a mais pura das verdades, sempre o soubera. E agora conseguira admiti-lo, não só a mim, mas a Loki. Não sabia como era possível amar alguém que já causara tanto mal, mas amava. Porque ele tinha mostrado o lado bom, de uma forma indireta ou não.
Loki aproximou-se, a sua mão fria a limpar-me as lágrimas, a testa dele a tocar na minha, os nossos narizes quase a tocarem-se, como quando ele era Alexio.
-Tu sabes que eu não te mereço, que nunca te merecerei.
Desencostei a minha testa da dele.
-Não te tentes convencer que só há maldade em ti, Loki, porque eu já vi a bondade. Vi como lutaste por mim, como me salvaste do Klaus, como nos ajudaste a enfrentar Magneto… vi a tua preocupação e o teu carinho, não só por mim, mas por Frigga e Thor. Acho que é altura de começares a convencer-te de que os teus tempos de vilão acabaram, Loki. Tu não és assim. Em parte estavas a ser controlado pelo Tesseract. E em parte estavas consumido por mentiras e vinganças. Não que eu te esteja a desculpar, tu sabes que não. Só estou a dizer a verdade. Sei que nunca devias ter agido como certas vezes agiste, mas aprendes com os erros. Tu próprio o disseste. Talvez… talvez um dia consigas perceber o que é o perdão humano. Talvez um dia consigas perdoar-te a ti próprio. Tu sabes que eu já te perdoei há muito.
E depois aconteceu algo que eu nunca esperei que acontecesse. Os olhos de Loki ficaram húmidos, e as lágrimas começaram a descer-lhe lentamente das faces. Estava a chorar. O outrora Deus do Prejuízo estava a chorar.
-Loki… – murmurei.
-Bridget, tu és a melhor coisa que eu tenho na vida. Algo que eu nunca pensei que me pudesse vir a acontecer, algo que eu sei que não mereço. E o facto de que tu continuas a amar-me, mesmo depois de tudo o que eu fiz… eu sei que não fiz nada, em todos os meus anos de vida, tão bom para te merecer.
-Loki, o amor não é sobre isso. Amor é quando duas pessoas, independentemente dos erros do passado, se conseguem olhar nos olhos e dizer o que sentem. E a mim sempre me foi difícil dizer como me sinto. Mas eu sei disto, Loki. Eu amo-te.
Agora também eu estava a chorar. Era um momento demasiado intenso e emocionante para conseguir reter as lágrimas. Loki voltou a encostar a testa na minha. Desta vez, não hesitou. Colou os lábios dele aos meus, uma explosão de emoções subindo pelo meu corpo acima, correndo nas minhas veias. Sentia frio e calor ao mesmo tempo.
Nunca na vida pensara que algo assim, apaixonar-me por alguém como Loki, me pudesse acontecer. Mas não me arrependia. Muitos dos erros dele eram indesculpáveis, sim, e se amá-lo também fosse, então está bem. O nosso amor seria indesculpável. Mas ninguém podia negar que ele não era também intenso, emocionante e ardente. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Desejo

Os olhos azuis-esverdeados dele encontraram os meus por breves instantes. Estava do outro lado da rua, dentro de uma loja de recordações, a espreitar cá para fora pela montra. O meu coração parou, susti a respiração e acho que comecei a tremer.
Sabia que não era possível. Tinha sido uma ilusão de ótica. Quando voltei a olhar, ele já lá não estava.
Mas também não era a primeira vez que acontecia.
Ao longo destes dois anos tinham havido ocasiões, raras e breves, mas em tudo intensas, em que eu julgara ver Loki. De todas as vezes o coração se me enchera de esperança, e em todas as vezes me convenci também que não era possível e que tudo não passava de uma partida pregada pela minha mente melancólica e confusa.
A primeira vez que acontecera fora três meses depois de deixar Nova Iorque. Estava em Londres, Inglaterra, e tinha ido a um restaurante com um rapaz. Sim, dera-me para aquilo. Nunca fora namoradeira, mas tinha esperanças de conhecer alguém que me fizesse parar de pensar em Loki. Talvez fosse por isso que ainda não descartara Alexio.
Estava a chover quando eu e o rapaz inglês, cujo nome já não me recordo, fomos jantar ao restaurante. Sentámo-nos na mesa, encharcados, e esperámos, a rir, que o empregado viesse para anotar os pedidos. Ele veio, mas o que voltou com os pratos não era o mesmo. Não. Este era alto e elegante, vestido com um rico fato preto. Tinha os olhos azuis-esverdeados mais enigmáticos que já vira, o cabelo preto liso pelos ombros. Era a cara de Loki. Eu ficara sem reagir. Fechei os olhos e depois voltei a abri-los. Já não era Loki que lá estava. Era o mesmo empregado de antes.
Convencera-me que tinha sido a minha mente a brincar comigo. O facto de isso não voltar a acontecer ajudou. Só vários meses depois é que julguei vê-lo de novo.
A segunda vez que aconteceu estava eu num cinema, em Tóquio, no Japão, cerca de cinco meses depois de ter acontecido a primeira vez, com um grupo de raparigas de quem me tornara amiga. Estávamos a sentar-nos nos assentos, à espera que o filme começasse. As pessoas passavam à nossa frente, procurando os lugares onde se deviam sentar. Lembro-me perfeitamente de uma das raparigas me ter dito em Inglês “olha-me este pão”. Eu olhei e o meu coração saltou quando vi um homem alto, vestido com umas simples calças de ganga e uma t-shirt verde, a passar por nós. Ele não desviou os olhos azuis-esverdeados de mim. Um segundo depois a cara do homem transfigurou-se para um rapaz normal, que eu consideraria giro não fosse o caso de ter acabado de voltar a vê-lo novamente. Não pensei que isso voltasse a acontecer. Novamente me convenci de que era apenas uma partida.
A terceira vez foi talvez a mais marcante. Fazia exatamente um ano que vira Loki pela última vez, que me despedira dele. Não era propriamente um dia em que me apetecesse estar bem-disposta, mas mesmo assim fui até à praia, em Melbourne, na Austrália.
Estava um dia ótimo, com pessoas a surfar, crianças a brincar e rapazes giros em tronco nu. Eu estava a pôr protetor solar quando um rapaz louro e de olhos azuis veio ter comigo a perguntar-me se mo podia pôr. Se fosse antes não tinha aceitado, mas naquele dia disse que sim.
Ele espalhou-mo suavemente e fomos conversando. Eu estava deitada na toalha enquanto ele mo punha. Quando virei a cara para lhe agradecer, os meus olhos esbugalharam-se. Já não era o rapaz louro que me espalhava suavemente protetor solar pelas costas, mas sim Loki. De repente o toque dele nas minhas costas fez-me sentir mais viva do que qualquer outra coisa no mundo. E depois, no minuto seguinte, ele evaporara-se, reaparecendo o rapaz louro.
Naquela altura comecei a perguntar-me se não estaria a ficar louca. Podia tolerar uma vez, ou mesmo duas, mas imaginar Loki três vezes, assim tão vívido e real, era de estranhar e de enlouquecer. Lembro-me de ter pegado nas coisas e ido embora a correr da praia.
Lentamente, e à medida que o tempo passava e eu não dava sinais de loucura, fui-me acalmando. Convenci-me por tudo que aquelas alucinações não passavam da minha imaginação a tentar enganar-me, que Loki estava preso em Asgard e que provavelmente eu nunca mais o iria ver.
Mas agora ali, em Atenas, acontecera pela quarta vez. E não mudava nada o facto de me tentar convencer que era tudo imaginação. Eu estava mesmo a enlouquecer.
Agora sabia-o.
Abri a minha carteira e depositei rapidamente uma nota de cinco euros na mesa, levantando-me em seguida. Ouvi Alexio chamar-me, mas virei-me e corri o mais rápido que pude. As lágrimas ameaçavam cair-me pela cara abaixo, mas aquilo era demais. Imaginar Loki quatro vezes era a gota de água.
Entrei numa rua vazia e espantei-me quando vi Alexio a correr para vir ter comigo. Nunca pensei que ele se esforçasse tanto comigo. E naquele momento pensei se não seria mais fácil tentar esquecer Loki com atos e não apenas com palavras, tentei convencer-me que a minha loucura podia ser facilmente curada no abrigo de Alexio. E por outro lado, se estava realmente a ficar louca, não seria mais fácil e lógico entregar-me à loucura de vez?
Assim, agarrei Alexio pelos colarinhos da camisa e empurrei-o contra a parede, beijando-o furiosamente. O beijo soube surpreendentemente bem. Os lábios dele depressa corresponderam, e ele puxou-me para si, agarrando-me pela cintura. Despenteei-lhe o cabelo naturalmente rebelde e aprofundei o beijo. As mãos dele deslizaram da minha cintura, agarraram as minhas coxas, puxando-me para cima, e eu entrelacei as minhas pernas à volta da cintura dele. Ele rodou-nos, ficando eu encostada à parede. A excitação e adrenalina corriam nas minhas veias, fazendo-me sentir viva e rebelde. A sensação era semelhante à de quando imaginara Loki a pôr-me protetor solar nas costas.
Os nossos lábios separaram-se, ambos procurando recuperar o fôlego. Tínhamos as testas encostadas, os narizes quase a tocarem-se. Ele beijou-me o pescoço, percorrendo a linha do maxilar com beijos delicados, até roçar os lábios nos meus, provocador. Puxei-o ainda mais para mim, sentindo um ardor e uma vontade dentro de mim que nunca sentira. Os meus lábios esmagaram os dele, ambos dançando em perfeita sintonia. O toque frio das mãos dele nas minhas coxas e costas era reconfortante. Eu tinha uma das mãos no cabelo dele e a outra desabotoava os botões de cima da sua camisa.
Fechei os olhos, querendo absorver aquele momento. O sabor dos lábios dele nos meus era uma sensação deliciosa: como um gelado que eu nunca queria acabar de saborear. O seu toque era frio e firme, mas ao mesmo tempo quente e delicado. Aquilo parecia tão errado, e no entanto, nunca algo na vida me parecera tão certo.
-Tive saudades tuas, Bridget – aquela voz foi como se me tivessem mandado um balde de água gelada para cima. Abri os olhos abruptamente e percebi de súbito por que razão o toque e o sabor dele me pareciam tão frios. Percebi porque é que me sentia tão bem nos braços de um desconhecido, e porque me sentia tão viva. Os meus olhos não se cruzaram com os castanhos de Alexio, a minha mão não estava a agarrar os seus caracóis pretos, os meus lábios não estavam a beijar os seus.
Não era Alexio há minha frente. Mas sim o Deus do Prejuízo em pessoa.
Os seus olhos azuis-esverdeados fitavam os meus com tantas emoções: fúria, desejo, luxúria, paixão. Os seus lábios rudes nos meus, era como se ele não quisesse nunca que o momento acabasse, e por muito que me custasse admitir, eu também não.
Mas depois percebi. Estava enrolada com Loki, a beijar os seus lábios. Por isso desentrelacei as pernas da cintura dele, reuni toda a força que consegui e empurrei-o para longe.
Depois não fiz mais nada.
A minha mão atingiu-o em cheio na cara.

2 Anos Depois

2 anos depois

O sol batia com força nas costas do meu top turquesa. Estava sentada numa esplanada de um café, em Atenas, na Grécia, com um bonito rapaz há minha frente.
Parecia-me que ele estava mais interessado no meu conjunto de top curto e calções brancos do que propriamente na nossa conversa, mas não me importei. Levei a palhinha do sumo de laranja à boca, sem tirar os olhos dele. Sabia que as raparigas há minha volta me olhavam com inveja, e não era para menos. Alexio, o rapaz há minha frente, parecia mesmo um “deus grego”. Moreno, de olhos castanhos cor de chocolate, rebeldes caracóis pretos e um sorriso de anjo que fazia levar qualquer uma à loucura.
Qualquer uma que não tivesse já o coração ocupado.
Conhecera Alexio uma semana depois de chegar a Atenas. Fora um encontro muito casual. Eu estava deitada na areia de uma das belas praias de Atenas e ele estava a jogar voleibol com uns amigos não longe dali. Já tinha reparado nele, claro. Apesar de os amigos serem giros, eram facilmente ofuscados por aquela beleza. No entanto, não mostrei muito interesse, preferindo preocupar-me em não ser atingida pela demoníaca bola de voleibol.
Não sei se foi estratégia ou acidente, o que é certo é que a bola de voleibol me acertou na perna direita. Eu estava com óculos de sol, de olhos fechados e só dois segundos depois de sentir o impacto da bola no meu corpo é que abri os olhos e me sentei. Lá estava ele, de calções de banho verdes, exibindo um corpo de fazer inveja e com o seu lindo sorriso. Viu logo que eu era estrangeira pelo que falou comigo num inglês com sotaque que devia derreter todas, mas que a mim me irritou um bocadinho. Ele pediu desculpa e, vendo-me sozinha, aproveitou para meter conversa. Eu alinhei e dali a pouco já estava ele a pedir-me para sair.
Saímos algumas vezes. Ele era atraente e chamava constantemente as atenções. Não que não fosse atencioso, mas era muito atiradiço. Nunca fomos além de conversas, embora ele tivesse tentado. Devia ser isso que ele gostava em mim, o facto de me fazer de difícil. Para ser sincera, estava à espera que ele se fartasse e partisse para outra, mas por outro lado gostava do gozo que a situação me proporcionava e do facto de ser “a escolhida” entre todas as raparigas. Infantil, sim. Mas bom para o esquecer.
O que, claro, era algo que nunca tinha conseguido fazer. Pode ser difícil ou mesmo impossível de acreditar, mas não passara um único dia ao longo destes dois anos em que não tivesse pensado nele.
E em tudo o que se passara entre nós, tudo o que acontecera. Em como o tinha deixado ir, assim, sem mais ou menos. Culpava o orgulho, culpava o facto de nunca podermos estar juntos, mas sabia que não era nada disso. Tinha sido por medo que o tinha deixado ir. Era por medo que o continuava a tentar esquecer, em vez de lutar.
O mundo acalmara muito depois do ataque de Magneto (claro que continuava a recusar-me a chamar-lhe pai). Fury não me chamara para mais nenhuma missão. Não era por não haver missões para realizar, bem o sabia. Fury apenas temia que voltar à S.H.I.E.L.D. e recordar tudo me fizesse desmoronar. Temia que me descontrolasse. Para ser sincera, eu também o temia.
Por isso tinha andado em viagens pelo mundo durante estes dois anos. Vida boa, pois era. Conhecer novas culturas e pessoas diferentes, visitar símbolos nacionais ou locais que só aparecem nos filmes, sim, era um sonho. Mas por vezes sentia falta de um lar, de um refúgio, de voltar para casa ao fim de um longo dia de trabalho, de me aconchegar no sofá a ver um filme.
A minha vida nestes dois últimos anos havia-se tornado uma festa: uma constante e imutável diversão. Dinheiro não faltava, sítios para ver e locais para visitar também não. Ia sozinha, mas depressa conhecia outras pessoas. Mudara de visual para não ser reconhecida como Magnum. Detestaria ir de férias como famosa. Pintara o cabelo de castanho, deixara-o crescer e usava roupas mais sofisticadas porque as pessoas sabiam que o visual da mística Magnum consistia em modestas calças de ganga e t-shirts largas.
Falava frequentemente com os Vingadores. Cada um seguira o seu caminho. Não houvera mais nenhuma ameaça e por isso não fora necessário ao grupo voltar a juntar-se. Mas eles reuniam-se de vez em quando, para sair e divertirem-se. Como eram mundialmente conhecidos via-os muitas vezes em capas de revistas, principalmente a Tony, e também em eventos.
Natasha contara-me que consolidara a sua relação com Clint: estavam agora mais próximos de uma relação amorosa, embora as suas personalidades distantes e complexas ainda não tivessem permitido uma aproximação mais profunda.
As indústrias Stark iam de vento em popa. Tony continuava a construir mais armaduras e a ser a “personalidade” do ano. Pedira Pepper finalmente em casamento, que ainda não tinha data marcada.
A Bruce era agora cada vez mais fácil controlar a sua raiva. O Hulk já raramente saía cá para fora, e o cientista dedicava-se a ajudar os outros e a tentar arranjar curas para doenças.
Thor continuava em Asgard. Não ouvira mais notícias dele. Desconfiava que os Vingadores fossem sabendo dele, mas nenhum deles me contava. Eu também não perguntava. Eles sabiam que eu me importava com Thor e que claro que queria saber se ele estava bem, mas era um assunto demasiado próximo dele e por isso preferia evitá-lo. De resto, sabia que Thor tinha vindo várias vezes à Terra para se encontrar com a sua amada, Jane Foster.
E Steve… bom, Steve continuava o mesmo soldado responsável e amável que conheci. Natasha referia várias vezes que ele tinha muitas saudades minhas. Eu falava com ele algumas vezes por telefone, mas sentia-o distante. Sabia que não era por me ter ido embora que ele estava chateado, era por quem eu me tinha embora. Ele nunca me perdoara por me apaixonar por ele.
Era com Natasha que falava mais frequentemente: mandava-lhe vários postais das minhas viagens. Também lhe escrevia, e falávamos por telefone e Internet. Eles tinham saudades minhas, eu deles. Culpava-me por os ter deixado, mas tinha de o fazer. Não por ele. Por mim.
Tinha viajado pelos cinco continentes e em nenhuma ocasião se revelara necessário usar os meus poderes. Era impossível esquecê-los, no entanto. Faziam parte de mim. E eu não podia mudar o facto de ser filha de Magneto.
Não que não gostasse dos meus poderes. Claro que era bom sentir-me poderosa e intocável, mas com eles também vinham memórias dolorosas, e outras boas, que se tornavam ainda mais dolorosas pelo facto de serem boas e não voltarem mais.
De repente Alexio pôs-me a mão no joelho. Eu perdera-me no laranja do sumo e no castanho dos seus olhos, pondo-me a pensar no passado. Ele já devia ter repetido a mesma frase para aí umas cinquenta vezes, com aquela paciência que o permitia ter tanto tempo para o sexo oposto.
-Estás bem? – perguntou-me ele em Inglês com o seu sotaque grego. Habituara-me a ele ao longo do tempo.
-Estou ótima – respondi. Olhei para mão dele no meu joelho. Ele percebeu e retirou-a.
-Desculpa. Sei que não gostas…
-É complicado – respondi. Ele esboçou um sorriso franco.
-É sempre – depois baixou o tom de voz, falando com uma voz sedutora e doce – mas tu sabes que comigo não tem de ser.
-Eu sei – acabei por dizer. Depois desviei o olhar para o lado e o meu coração parou. 

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Viajar

No dia seguinte não consegui ir ver Loki a partir com Thor para Asgard. Todos os Vingadores foram, mas eu não. Também já tinha dito adeus a Thor, que iria ficar em Asgard durante alguns tempos, e não me apetecia voltar a ver Loki. Na noite anterior tinha-me deixado ficar no jardim algum tempo até regressar a casa, atordoada. As revelações de que Loki se preocupava comigo mais do que aquilo que deixava transparecer, o facto de ele me amar, era mais do que eu podia lidar. Ele achava mesmo que era melhor para os dois seguir caminhos separados. Talvez fosse melhor a longo prazo, mas agora parecia assustador. O que me assustava mais era ter de admitir que Loki me fazia falta, ele, que já causara tanto mal a tanta gente. Mas fora algo que eu não conseguira evitar e pelos vistos nem ele. Ele tinha provado querer mudar quando nos ajudou a derrotar Magneto, mas isso não apagava todas as coisas más que ele fizera no passado, apesar de muitas delas terem sido por estar a ser controlado pelos Chitauri e pelo Tesseract. 
Estava no meu apartamento a mudar os canais de televisão freneticamente quando alguém tocou à campainha. Fui abrir. Era Natasha. 
-Oi, Bridget. Posso entrar? - perguntou ela.
-Claro - disse eu, abrindo mais a porta para ela poder entrar. Ela olhou em redor, observando o meu apartamento.
-É muito diferente dos apartamentos normais em Nova Iorque - comentou ela - eu gosto.
-Obrigada - agradeci, olhando para a decoração rústica do meu apartamento.


-Senta-te - disse eu - queres tomar alguma coisa?
-Não, obrigada - Natasha foi direta ao assunto - como é que estás?
-Bem. Muito bem - ela olhou-me com um olhar censurador - não... sei - acabei por dizer.
-Não foste vê-los partir - observou ela. 
-Acho que depois do que Loki me disse, não devia ir. Ele próprio deixou claro que era melhor se nunca mais nos voltássemos a ver.
Natasha franziu o sobrolho.
-Vocês falaram antes de ele ir e ele disse-te isso?
-Eu conto-te - e então contei tudo o que acontecera na conversa que tivera com Loki na noite anterior, até sobre o beijo.
-Ao menos admitiste finalmente os teus sentimentos por ele - disse ela no fim. 
-Não vais julgar-me? Por me ter apaixonado por alguém como ele?
Natasha sorriu.
-O Loki pode ter feito muita coisa errada, sim, mas esqueces-te que eu já fui uma espia treinada para matar. E eu não estava a ser possuída por nada nem por ninguém. Era o meu trabalho, mas eu podia tê-lo evitado. Claro que não me orgulho do meu passado, mas aprendi a viver com ele. E o Loki também precisa de aprender a viver com o dele.
-Então não ficas chateada por eu gostar dele?
-Como é que eu podia? O amor não se escolhe. Não é como se pudesses desligar o que sentes. E o Loki tem muita sorte por te ter tido a seu lado. Tal como ele disse, fizeste dele uma pessoa melhor. 
-Achas que é altura de seguir em frente?
-Acho que é a única opção que tens, Bridget. O Loki foi para Asgard, e de qualquer maneira é imortal. E tu tens o direito de viver a tua vida sem esperar por ninguém. Tens o direito de ter uma vida normal.
-Isso é impossível. Eu tenho poderes, sou filha de Magneto, e apaixonei-me por alguém que tentou destruir Nova Iorque inteira. Quem quereria ficar comigo?
Natasha olhou-me enigmaticamente.
-Sem ser o Loki, sei de outra pessoa.
Franzi o sobrolho. Como ela viu que não cheguei lá, suspirou e disse:
-Steve.
Esbugalhei os olhos.
-Não, nós somos apenas amigos. E não vou ficar com ele só para esquecer o Loki. Isso é errado.
-Não estou a dizer isso. Só a dizer-te que há mais que uma opção. 
-Sabes o que eu preciso? De me afastar desta confusão toda. De poderes, super-heróis, da S.H.I.E.L.D. Sei que ainda agora entrei para os Vingadores, mas preciso de uma pausa. Já tive a minha quantidade de anormalidades para uma vida. Já chega.
-E onde estás a planear ir?
-Sei lá! Viajar, ver o mundo. 
-Mas voltas?
-Claro. Tenho funções e deveres para com os Vingadores e a S.H.I.E.L.D. Só preciso de algum tempo para pensar e reordenar as ideias. Percebes?
-Eu compreendo. Acho que todos precisamos de férias, então tu, muito mais. Talvez numa dessas tuas viagens encontres alguém que te faça esquecer o Loki.
-Isso é impossível. Mas sim, talvez conheça alguém por quem me apaixone novamente - disse eu. não acreditando muito nisso. 
Levantei-me do sofá.
-Tenho de falar com o Fury primeiro, mas acho que ele percebe. Claro que não lhe vou contar sobre a parte do Loki. 
-Promete que vais mandando notícias - pediu Natasha.
-Ok - respondi, abraçando-a. Havia apenas uma questão agora. Alguma vez seria capaz de seguir em frente e deixar para trás aquilo que sentia por Loki?

*

No dia seguinte falei com Fury. Tinha preparado um discurso inteiro cheio de argumentos e razões válidas para me deixar viajar, mas ele surpreendeu-me quando disse que percebia e que não havia problema. Disse-me que a S.H.I.E.L.D ficaria de olho em mim caso houvesse necessidade de me chamar. Eu queria ir-me embora o quanto antes. Era agora Verão e fazia quase um ano desde que conhecera os Vingadores... e Loki. Acontecera tanta coisa durante esse período de tempo... coisas boas e coisas más, e outras que não conseguia definir. E por mais que quisesse pôr o facto de me ter apaixonado por Loki nas listas das coisas más, sabia que isso pertencia à lista das coisas boas.
Steve, Natasha, Clint, Bruce e Tony encontraram-se comigo no pátio do Triskelion uns dias depois de ter pedido a Fury para partir. Já tinha as malas feitas e tudo pronto para seguir viagem.
-Espero que voltes depressa - disse Steve, abraçando-me e o que Natasha me dissera sobre ele gostar de mim deixou-me embaraçada.
-Não te divirtas demasiado - sorriu Tony enquanto o abraçava.
-Adeus, Bridget - disse Clint - cuida de ti.
Abracei-o e depois seguiu-se Bruce.
-Desfruta das tuas férias - pediu Bruce com um sorriso amável.
-Adeus, miúda - disse-me Natasha por último - livra-te de te esqueceres de ir mandando notícias.
-Eu mando. E tiro fotos também - sorri. Olhei-os uma última vez, àqueles que eram a minha família agora, e depois entrei no táxi que me levaria ao aeroporto. Adeus, preocupações. Olá, férias!

terça-feira, 29 de julho de 2014

Despedida

Fiquei uma semana na enfermaria a recuperar. Todos me foram visitar, até Loki. Ele foi ver-me quando pensou que eu estava a dormir, mas eu ainda estava acordada. Ele não disse nada, limitou-se a sentar-se no banco ao pé da minha cama e a pegar-me na mão. Tive de me controlar e fingir que estava a dormir, mas a sensação que o toque da mão dele provocava em mim era difícil de ignorar. 
Depois de sair da enfermaria fui autorizada a regressar a minha casa para organizar umas coisas, mas depois tive de voltar à S.H.I.E.L.D para ir falar com Fury. 
Sabia que as grandes organizações, muitas delas secretas, e os governos estavam de olho em mim. Não me conheciam e de um momento para o outro eu revelara-me capaz de destruir um vilão tão poderoso como Magneto. Não sabiam se eu era uma aliada ou se poderia vir a ser uma ameaça.
-Entre, Bridget - ouvi a voz de Fury antes de eu bater na porta da sala de reuniões. Lá dentro estavam Fury, Maria Hill e os Vingadores. Sorriram-me quando me viram, já recuperada da esgotante batalha com Magneto. 
-Olá, Magnum - gozou Tony enquanto eu me sentava. Deitei-lhe um olhar de desprezo, mas era só a brincar. Não desgostava da alcunha.
-Deixemo-nos de gracinhas, Stark - pediu Fury - há coisas mais importantes a tratar. 
E o que aconteceu a seguir foi algo totalmente inesperado. Vi Fury a piscar o olho e depois todos (que reparei que estavam a vestir casacos), correram os fechos revelando camisolas azuis, cada uma com uma palavra. Em conjunto, formavam a frase "Gostarias de fazer parte dos Vingadores, Bridget?". Abri a boca de espanto. Não esperava que me convidassem, muito menos daquela forma.
-Como é que raio convenceram o Fury a fazer isso? - perguntei eu em vez de dizer logo que sim.
-Eu consigo ser bastante persuasivo - riu Tony.
-Então, o que dizes?  - perguntou Steve.
-Claro que sim! - respondi - mas acham que estou à altura?
-Não, Bridget, alguém que conseguiu derrotar Magneto não está à nossa altura - riu Thor - claro que estás!
-Bem-vinda! - exclamaram os outros.
Eu não conseguia acreditar. Era uma Vingadora, agora! Fazia parte da equipa de super-heróis mais poderosa da Terra! 

*

Era estranho andar agora pelas ruas de Nova Iorque. As pessoas reconheciam-me, iam pedir-me autógrafos ou fotos, como se eu fosse uma celebridade. Eu não gostava dessa atenção toda, sendo mais parecida com Steve do que com Tony nesse (e muitos outros) aspetos. 
Em relação a Loki, eu não falara muito com ele desde que saíra da enfermaria. Acho que ele estava a ser interrogado pela S.H.I.E.L.D a maior parte do tempo. Eu queria ir falar com ele, mas não conseguia. Ou então tinha medo. As palavras de Natasha ecoavam na minha mente. Eu não o amava. Eu não podia… mas o amor também não pedia permissão. Acontecia. E quando nos apercebíamos de que caíramos na sua teia, era tarde demais. Seria isso que estava a acontecer comigo? 
Na véspera de Loki e Thor partirem para Asgard de forma a que Loki cumprisse a sua sentença, tomei coragem e fui falar com ele. Ele estava instalado no porta-aviões da S.H.I.E.L.D, que ainda estava aterrado, e eu, como não tinha mais missões, ia dormir a minha casa todos os dias. Mas nesse dia deixei-me ficar mais tarde no Triskelion e vi-o a passear pelos jardins lá perto. Estava uma noite estrelada e pacífica.
-Olá, Loki – disse eu.
-Bridget – cumprimentou ele. Ficámos em silêncio durante mais algum tempo, sem saber o que dizer, apenas a caminhar com a brisa fresca a bater-nos na cara, até que ele quebrou o gelo.
-Pedi ao Thor para não te convidar para ires para Asgard. Seria egoísta da minha parte se fosses, quando tens a tua vida toda aqui.
-Bem, também nada te diria que eu aceitasse – afirmei, friamente.
-Também tens razão. Acho que isso é apenas mais uma das coisas arrogantes e egoístas que fiz. Tu nunca virias para Asgard comigo.
Engoli em seco, o coração a bater depressa.
-Por isso é que tenho de fazer isto contigo, Bridget – continuou Loki – não posso ser egoísta contigo. E talvez tudo o que eu vá dizer a seguir vá ser também egoísta, mas se estiver certo, e tu te importares comigo… então, eu tenho de te deixar ir. Não posso deixar que fiques há minha espera, tens de viver a vida. Não quero que me visites em Asgard. Talvez seja tolice minha pensar que o farias. Não sabes o quanto agradeço tudo o que fizeste por mim, mesmo que eu não tenha merecido nada disso. Não mereço a tua amizade, Bridget. E é por isso que temos de seguir caminhos separados.
-É isso mesmo que queres? – foi tudo o que consegui dizer. Loki fitou os meus olhos.
-Tem de ser assim, Bridget. Não percebes? Nunca poderemos estar juntos. Tu mereces alguém muito melhor que eu. Talvez te estejas a rir por eu pensar que sentes o mesmo que eu, mas… eu quero acreditar que sim. E se tu sentires o mesmo que eu então sabes que não podemos estar juntos e que tu mereces toda a felicidade do mundo e que nunca serei eu a poder dar-ta. Precisas de me deixar ir.
-Dir-me-ias tudo isso se eu não tivesse vindo aqui hoje? – perguntei. Ele não respondeu. Eu suspirei. Acho que foi nesse momento que tomei total consciência do que sentia por Loki. Todas as indiretas, tudo aquilo que me tinham dito sobre gostarmos um do outro, tudo o que e Loki tínhamos vivido, fez sentido nesse momento.
-Tens razão numa coisa. Não estás a ser egoísta ou arrogante em pensares que eu sinto o mesmo por mim, Loki, porque a verdade é que o sinto! Se o que sentes é amor… então também eu sinto isso. E eu não queria que tivesse acontecido, mas aconteceu. Mas não concordo contigo quando dizes que o melhor é deixares-me ir. Só te interessa o que é melhor para ti? Não te importas com o que eu penso?
-O que é melhor para mim é o que é melhor para ti, Bridget. Nós não pertencemos juntos.
-Tudo bem! Como queiras. Tu vais para Asgard e eu continuo com a minha vida. Eu faço isso. Mas não me peças para te esquecer. Posso deixar-te ir, mas nunca ignorar o que se passou.
-Não te pedi isso. Eu também nunca esquecerei o que fizeste por mim, mesmo quando não tinhas que o fazer. De qualquer maneira, se eu não tivesse cometido todos os crimes horríveis que cometi, continuaria a ser imortal. E tu não.   
-Achas que vou conseguir ultrapassar-te? – perguntei, insegura.
-És mais corajosa do que pensas. Bridget, eu quero que sigas em frente e que fiques com alguém que te mereça, alguém que te faça sempre feliz.
-E nunca te passou pela cabeça que essa pessoa pudesses ser tu? – questionei em voz débil.
-Eu gostaria que sim. Mas ambos sabemos que isso não é possível. Não da forma como sou.
-Farei o que dizes. Adeus, Loki.
Virei-me, mas ele segurou-me gentilmente no pulso.
-Desculpa se isto vai soar a mais egoísmo da minha parte, mas tenho de ser eu a partir primeiro.
-Porquê? – interroguei, os olhos dele fixados nos meus.
-Porque não suporto ver-te afastares-te de mim.
E depois ele aproximou a sua cara da minha, os nossos olhos a fitarem-se mutuamente. Senti os lábios dele tocarem os meus ao de leve, enviando arrepios quentes por todo o meu corpo, enquanto o meu coração me batia forte no peito.
-Obrigada por tudo, Bridget Robinson. Fizeste de mim uma pessoa melhor.
Com isto, passou por mim e foi-se embora, deixando-me especada, sozinha na noite, uma lágrima a correr-me pela cara quando percebi que aquele momento fora o último. 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Magnum

Olhei para Loki.
-Bom, vais ser um cavalheiro e virar-te enquanto eu me visto?
-Porque é que não usas apenas a casa-de-banho? - contrapôs ele. Bufei, mas acedi. Não era altura para discussões. Mudei-me rapidamente e assim que voltei para junto de Loki ouviu-se um estrondo e o barulho da casa a ruir. Pela janela vi vários mutantes a correr para a praia e foi com alegria que vi Tony e Bruce a usarem com sucesso a arma que tinham construído. Os mutantes caíram na areia, imobilizados. Sem esperar, saí do quarto, com Loki a seguir-me, observando mais mutantes a caírem pelos corredores da mansão. As traseiras da casa tinham começado a ruir.
-Que é que ela ainda aqui está a fazer? - ouvi a voz de Steve gritar - já a devias ter levado, Loki! Sabia que não devia ter confiado em ti!
Depois senti Loki pegar em mim bruscamente e a lançar-se em direção à praia, enquanto a grande mansão explodia numa imensidão de calor e chamas. 
-Steve! - gritei, quando aterrei na areia, com Loki por debaixo de mim a amortecer o impacto. 
-Não esperava esta emboscada de ti, Bridget - Magneto saiu das chamas, e logo foi rodeado por Thor, Clint e Natasha. Bruce e Tony ainda estavam de volta da arma e não havia sinais de Steve - agora por causa de ti, toda a gente vai morrer.
-Talvez, mas tu também! - gritou Thor, rodando o seu martelo e gritando na sua voz ribombante - Bruce, Tony, agora!
Os dois parceiros de laboratório apontaram a arma para Magneto, e embora esta resultasse completamente nos mutantes só afetava Magneto um bocadinho. Thor lançou o seu martelo contra o escudo que Magneto projetara à sua volta, bem como Clint, que lançara várias setas explosivas e Natasha, que lançara balas feitas do mesmo material da arma. Depois veio o escudo de Steve, e ele saiu das chamas com vários arranhões. Loki também fez a sua parte, confundindo a mente de Magneto com várias ilusões. Mas mesmo com a força de todos eles, Magneto conseguia resistir. Ainda faltava algo. O sabor do seu próprio veneno. O poder dele. O meu poder.
-Pensaste realmente que me ia juntar a ti, Magneto? Foi a tua arrogância que permitiu isto, que só por ser tua filha ia deixar as minhas virtudes de lado num abrir e fechar de olhos! E achas mesmo que aquele poder que eu te mostrei era o meu poder máximo? Pois estavas enganado! - e com uma adrenalina que nunca na minha vida sentira e que me percorria velozmente as veias, fazendo o meu corpo ser percorrido por violentos puxões, o meu máximo potencial dirigiu-se como luz em direção ao escudo de Magneto. No momento em que os dois poderes se tocaram, houve uma faísca de poder, ambos lutando um contra o outro. Reforcei o meu poder, canalizando toda a minha fúria e toda a minha vontade de vencer. Por fim, o escudo dele cedeu, permitindo ao martelo de Thor, às flechas de Clint, às balas de Natasha e ao escudo de Steve de se lançaram sobre Magneto. Ele não conseguia resistir, imobilizado pela arma de Tony e Bruce e pelas ilusões de Loki. 
E então houve uma explosão que nos arrebatou a todos, lançando-nos em várias direções pela praia. Aterrei à beira-mar, esgotada. Percebi que o fizéramos. Que tínhamos derrotado Magneto. 
Um por um, os outros levantaram-se da areia. Eu era a que estava mais esgotada. 
Depois comecei a sentir-me a cair.
-Bridget! - gritou alguém.
E tudo ficou preto.

*

As pálpebras pesavam-me e dificultavam-me a simples tarefa de abrir os olhos. Tudo o que conseguia ver era uma luz branca e forte, que me provocava dores de cabeça sem fim. Por fim, lá os abri. Não reconheci imediatamente onde estava, mas alguém que entrou pela porta fez-me parar de tentar saber onde me encontrava.
-Bridget! Acordaste! - Steve sorriu e sentou-se numa cadeira ao pé de mim. Eu estava numa cama que parecia ser de hospital.
-Steve. Estás bem? Os outros estão bem? O que aconteceu? Onde estou?
Ele fez-me uma festa no cabelo.
-Calma, Bridget. Estão todos bem. Estiveste em coma por uma semana. Tememos o pior. Todo aquele poder que utilizaste para acabar com Magneto esgotou-te imenso. 
-Onde estamos?
-Na enfermaria do quartel-general da S.H.I.E.L.D, o Triskelion, em Nova Iorque - respondeu Steve. 
-Como é que está o mundo? - eu falava muito devagar, tentando evitar a dor que me assolava.
-Estranho. Por um lado, exultantes por termos vencido outra vez, por outro lado, divididos com... o facto de Loki nos ter ajudado. 
-Onde é que ele...
-Steve Rogers, não devia estar a desgastar tanto a Bridget - disse uma enfermeira entrando na sala - tenho que lhe pedir para sair, por favor. A Bridget precisa de descansar.
-Não... eu estou bem...
Mas depois a dor foi mais forte e voltei a adormecer. 


*

Acordei novamente no dia seguinte, desta vez na companhia de Natasha. Ela explicou-me que a S.H.I.E.L.D. tinha tratado dos mutantes e que tinha sido emitido um comunicado oficial pelo presidente dos EUA a explicar como não havia nenhumas razões para as pessoas se preocuparem.
-Sabes qual foi o nome de super-heroína que a comunicação social escolheu dar-te? - perguntou Nat com um sorriso. Fiz que não com a cabeça - Magnum.
-Como a marca de gelados? Ou a pistola? - questionei, admirada.
-Sim, mas acho que escolheram o nome por causa do magnetismo.
-E por causa de Magneto - suspirei. Depois veio-me à mente algo que nada tinha a ver com o que estávamos a falar - onde está o Loki?
-Acho que ele te veio ver, mas estavas a dormir.
-Bom, isso é assustador - gracejei eu. Depois fiquei séria - ele vai voltar para Asgard, não vai?
Natasha acenou afirmativamente com a cabeça.
-Não sei quanto tempo é que ele vai lá ficar a cumprir pena. O Thor disse que vai ser pouco tempo, por causa de Loki ter sido possuído e nos ter ajudado agora.
-Define "pouco tempo".
Natasha olhou-me com um misto de compaixão e tristeza.
-Alguns anos.
Engoli em seco. Já devia estar preparada para aquilo, mas mesmo assim doeu.
-Vais para Asgard se o Thor te convidar?
Desviei o olhar.
-Porque haveria? Eu e o Loki, nós não...
-Podes fingir com toda a gente, mas não comigo, Bridget. Por duas razões. Um, já fui uma espia altamente treinada e sei quando as pessoas me mentem e dois, és minha amiga e eu não sou tola.
-Não sei o que é que sinto por ele. Mas ele afeta-me, de uma maneira ou doutra. Não o percebo. É sempre muito imprevisível e acho que é isso que me intriga.
-Eu sei o que sentes por ele. E no fundo tu também - Natasha fitou-me - imprevisível é o amor.

Potencial

Ponto de vista de Natasha

-Ok, o Tony conseguiu a localização da Bridget, é numa ilha aparentemente deserta no Índico – declarou Bruce. Estávamos reunidos quatro dias depois da batalha na marina, no quartel-general da S.H.I.E.L.D.
-Porque é que não a conseguiu antes? – resmungou Steve.
-A Bridget esteve sempre em movimento, provavelmente no submarino, mas agora parece ter parado – informou Tony entrando na sala. Para além dos Vingadores, Fury, Maria Hill e Loki encontravam-se na sala. Apesar dos protestos de Steve e Fury, Thor insistira para que Loki fizesse parte do plano. 
-O Magneto deve saber de certeza que queremos ir atrás dele para resgatar a Bridget, mas não me parece que desconfie que sabemos a sua localização - alegou Clint - por isso podemos contar com o efeito surpresa.
-Não vai ser fácil e já falharam uma vez. Têm ser rápidos, preciso e metódicos - disse Fury.
-De que nos vai valer trazer a Bridget se o Magneto a pode vir buscar outra vez? - comentou Loki - ela própria disse que não queria passar o resto da vida a fugir. Esta missão não vale de nada se não acabarmos com o Magneto. 
-O Loki tem razão - apoiou Thor.
-O problema são os mutantes - fez Steve ver - estivemos demasiado ocupados com ele para nos preocuparmos com Magneto. São muitos e fortes. 
-Eu acho que posso ter a solução para isso. Recolhi algumas amostras do poder de Bridget quando fizemos a preparação para a batalha. Acho que consigo ter a ajuda da Ciência para criar uma arma que possa neutralizar os mutantes durante tempo suficiente para resgatar a Bridget e acabar com Magneto - disse Bruce. 
-E quanto tempo vai demorar essa arma a fazer? - perguntou Loki. 
-Está quase pronta - afirmou Tony - eu e o Bruce tínhamos começado a fazê-la em caso de plano de reserva. Um dia ou dois e está pronta. 
Entreolhámo-nos todos. Daquela vez não podíamos falhar. 

*

Ponto de vista de Bridget

Os dias seguintes foram muito cansativos. Magneto exigiu o meu máximo, ensinando-me todo o tipo de coisas. Comecei a conseguir mexer objetos com a mente, o que exigia um grande esforço da minha parte. Também aumentei a potência dos meus escudos, ondas e choques eletromagnéticos. Mas eu sabia que ainda não tinha atingido o meu potencial máximo. E então uma ideia começou a formular-se-me na cabeça. Se eu levasse Magneto a pensar que já tinha atingido o meu máximo potencial ele ficaria a pensar que sabia com que estava a contar em relação aos meus poderes. Mas se ele não soubesse que eu tinha poderes para muito mais, talvez houvesse a hipótese de eu o conseguir derrotar, ou pelo menos escapar dali. 
Para levar o meu plano avante comecei a mostrar a Magneto que queria mesmo alcançar o máximo dos meus poderes e a fingir esforçar-me ao máximo, o que pareceu agradar a Magneto. Ele pensava mesmo que eu estava finalmente a entregar-me ao mundo dele e a querer ser a melhor. Todo o treino e cansaço faziam-me pensar menos nos Vingadores, e a esperança de eles poderem vir ajudar-me também diminuía. 
Havia uma semana que tínhamos chegado à praia, que eu fiquei a saber que era uma ilha, quando numa noite em que eu não conseguia adormecer ouvi um ténue barulho vindo do corredor. Levantei-me e com o coração nas mãos abri a porta. Ia para gritar quando vi quem era mas ele tapou-me a boca com a mão e entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.
-Estás bem? - perguntou ele, vários arrepios a percorrer-me a espinha ao ouvir a sua voz novamente e ao estar ali de costas encostadas ao seu peito. Fiz um barulho abafado pois ele ainda estava a tapar-me a boca. Depois largou-a. 
-Sim - respondi num sussurro libertando-me dos seus braços e fitando-o de frente - que estás aqui a fazer, Loki?
O seu sorriso sarcástico apareceu-lhe na cara.
-Vim salvar a princesa.
Revirei os olhos.
-Não há tempo para sarcasmos. 
-Tenho de concordar comigo. Temos um plano. Heimdall conseguiu transportar-me para aqui sem que ninguém me visse, e vai fazer o mesmo com os outros. Vamos acabar com o Magneto, mas preciso de te levar para um sítio seguro primeiro.
-Não. Quero ficar aqui e lutar. E porque é que vieste tu?
Ele pareceu ficar ofendido.
-Sou o que consegue proteger-te melhor, e os outros sabem isso. Agora vamos.
-Já te disse que não vou. Eu também tenho um plano. O Magneto tem andado a treinar-me - para exemplificar, apontei a mão esquerda para uma mesa e elevei-a vários centímetros no ar - fi-lo pensar que já atingi o meu máximo potencial, mas não lhe mostrei todo o meu poder. Por isso ele não conta com isso. Eu posso ajudar a derrotá-lo. Eu quero. 
Loki franziu o sobrolho.
-Tens a certeza? Ele é teu pai.
Cruzei os braços sob o peito.
-Tu podes falar muito. 
Loki desviou os olhos. Parecia que cada palavra que eu dizia o magoava mais. 
-Esse não é o plano, Bridget. Os outros vão ficar danados comigo se virem que eu te deixei ficar.
-Não me importo. De qualquer forma como é que vocês iam lidar com o Magneto e o exército de mutantes ao mesmo tempo?
-O Banner e o Stark estão encarregues dessa parte. Têm uma arma que consegue neutralizá-los. Eles estão quase a chegar. 
Então eu perguntei a coisa mais inapropriada que podia ter perguntado naquele momento.
-Depois disto tudo... vais voltar para Asgard?
Loki sorriu levemente, não um sorriso de troça, apenas um pequeno sorriso. 
-Eu tenho de voltar. Ainda tenho vários anos para passar como prisioneiro. E lembra-te que se falharmos em Midgard Odin vai punir-me não só a mim mas também a Thor, tal como ele disse no dia do julgamento em que tu e ele me foram buscar. 
-Como é que está Nova Iorque a reagir a uma segunda batalha?
-Mais ou menos. Apesar de tudo, sabem que os Vingadores os salvaram outra vez, mas também sabem que desta vez o vilão não tencionava atingir as pessoas. E também não se conformam com o facto do vilão anterior ter estado a ajudar os Vingadores agora. 
-Estás mesmo a tentar redimir-te, Loki? 
Os seus olhos verde-azulados fixaram-se nos meus. 
-Não vou cometer o mesmo erro duas vezes, Bridget. Tu sabes disso. Agora, se vais mesmo ficar para a batalha, por mais que eu goste de te ver de pijama, veste qualquer coisa mais cómoda. Isto vai começar.