terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Luta

Quando comecei a ver que nunca mais dava com a porta do meu quarto e que estava a andar às voltas, percebi que estava completamente perdida num palácio enorme e desconhecido. Às vezes passavam pessoas por mim, mas tinha quase a certeza de que não me saberiam dizer onde era o meu quarto. No entanto, estava decidida a perguntar à próxima pessoa que visse. E foi quando pensava nisto que ouvi uma voz fria e familiar atrás de mim.
-Perdida, mortal?
Girei nos calcanhares, encarando Loki. Não tirara a sua armadura, tal como Thor, e tinha aquele sorriso presunçoso estampado na cara. 
-Não - respondi.
-Não mentes lá muito bem - afirmou ele.
-Diz o Deus das Mentiras em pessoa - cruzei os braços sob o peito, olhando desafiadoramente.
-Exatamente. Vês como chegaste lá? - inquiriu ele. Ok, provavelmente eu não era tão inteligente como o Deus maquiavélico e manipulador à minha frente, mas isso não significava que fosse burra!
-Estás a chamar-me burra? - interroguei.
-Talvez - ele encolheu os ombros.
Cerrei os punhos. Quanto mais eu falava e argumentava, mais aquele seu sorrisinho estúpido lhe crescia na cara. Só me apetecia arrancá-lo à estalada!
-Retira o que disseste - sibilei.
-E porque haveria?
-Estou a avisar-te - disse eu, falando calma e friamente.
-E eu estou cheio de medo.
Foi a gota de água. Uma onda invisível saiu de mim a toda a velocidade, lançando Loki contra a parede ao fundo do corredor, que neste momento estava vazio à exceção de nós dois. A onda de magnetismo fora muito mais forte e mais fácil de expandir do que aquelas contra a mobília no campo de treinos no dia anterior... mais forte até que a primeira vez que mandara Loki contra o vidro da cela no primeiro dia em que o vigiara.
Mas ele não se rendeu.
Levantou-se a custo, os punhos cerrados e o sorriso desvaneceu-se. Um golpe de magia verde veio contra mim e não consegui reagir a tempo, caindo no chão frio do corredor.


Ok, se era guerra que ele queria, era guerra que ele ia ter. Levantei-me, a raiva a irradiar de mim e projetei uma chicoteada de eletricidade e magnetismo. Nunca tivera grande noção da intensidade dos meus poderes, mas naquele momento senti-me poderosa. Loki desviou-se e sem saber como, multiplicou-se, pelo que fiquei rodeada de clones do Deus do Prejuízo.
-Que vais fazer agora, mortal? - ouvi dizer, mas não consegui distinguir qual dos Lokis tinha dito aquilo. Concentrei-me, projetando novamente uma onda. Era preciso dez vezes mais força e concentração para projetar uma onda capaz de varrer aqueles clones todos, mas a fúria alimentava o meu poder e não foi difícil expandir a onda. No momento em que esta tocou nos clones, eles desapareceram e o verdadeiro Loki caiu ao chão.
Ia começar a sorrir, mas mais um feixe de luz verde veio contra mim, só que eu consegui bloqueá-lo com o meu escudo. No entanto, Loki aumentou a potência do golpe e este trespassou o escudo, vindo direto a mim e atirando-me fortemente contra o chão duro e frio do corredor. Não reagi. Limitei-me a ficar deitada no chão, sem me mexer ou falar, quieta.
-Bridget? – lutei contra a vontade de arregalar os olhos quando ouvi a voz cautelosa de Loki. Era provavelmente a primeira vez que me tratava pelo meu nome verdadeiro e era impossível que ele estivesse realmente preocupado comigo, por isso só podia ser uma armadilha. Não respondi – Bridget, nem sequer foi um golpe assim tão forte…
Um arrepio percorreu-me a espinha quando o ouvi dizer tais palavras e quando o som de passos a caminhar na minha direção me chegaram aos ouvidos. Não sabia o que estava a fazer, não sabia o que Loki estava a fazer e não sabia o que estava a sentir. E eu não gostava de não saber as coisas.
Tinha os olhos fechados, mas sabia que Loki estava perto de mim. Então, sem que eu me conseguisse controlar, uma onda explosiva saiu de dentro de mim e arrasou Loki, lançando-o pelos ares. Não sabia como ainda ninguém ouvira os barulhos da nossa luta e como ninguém tinha passado por ali, nem donde viera aquela onda tão efervescente. Mas não podia mostrar a Loki que aquela onda não estava programada.
-Tens razão, Loki, não foi um golpe assim tão forte – proferi, ele agachado no chão. Cruzei os braços sob o peito, mas congelei ao ouvi-lo atrás de mim.
-Não podes enganar o Deus do Prejuízo, mentir ao Deus das Mentiras, Bridget – a voz dele estava muito perto de mim, mesmo atrás de mim… mas como, se eu o via à minha frente? E depois, à medida que o holograma à minha frente se desvanecia, percebi. Rodei nos calcanhares para encarar o verdadeiro Loki, furiosa, mas tentando não o demonstrar. Por pouco não choquei contra o peito dele, de tão perto ele estava. Recuei a tempo e agradeci a Deus por não ter caído, porque sabia que se isso tivesse acontecido Loki rir-se-ia de mim.
-Quem disse que te estava a tentar enganar? – olhei para cima, desafiando-o. Ele sorriu de forma presunçosa.
-Oh, eu só tenho um dedo que adivinha – respondeu, olhando-me da mesma maneira desafiadora.
-Claro que sim. E eu sou o Pai Nata…
-Há algum problema? – ouvi a voz trovejante de Thor, que dobrava a esquina do corredor e caminhava para nós naquele momento. Vinha sozinho e olhou desconfiado para Loki.
-Não – olhei de Thor para Loki e perguntei-me como é que eles nunca tinham notado que não eram irmãos verdadeiros até ao momento em que isso lhes fora revelado, se não tinham nenhuma parecença física que não o azul dos olhos – está tudo ótimo.
-Loki? – perguntou Thor. Este virou-se para Thor, mas ainda consegui distinguir a ponta dos lábios a contorcerem-se no seu sorriso trocista.
-Não podia estar melhor – e com isto passou por Thor e foi-se embora, sem olhar uma última vez para trás.
-Ele estava a chatear-te? – questionou Thor.
-Não. Não te preocupes – redargui, esperando que Thor não começasse a fazer mais perguntas. Agora que pensava nisso, fora uma infantilidade começar uma luta com um dos príncipes de Asgard, mesmo que fosse um prestes a ser condenado, em pleno palácio de Asgard. E se tivesse sido Odin ou Frigga a encontrar-nos? Que pensariam eles? Quais teriam sido as consequências?
-Ok. Está quase na hora de jantar.
Olhei discretamente para as minhas roupas, amarrotadas das quedas durante a luta.
-Eu vou só ao meu quarto e já lá vou ter.
-Sabes onde é a sala de banquetes?
Encolhi os ombros.
-Hei-de dar com ela.
-Como queiras – disse Thor e eu encaminhei-me para o meu quarto.

O palácio

Ponto de vista de Bridget

Heimdall era um Deus estranho, não que houvesse um Deus normal, mas mesmo assim. Era tão enigmático e parecia tão conhecedor… como se nos conseguisse ler a mente ou ver a alma, como se nos conhecesse desde sempre.
-Vais gostar de Asgard – disse-me Thor quando caminhávamos os três para o palácio – podes conhecer a Sif, o Fandral, o Volstagg, o Hogun…
Loki revirou os olhos e soltou um suspiro de desagrado.
-Há alguma coisa de errado, irmão? – perguntou-lhe Thor e suprimi um sorriso quando Thor me lembrou os padres.
-Oh, ele só tem inveja de teres tantos amigos – declarei. Loki lançou-me um olhar frio e furioso, mas não me importei. Estava mais preocupada com o que se erguia à nossa frente. 
O palácio de Asgard parecia de ouro, tão dourado e resplandecente. Subimos a escadaria e depois entrámos, os guardas a cumprimentarem Thor com vénias e a lançarem olhares de desprezo a Loki. 
Em seguida entrámos na sala do trono. Odin, pai biológico de Thor e adotivo de Loki, e rei de Asgard, sentava-se no trono dourado, imponente. Fez-me lembrar Fury porque também usava uma pala no olho, além de serem ambos membros de grande autoridade. 



Frigga, mãe biológica de Thor e adotiva de Loki, e rainha de Asgard, ocupou o seu trono ao lado do de Odin, também ela uma figura imponente, mas maternal.
-Thor, Loki - afirmou Odin, perscrutando-os. Sentia-me nervosa e depois Odin e Frigga observaram-me.
-Pais - sorriu Thor, correndo para eles e abraçando-os sem cerimónia. Loki e eu ficámos lado a lado, sem saber o que fazer, rodeados de guardas - é bom estar de volta.
-Ficamos contentes por estares aqui - afirmou Frigga e depois levantou-se, desceu a escadaria de ouro e colocou-se em frente de Loki - e tu também, Loki.
-Sim, tenho a certeza de que estão todos ansiosos por me julgar - respondeu ele, o sorriso presunçoso na cara e a voz carregada de sarcasmo.
Frigga virou-se para mim, esboçando um sorriso que me parecia ser um sorriso a tentar esconder a tristeza que sentia por Loki, porque ela ainda o amava como a um filho, tal como Thor ainda o amava como a um irmão. 
-E esta bela jovem é...
-Bridget Robinson - disse Thor - veio comigo para vigiar Loki. 
Pensei que Loki fosse sorrir novamente como fizeram quando estávamos com Heimdall, mas não o fez.
-É um prazer conhecê-la, Bridget - disse a rainha.
-Igualmente, majestade - fiz uma pequena vénia.
-Devem estar cansados da viagem. Podem ir para os vossos quartos. Alguém lhe indicará o seu quarto, Bridget - disse Frigga.
-Segundo os meus cálculos, isso faz com que reste eu - ironizou Loki.
-Não, Loki - Frigga olhou-o severamente - vais ficar no teu quarto. Ninguém lhe mexeu.
-O quê? - perguntou Odin, tentando não vociferar, mas ele estava tão chocado quanto eu, Thor ou mesmo o próprio Loki - não era suposto ele ficar preso?
-Sabes que Heimdall e outros o estão a vigiar. Peço-te, Odin, que o deixes fora daquelas masmorras - Frigga olhou para o marido com emoção no olhar. Odin suspirou. Amava demasiado a sua esposa para lhe dizer que não, e esta amava demasiado Loki para o sujeitar às masmorras. Não percebia como Loki podia merecer um amor tão puro como o de Frigga, e ele parecia também não perceber.
-Podem ir - disse Odin - o jantar será servido às oito em ponto.
Deixámos a sala do trono e de imediato perguntei a Thor:
-Também vou jantar com vocês?
Ele sorriu.
-Claro que vais. E o Loki também.
Este arqueou uma sobrancelha.
-Quem disse?
-A mãe foi demasiado generosa para contigo, por isso se pensas sequer que lhe vais fazer uma desfeita dessas e não aparecer no jantar, eu próprio faço questão que fiques nas masmorras! - vociferou Thor, parando depois à frente de uma porta - este é o teu quarto, Bridget. Se precisares de alguma coisa, podes chamar-me. Até logo.
-Adeus - afirmei. Eles foram-se embora e eu entrei no quarto. Era grande e majestoso, bem iluminado e limpo. Pousei a minha mala na cómoda, tirei alguma roupa e fui até à casa de banho privativa. Era muito grande, e se eu soubesse que ia ser uma convidada dos reis de Asgard, tinha trazido uma roupa melhor. Não que eu tivesse roupas à altura de Asgard. 

 

 

Tomei um banho, vesti-me e saí. Não me agradava muito a ideia de me aventurar sozinha pelo enorme palácio, mas ia aborrecer-me se ficasse no quarto. Por isso saí, e depois de algumas voltas, consegui encontrar a saída e passeei pelos jardins, que eram enormes e muito bem tratados.


A certa altura, alguém saltou para cima de mim, fazendo-me cair ao chão.
-Quem és tu? - perguntou uma voz de mulher e estava pronta a usar os meus poderes para a tirar de cima de mim quando ouvi uma segunda voz.
-Sif, deixa-a. Ela está comigo - reconheci a voz de Thor e o peso em cima de mim desapareceu. Respirei ofegantemente, virando-me para ver uma linda rapariga de cabelo preto e olhos azuis, porém, com um aspeto feroz e até mortífero. 
-Oh - disse ela, estendendo uma mão para me ajudar a levantar, que eu não aceitei, levantando-me sozinha - não sabia. Com essas roupas, pensei que fosses um intruso. Desculpa.
-Não faz mal - disse eu - é assim que as pessoas da Terra se vestem.
-Midgard? - questionou ela e assenti com a cabeça, pois era esse o nome que os asgardianos davam ao planeta dos humanos.
-Espero que ela não te tenha dado muitos problemas - disse uma outra voz, agora masculina. Um homem louro de aspeto pomposo caminhou até mim e pegou na minha mão, os seus lábios mal tocando na pele da minha mão.
-Au! - disse ele, retirando a sua mão de imediato e olhando-me com um ar chateado - a Sif foi a que te magoou e eu é que pago?
Olhei-o, estupefacta. Não fora eu, a sério! Não tinha feito nada! Não que quisesse que aquele homem estranho me pegasse na mão, mas eu não fizera nada para o impedi!. 
-Não... - um pensamento atravessou-me a mente, mas abandonei-o logo. Não podia ser - desculpa - acabei por dizer.
O homem sorriu, o seu ar chateado desvanecendo-se por completo.
-Não faz mal! - exclamou ele jovialmente - eu sou o Fandral, e eu, Volstagg e Hogun somos conhecidos como os Três Guerreiros!
Ia perguntar quem eram Volstagg e Hogun quando apareceram vindos de não sei onde um homem forte e imponente com cabelo e barbas longos e ruivos a comer uma perna de frango e outro mais pequeno de aspeto asiático.
-Volstagg é o que está a comer a perna de frango - apresentou Fandral, como que a censurá-lo - e o outro é Hogun. 
-Olá - cumprimentou Volstagg com a boca cheia. Hogun acenou levemente e fez-me lembrar Clint, enquanto que Sif me lembrava de Natasha e Fandral de Tony. Não os via há poucas horas, mas já tinha saudades deles...
-E em conjunto são a Sif e os Três Guerreiros - finalizou Thor e percebi que aqueles quatro eram os seus melhores amigos em Asgard. 
-Prazer em conhecê-los - afirmei.
-O prazer é todo nosso - sorriu Fandral. Passei com eles um bom bocado e falámos sobre a Terra e Asgard, sobre as aventuras deles, etc. Depois retirei-me, mas eles continuaram sentados no jardim a conversarem e a rirem. Achei que mereciam alguma privacidade, aqueles quatro velhos e bons amigos. 

Asgard

Quando cheguei à sala principal de operações, reencaminharam-me para o gabinete privado de Fury. Já lá tinha estado uma ou duas vezes, mas nunca me sentira tão nervosa. Bati à porta e a voz de Fury autorizou-me a entrar.
O gabinete de Fury era simples, com mobília de madeira e pouca decoração. Fury encontrava-se sentado na sua cadeira preta de escritório e Thor numa cadeira de madeira que mal dava para se sentar.


-Chamou, diretor? – perguntei, fechando a porta atrás de mim. Senti-me como uma menina prestes a ser repreendida pelo diretor da escola.
-Sim, agente Robinson. Sente-se – pediu ele. Sentei-me ao lado de Thor, parecendo uma boneca pequena comparada com o tamanho do Deus asgardiano. Este esboçou-me um pequeno sorriso, que eu retribuí.
-O julgamento de Loki já foi marcado – disse Fury e senti um aperto no estômago, vindo de sei lá de onde. Fiz por permanecer serena, mas por dentro o meu nervosismo acabara de aumentar – decorrerá em Asgard daqui a duas semanas, onde ele será julgado pelos crimes que cometeu aqui na Terra.
-Pensava que ele já estava condenado a passar o resto da vida na prisão…? – questionei, confusa.
-A minha mãe deseja que o Loki seja julgado de forma justa pelos asgardianos – afirmou Thor – e quer que Loki fique lá.
-Ok, mas o que é que eu tenho a ver com o assunto? – interpelei, sem querer ser indelicada.
-Pedi ao Thor para escolher uma pessoa para o acompanhar a ele e ao Loki na sua ida a Asgard e ele escolheu-te a ti – informou Fury. Fiquei espantada. Eu conhecia Thor há tão pouco tempo! Como é que ele me podia ter escolhido a mim? Olhei para Thor, à espera de uma explicação.
-Pareces a pessoa indicada para colocar o Loki nos eixos se algo correr mal – afirmou ele – e se te estás a perguntar acerca dos Vingadores, prefiro que fiquem aqui caso aconteça algo mau neste planeta. Antes de te conhecer ponderei em levar um guarda armado, mas tu pareces ser a pessoa certa.
Engoli em seco. Por um lado, era lisonjeador que Thor me tivesses escolhido, mas por outro lado não estava certa se queria ir a Asgard assistir ao julgamento de Loki. Seria por me sentir intimidada pelo estatuto de Deuses e pela diferença de culturas entre a Terra e Asgard? Afinal, era outro planeta! Ou seria por temer o que aconteceria a Loki depois do julgamento? Não, claro que não! Definitivamente, a primeira razão era a única possível.
-Então, agente Robinson, vai aceitar? – interrogou Fury, inspecionando-me com o seu único olho visível. Engoli em seco. Por mais que detestasse Loki, esta era uma excelente oportunidade para me tornar mais amiga de Thor. Ele confiara em mim e cabia-me a mim mostrar que era digna dessa confiança.
-Sim – declarei – eu aceito.
-Eu sabia que ias! – exclamou Thor, dando uma palmada nas costas da minha cadeira que me ia deitando ao chão – desculpa.
-Não faz mal.
-Vá preparando as suas coisas, agente Robinson – avisou Fury - partem amanhã.
O meu queixo caiu, literalmente. Amanhã? Mas isso era, bem… isso era amanhã! Era demasiado cedo! 
Mas não consegui replicar ao ver o sorriso de entusiasmo estampado na cara de Thor.

*

No dia seguinte, levei a minha mala até ao aeroporto, esperando pela chegada de Thor e de outros polícias armados que iam buscar Loki à sua cela. Steve, Tony, Bruce, Natasha e Clint foram ter comigo.
-Não deixes o Loki chatear-te muito – disse Steve.
-Qual quê, diverte-te, miúda! – exclamou Tony – vais estar num planeta novo, ninguém te vai poder dizer o que podes ou não podes fazer…
-Não é bem assim, Tony – advertiu Bruce.
-Boa sorte – interrompeu Natasha e Clint acenou levemente com a cabeça.
-Obrigada - agradeci. Conhecia os Vingadores já há um mês e todos eles pareciam boas pessoas. Steve era sério, responsável, generoso e leal, e o líder dos Vingadores, sempre pronto a servir o seu país. Tony era charmoso, mulherengo, engraçado e sarcástico, e o extrovertido do grupo. Thor era corajoso, leal, bondoso, e desejoso de atenção. Bruce era sério, calado, misterioso e inteligente, sendo o cientista do grupo. Natasha era misteriosa, e distante ao início, mas simpática e divertida no fundo. Clint era forte, reservado, impulsivo e prudente. 
Thor e Loki chegaram, com alguns guardas à volta. Loki devia ter um qualquer dispositivo que permitia à S.H.I.E.L.D ver onde se encontrava e pensei se ir só eu e Thor com ele não seria má ideia. Quer dizer, ele era o Deus do Prejuízo e das Mentiras! Quem sabe o que ele podia fazer?
Loki cruzou o olhar comigo e o seu sorriso presunçoso cruzou-lhe o rosto. Olhei-o maldosamente, mas acho que isso apenas contribuiu mais para o seu sorriso aumentar.
-Vamos – trovejou Thor, agarrando Loki por um braço. Como não percebia muito de Ciências, apenas sabia que Bruce e Tony conseguiram criar um portal interdimensional que nos levaria ao planeta de origem de Thor, Asgard. Coloquei-me do outro lado de Loki e senti-me sugada por um vórtice imenso. 

*

Ponto de vista de Heimdall (Deus dos Portais) 

Senti de imediato a presença de três seres fortes, dois bastante conhecidos. Sabia que eram Thor e Loki, príncipes de Asgard, mas não conhecia a terceira pessoa que vinha com eles. Como Deus dos Portais e Guardião dos Mundos, consigo sentir a presença de quem quer que chegue a Asgard e vigiar qualquer pessoa que me peçam. Claro que estava encarregue de vigiar Loki, e conseguia sentir uma forte mas subtil ligação entre ele e a terceira pessoa.
O meu reino era Asgard, um planeta pertencente aos Nove Reinos, dos quais também Midgard (ou Terra) fazia parte.

Asgard

O meu posto de trabalho é Bifrost, uma ponte que liga Asgard a Midgard.

Bifrost

Vi-os a virem ter comigo, Loki no meio, Thor de um lado e a terceira pessoa misteriosa do outro. Era uma mulher, loura e de olhos verdes, mas mais nada sabia acerca dela. Thor sorriu ao ver-me, abraçando-me, sem se preocupar com a minha armadura.
-Heimdall! - disse ele.
-É bom tê-lo de volta, Thor - cumprimentei.
-É bom estar de volta a casa, mas trata-me por tu, Heimdall - pediu Thor. Depois olhou para Loki, como que à espera de uma manifestação da parte dele. Loki limitou-se a olhar-me.
-Esta é a Bridget - interrompeu Thor - escolhi-a para vir comigo porque consegue lidar com Loki.
Loki fez uma expressão de troça e Thor olhou-o severamente. Bridget parecia bastante intimidada com a minha presença, por isso perguntei-me de que forma conseguiria ela lidar com Loki.
-Prazer em conhecê-lo – afirmou ela, fazendo uma pequena vénia.
-O prazer é todo meu – respondi, olhando-a enigmaticamente.
-Temos de ir para o palácio agora – disse Thor – vejo-te por aí, Heimdall.
-Não duvides – respondi, mirando-os uma última vez. Depois, desapareci para observar os mundos. 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Saco de boxe

Ponto de vista de Bridget

A raiva ainda me corria velozmente pelas veias quando deixei a cela de Loki. Decidi ir até lá fora, respirar ar puro e ver o mar. Enquanto mirava as águas escuras, alguém se aproximou.
-Foram palavras duras aquelas que disseste ao Loki – olhei para o lado, observando Steve Rogers a debruçar-se sobre o mar e a pôr as mãos na borda do porta-aviões.
-Ele mereceu – respondi.
-Bom, sabes, toda a gente anda a comentar o que lhe disseste, porque nunca ninguém, nem mesmo Thor, lhe tinha dito tão diretamente o que todos pensavam, desde a batalha em Nova Iorque – afirmou ele.
-Eu nunca tive a necessidade de ser assim com alguém. Ele é…
-Imprevisível - interrompeu Steve.
-Exato – concordei. Suspirei. O barulho de um helicóptero a aproximar-se e os passos dos agentes encheram-me os ouvidos. Dei meia volta e olhei por cima do ombro para Steve – queres vir treinar comigo no ginásio?
Ele sorriu.
-‘Bora.
Franzi o sobrolho.
-Andas a aprender calão com o Stark? – inquiri, sorrindo.
-Talvez – Steve sorriu também e encaminhámo-nos para o ginásio. Este era espaçoso e estava cheio das mais diversas máquinas: passadeiras, máquinas de musculação, cordas, bolas, pesos, sacos de boxe, entre outros equipamentos que não conseguia identificar. Não havia muita gente lá, já que os agentes só costumavam ir lá na pausa para almoço ou depois das cinco da tarde.


-Então, que te apetece fazer? – perguntou Steve. Examinei as máquinas, mas já antes de entrar no ginásio sabia o que queria fazer.
-Não costumo vir muito ao ginásio – confessei – mas acho que neste momento os sacos de boxe estão a chamar por mim. 
Steve sorriu, compreendendo.
-São uma boa escolha para descarregar a raiva e descomprimir – pegou num dos sacos do chão como se fosse uma almofada e pendurou-o numa saliência própria no teto. Depois de verificar que estava firme e bem preso, Steve disse:
-Faça favor.
Engoli em seco, posicionando-me à frente do saco. Sentia-me intimidada pela figura forte e imponente de Steve, mas tentei imaginar o saco de boxe como sendo a cara de Loki. Sorri com este pensamento e comecei a esmurrar-lhe a cara… a esmurrar o saco, desculpem. Quando acabei, Steve sorria.
-Nada mau – afirmou, acenando com a cabeça.
-Não vais dizer “Nada mau para uma rapariga?” – perguntei, lembrando-me do machismo de Loki.
Ele abanou a cabeça.
-Já vi muitas mulheres soldado e uma coisa que aprendi foi a não subestimá-las – garantiu ele.
-É a tua vez – declarei. Desviei-me para o lado e Steve posicionou-se à frente do saco. Uma imagem vale mais que mil palavras.



-Uau – exclamei, fixando o saco estendido no chão e a areia que o enchia espalhada pelo chão. Steve coçou a parte de trás do pescoço, preocupado.
-Pois, provavelmente não foi uma boa ideia – alegou. Ainda estava chocada com a força dele, mas segui-o quando o Capitão América se abaixou para começar a limpar o chão.

*

Almocei com Steve no bar da S.H.I.E.L.D. depois de termos acabado de limpar o chão do ginásio e mais tarde Natasha e Clint Barton juntaram-se a nós. Era evidente que eles gostavam um do outro mais do que como apenas amigos, mas nenhum deles parecia gostar de dar o braço a torcer.
-Preciso de ir falar com o Fury agora – disse Steve quando acabámos de almoçar – queres ir para o campo de treinos logo à tarde?
Acenei afirmativamente com a cabeça , dirigindo-me ao meu quarto. Cada agente tinha um compartimento pessoal com casa de banho privativa, mas muitos dos quartos estavam desocupados. Estes eram todos iguais, mas eu personalizara o meu com quadros de avisos, posters de filmes, etc. Aproveitei para ir até à casa de banho lavar os dentes e pentear o cabelo.
Mais tarde, fui ter com Steve ao campo de treino, uma sala grande e acolchoada com colchões azuis, com paredes, teto e chão resistentes a super poderes. Havia um armazém adjunto ao campo para quem quisesse ir buscar obstáculos para treinar, como muros, bancos, escudos, etc.
-Pronta para começar? – perguntou ele.
-Sim – assenti. Ele pegou no seu escudo de Capitão América. Tínhamos planeado uma série de exercícios e o primeiro consistia em ele lançar o seu escudo contra a minha barreira magnética, de forma a testar e reforçar a minha barreira. Eu precisava realmente de desenvolver os meus poderes, mas nunca tivera tempo, oportunidades ou vontade de o fazer.
Posicionei-me a meio do campo, concentrando-me no ambiente à minha volta, sentindo o magnetismo dentro de mim e tentando expandi-lo para formar uma barreira ou um escudo à minha volta. Steve colocou-se à minha frente, alguns metros a separar-nos, e lançou o seu escudo contra a minha barreira. Esta tremeu quando o choque se deu, mas resistiu à medida que o escudo fazia ricochete e Steve o apanhava. Praticámos este exercício mais meia dúzia de vezes e depois passámos ao seguinte.
Steve posicionou uma série de mobília pesada à minha frente, de forma a que as minhas ondas magnéticas invisíveis a “varressem” e atirassem contra a parede à minha frente. Steve ficou de pé a meu lado, enquanto eu atirava a custo a mobília contra a parede.
-Devo admitir que é mais fácil mandar o Loki pelos ares do que o raio desta mobília pesada – afirmei. Steve soltou uma leve gargalhada.
-Principalmente quando te apetece mesmo mandá-lo pelos ares. Ele parecia um boneco – notou Steve.
-Ele irrita-me como ninguém, é… - fui interrompida pela porta do campo a abrir-se, Bruce a entrar com uma bata de laboratório e os óculos a escorregarem-lhe pela cana do nariz.
-Fury e Thor querem falar contigo, Bridget – declarou ele. Franzi o sobrolho. Fury falara comigo naquela manhã para me dizer que já não era preciso eu vigiar Loki, por isso porque é que ele me queria agora? E Thor?
Despedi-me deles e à medida que me encaminhava para a sala de operações, não pude deixar de pensar que a conversa iria ter a ver com um certo Deus arrogante, cruel e enigmático. Loki. 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Humanidade

Passaram três semanas desde que Fury me dera a missão de vigiar Loki. Ele estava sempre a tentar exaltar-me, mas não fez nenhum comentário suficientemente grave que me levasse a usar os meus poderes magnéticos outra vez. Claro que continuámos com a nossa “novela” como Tony apelidou às nossas conversas. Ele provocava-me, eu respondia, ele sorria maleficamente e ficávamos em silêncio até ele retomar a conversa.
Também comecei a dar-me mais com os Vingadores, almoçando com eles. Fui ter ao campo de treinos com Steve uma vez e Natasha fez-me uma visita na sexta-feira de manhã à cela de Loki.
Estava sentada na cadeira em frente a ele, a ler um livro, quando ela entrou, vestida com o seu uniforme preto e sensual.
-Oh, vejam só quem chegou – afirmou Loki com um tom sarcástico na voz.
-Poupa-me, Loki – afirmou ela, caminhando na minha direção e lançando um breve olhar a Loki e depois olhando novamente para mim – o Fury quer ter uma conversa contigo. Tu sabes, para ver se está tudo a correr bem… com ele – fez um movimento com a cabeça na direção de Loki.
-Podias ter mandado SMS – comentei.
-Vim vigiá-lo - declarou ela.
-Ok! – exclamei, talvez mais entusiasticamente do que deveria, mas era bom ter algum descanso daquele trabalho monótono sem ser apenas à hora de almoço e à noite. No entanto, Loki não parecia tão satisfeito, mas apressei-me a sair dali e a ir ter com Fury.
-Então, como estão a correr as coisas com o Loki? – interrogou ele, assim que cheguei à sala de operações principal.
-Está tudo normal – aleguei, olhando pelo vidro para os helicópteros e aviões a descolar e a aterrar lá fora – está sempre a tentar manipular-me e a tentar deitar-me abaixo, mas não é como se estivesse a resultar.
-Boa, porque estou a dispensar-te desse trabalho – declarou ele, sem mais nem menos. Arregalei os olhos, admirada.
-Mas só passaram três semanas! Chegou à conclusão de que eu não era a pessoa indicada para o trabalho? – arrisquei.
-Não, cheguei à conclusão que eras a pessoa demasiado indicada.
-O quê? – perguntei, confusa.
-Reuni-me com alguns dos outros dirigentes e chegámos à conclusão de que o Loki tem passado estas semanas demasiado feliz para o nosso gosto.
-Estás a dizer-me que devo ser mais dura com ele? – questionei.
-A questão não é essa, agente Robinson – admitiu Fury - confesso que os Vingadores têm vindo ter comigo alertar-me para o facto de estar a desperdiçar os teus poderes com algo que não nos é produtivo, com algo que pode ser facilmente feito por outra pessoa. Não tinha percebido isso, apesar de também me teres avisado, mas agora percebo que os teus poderes podem e devem ser usados para outros fins, fins mais dignos e produtivos.
-E em relação ao facto de ser demasiado branda com Loki?
-Vamos pôr gente que o ignore completamente e que não lhe dê motivos para se divertir.
-Então é isso que eu sou? Uma fonte de divertimento para ele? – perguntei, indignada.
-Não foi isso que quis dizer – disse Fury – só estou a dizer que Loki, bom, gosta dessas vossas conversas sarcásticas e nós não nos podemos dar ao luxo de ele ficar confortável.
Não sei porquê, senti um baque no coração quando ouvi Fury pronunciar tais palavras. Só estou a dizer que Loki, bom, gosta dessas vossas conversas sarcásticas…
Eu não acreditava muito nisso. As conversas podiam dar-lhe algum gozo, mas pensei que Loki as achasse irritantes e inúteis. Porque era isso que eu achava.
-Então, quem é que me vai substituir? E que é que vou fazer? – averiguei.
-Guardas armados, para que Loki caia no desespero. Não há nenhuma missão para que seja necessária neste momento, agente Robinson, por isso acho que por agora pode fazer o que lhe apetecer...
-Oh – foi tudo o que consegui dizer. Não sabia definir os meus sentimentos naquele momento. Sentia-me confusa, feliz, triste, inútil… não gostara daquele trabalho no início e claro que preferia estar a trabalhar em missões mais entusiasmantes, mas ao fim de algum tempo começara a habituar-me a levar o meu trabalho cada vez mais a sério… e agora Fury voltara com a sua palavra atrás e estava oficialmente a dispensar-me.
-Não fique triste, agente Robinson e não leve isto como um ultraje à sua importância e valor. Sei que é poderosa e é por isso que lhe sugiro que treine e desenvolva os seus poderes – as súbitas mudanças de Fury de se dirigir a mim por você ou por tu já não me baralhavam, pois já me habituara a elas. Era possível que Fury só me estivesse a pedir para treinar para eu não me sentir tão vazia e inútil, mas quis acreditar que era por uma causa maior. Talvez… talvez Fury quisesse que eu usasse os meus poderes para algo maior. Algo como… algo como a equipa de super-heróis mais famosa e poderosa do momento...
Algo como os Vingadores.


*

Depois de receber a notícia de que estava fora da missão de vigiar Loki, tentei não ficar triste, mas também não ficar com falsas esperanças em relação ao uso dos meus poderes. Ia encaminhar-me para o campo de treinos quando me apercebi que deixara o meu livro no posto de vigia em frente à cela de Loki, pelo que me dirigi até lá. Cruzei-me com Natasha na porta.
-Vou chamar os guardas que o vêm vigiar. O teu livro está na cadeira. Até logo – disse ela.
-Adeus – afirmei e quando ela saiu fui buscar o meu livro à cadeira.
-Então, vais-te embora? – ouvi a voz de Loki, fria e distante como sempre.
-Sim. Finalmente – tentei sorrir, mas qualquer pessoa podia perceber que era um sorriso forçado.
-Não é que tenha pena, mas confesso que me proporcionavas uma fonte de diversão – cerrei os punhos quando ele disse isto, mas ele continuou – agora com estes guardas aborrecidos não vou poder fazer nada de divertido, não vou poder gozar com eles nem…
-Nem vais poder sentir a ira do meu poder – salientei e ele sorriu sarcasticamente.
-Nem sequer é assim tão doloroso – argumentou.
-Queres que te refresque a memória, Loki? – perguntei, agora eu com um sorriso irónico.
-Não é preciso. Não sou estúpido ao ponto de me deixar humilhar duas vezes por uma mulher mortal.
Cruzei os braços sob o peito, a fúria a crescer dentro de mim. Sempre detestara comentários machistas.
-Então és machista?
Ele levantou as mãos em sinal de explicação, o sorriso ainda na cara.
-Sou um Deus.
Revirei os olhos.
-Um Deus estúpido, pelo que vejo! Queres que te demonstre o poder da humilhação provocado por uma mulher mortal, Loki?
-Não admito que me chames Deus estúpido, sua…
-E eu não te admito que te aches superior a todos ainda por cima quando saíste derrotado e estás enjaulado numa cela! – gritei eu, perdendo o controlo. Os olhos dele emitiram um brilho estranho ao mesmo tempo que o seu sorriso se abria ainda mais.
-E quem te disse que eu saí derrotado?
-Oh, então estás a dizer-me que o teu plano foi sempre ficar selado? Que a tua definição de vitória é passar o resto dos teus dias preso? Não tentes dar-me a volta, Loki!
-E tu não me tentes dizer o que devo ou não devo fazer! Sou um Deus!
-Não é o que deves dizer ou não, é o que tens de fazer ou não! – contrapus – e perdeste o estatuto de Deus quando decidiste fazer o que fizeste!
Loki avançou, ficando a centímetros do vidro.
-Como ousas dizer isso?
-Só estou a dar voz à realidade – afirmei, a voz novamente calma.
-Não me ponhas à prova, mortal…
-O meu nome não é mortal, é Bridget Robinson – cortei eu - e parabéns, Loki, porque não me vais voltar a exaltar dessa maneira. Destruir-te-ia antes que pudesses sequer tentar.
-Oh, a mortal está a sair da casca, hã? – troçou ele.
-Agora percebo porque Odin te baniu – declarei e isso foi a gota de água. Loki ficou enraivecido e espetou um murro no vidro. Fiz os possíveis para não piscar os olhos, mas tinha consciência de que nunca vira Loki tão furioso.



Ponto de vista de uma terceira pessoa (narrador não participante)

-Dói, não dói? – perguntou Bridget. Ela não sabia o que lhe estava a dar, mas naquele momento sentiu a urgência de deitar tudo cá para fora, de ser má pelo menos uma única vez na vida, de se fazer ouvir – ouvir a verdade!? Que não passas de um reles menino abandonado, a pensar que é homem, que é um grande Deus que pode dominar tudo e todos? Dói saber que estás sozinho no mundo, que toda a gente te abandonou e virou costas, porque foste demasiado cruel e orgulhoso para admitir as tuas falhas, para pedir desculpa, para sentir remorsos! No fim de tudo, Loki, foste apenas demasiado estúpido para ser humano! Não no sentido de nasceres na Terra, mas no sentido de conseguires amar, bem como sofrer! Perdeste essa capacidade, não perdeste, Loki?
Olhou-o fixamente, à espera de uma resposta, mas Bridget só obteve um olhar irado e uma expressão assustadora vindas dele. Com isto, abandonou a sala, demasiado cedo para conseguir ouvir Loki murmurar:
-Não, não perdi.
E depois teve de se lembrar que estava a ser vigiado e teve de morder o interior das bochechas com tanta força que fez sangue para que uma lágrima não lhe caísse pelo rosto, para que não demonstrasse fraqueza. Porque ela, aquela mulher mortal, estava parcialmente correta e parcialmente errada. Sim, ele ainda era um menino abandonado, frágil, que apenas precisava de ser amado, mas que fazia tudo para o esconder, e escondia-o debaixo de uma máscara fria, sarcástica, impenetrável.
Mas ela também estava errada. Loki, tal como ela, pensara que tinha perdido a sua humanidade, a sua capacidade de amar e sentir dor, mas algo nela… algo naquela simples mulher, naquela simples mortal… fizera despertar essa humanidade em Loki, por muito que lhe custasse admitir.
E agora ela tinha-se ido embora. 

Almoço

Fui até ao bar da S.H.I.E.L.D comer qualquer coisa. Steve, Thor, Tony e Bruce estavam lá, a comer qualquer coisa que eu não conseguia nomear. 


Pedi um hambúrguer de queijo duplo ao balcão e quando me ia sentar numa mesa sozinha, Tony chamou:
-Ei, Rapariga-Que-Deu-Cabo-Do-Loki-Com-Um-Só-Golpe, não te queres juntar a nós?
Encolhi os ombros.
-Ok - tirei uma cadeira e sentei-me entre Thor e Steve. 
-Então, foi uma grande surpresa, hã? Toda a gente estava à espera que puxasses o botão de emergência quando o Loki começou aquele grito ensurdecedor - disse Steve.
Encolhi os ombros.
-Não foi nada demais.
-És demasiado modesta - disse Tony.
-A humildade é uma das maiores características de um soldado - fez ver Steve.
-E de um herói - completou Bruce.
-E de um Deus - assentiu Thor.
-Não de um génio, bilionário...
-Galã e filantropo - completei e Tony sorriu.
-Exato.
-Aborrecida por teres de vigiar o meu irmão? - questionou Thor.
-Bastante - confirmei - ele é mesmo manipulador, o Fury avisou-me - olhei para a comida deles - que é que  é exatamente isso que estão a comer?
-Shawarma - responderam os quatro ao mesmo tempo. Tony acrescentou: - queres uma dentada?

Shawarma

-Nem por isso, obrigada. Contento-me com o meu hambúrguer. E tenho de o acabar depressa para voltar ao meu trabalho. Vejo-vos por aí - afirmei, quando acabei o hambúrguer. Fui buscar outro ao balcão uma vez que sabia que Loki ainda não almoçara.
-Devias passar pelo ginásio ou pelo campo de treinos um dia destes - sugeriu Steve - gostava de ver melhor os teus poderes.
-Com certeza - sorri e depois encaminhei-me para a cela de Loki. 

*

Nem sequer sabia porque estava a ser simpática para com Loki, mas isso não me impediu de lhe passar o hambúrguer pela portinhola da cela quando os guardas se foram embora.
-Porque raio me trouxeste isto? – escarniu ele.
-Ainda ninguém te trouxe o almoço, pois não? – perguntei, cruzando os braços sob o peito – então aí o tens.
-Não lhe vou tocar. Deve estar envenenado – contrapôs ele.
-Vê a minha cara de preocupada – afirmei, encolhendo os ombros e sentando-me na cadeira colocada em frente a ele – só te vai afetar a ti se escolheres comer o raio do hambúrguer ou não. A mim pouco ou nada me importa.
Peguei no livro que tinha trazido e comecei a ler, observando Loki discretamente a abrir o pacote de papel e a mirar o hambúrguer, desconfiado. Deu-lhe uma dentada pequena e a sua cara contorceu-se com desgosto.
-A comida dos mortais não presta – declarou.
-Não deves estar à espera que vá a Asgard trazer-te um banquete dos Deuses, pois não? – inquiri. Ao contrário do que esperava, Loki não ficou furioso. Pelo contrário, esboçou um sorriso maléfico. 


-Nunca encontrei ninguém com um sarcasmo tão parecido com o meu – mencionou, dando uma segunda dentada no hambúrguer.
-Estás a referir-te a mim? – perguntei, não tirando os olhos do livro.
-A menos que tenhas visão raio-X e consigas distinguir mais alguém aqui, sim estou a referir-me a ti, mortal - afirmou.
Nesse instante, o meu telemóvel apitou. Retirei-o do bolso, lendo a mensagem que recebera. 

(Clicar na imagem para aumentar)

Sorri e voltei a colocar o telemóvel no bolso. Quando ergui a cabeça, Loki fixava-me, parado em pé na sua cela.
-Oh, estavas à espera que te respondesse? – questionei. Ele revirou os olhos.
-Não espero nada de ti, sua mortal estú… - ia ele a dizer mas calou-se quando franzi o sobrolho. Sorri triunfantemente como se fosse uma miúda a pregar uma partida bem sucedida. Era inacreditável, mas começava a achar aquele trabalho divertido, pelo facto de alguém que queria dominar a Terra e quase destruíra Nova Iorque inteira se ter calado ao meu sinal. 
Consegui ler uma página inteira do livro sem que Loki falasse, mas assim que ele acabou o seu hambúrguer, disse:
-Pensei que as mulheres mortais só gostavam de revistas cor-de-rosa e não de livros grandes.
-Essa é a pior iniciativa de começar uma conversa que alguma vez ouvi – comentei.
-Não estava a tentar conversar contigo, mortal – afirmou ele – estava apenas a fazer uma observação.
-Bem idiota, por sinal.
-Vou considerar isso como um elogio.
Ergui a sobrancelha.
-Não deves receber muitos, pois não?
Ok, essa tinha sido má. Mas não que eu me importasse muito em ferir os sentimentos a um tipo que estava sempre a ofender e a querer prejudicar os outros. Ok, se calhar até me importava… não, claro que não.
-Que queres dizer com isso? – perguntou, com voz fria.
-Bom, só estou a dizer que as pessoas não te devem considerar a pessoa ideal para elogiar.  Mas de certeza que não te importas com o que tenho a dizer…

-Tens razão, não me importa o que dizes. Mas confesso que sinto alguma curiosidade… não sentes, admite lá, nem uma pontinha de medo pelo meu historial, pelo meu passado, pelos meus truques? Por aquilo que consigo fazer?
Olhei-o nos olhos, que eram uma mistura de azul, verde e cinzento. Ele tinha razão, eu tinha medo, nem que fosse só um bocadinho, eu sentia-o e sabia-o, mas se me custava admitir isso a mim mesma, quanto mais ao próprio Loki.
-Não - respondi, aguentando o seu olhar frio e avaliador. Depois ele esboçou novamente aquele sorriso maquiavélico. 
-Tens a certeza?
Levantei-me da cadeira.
-Queres que eu to prove?
Ele recuou alguns passos, com as mãos levantadas em sinal de rendição, mas o sorriso nunca lhe saiu da cara.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Loki

O helicóptero aterrou e de imediato dezenas de oficiais armados correram para ele, vigiando Loki enquanto ele descia a rampa rodeado de polícias. Observei tudo da sala de comandos e operações, mas todos os Vingadores quiseram ir lá fora. Esperei pacientemente que eles entrassem nas instalações da S.H.I.E.L.D e observei através das câmaras os oficiais a prenderem Loki.





-Está na altura de começar, agente Robinson – disse-me Maria Hill, uma agente da S.H.I.E.L.D com quem eu já trabalhara algumas vezes – precisa que alguém lhe indique o caminho para a cela?
-Não, sei qual é – encolhi os ombros e suspirei. Depois dei uma última olhadela à sala de operações principal, respirei fundo e encaminhei-me pela porta. Antes de sair, ainda ouvi Maria dizer:
-Boa sorte, Bridget.
-Vou precisar – respondi, abrindo a porta e caminhando até ao subterrâneo, onde se encontrava a cela de Loki. Dois polícias armados encostavam-se à parede, um de cada lado, e levantaram a cabeça em jeito de aceno quando me viram entrar. Observei a cela. Parecia forte e resistente. Loki estava lá dentro, na cela vazia e bem iluminada.
-Ficas bem? – perguntou-me um dos guardas. Assenti com a cabeça, nervosa.
-Se precisares de alguma coisa, apenas clica no botão de emergência – disse o outro. Olharam para Loki com desprezo e depois saíram pelas portas pesadas, deixando-me sozinha com Loki. Sabia que havia câmaras de segurança a vigiar-nos e quando pensei que Loki ia simplesmente ficar especado no meio da cela, sem dizer nada, ele falou.
-Então esta é que é a tão falada guarda que me vem vigiar? – indagou, com escárnio na voz – confesso que esperava melhor. Sem armas, nem uniforme, nem nada…
Não sabia se devia responder ou não, mas como ele não parecia pessoa de desistir à primeira, falei.
-Agradeço que fiques calado para não tornar este trabalho ainda mais aborrecido, Loki – afirmei.
-Como te atreves a falar-me dessa forma, a mim, a um rei, a um Deus?
-Sim, Deus do Prejuízo – esquadrinhei.
-E porque raio te facilitaria eu a vida, sua simples e covarde mortal? – acusou ele, a voz cheia de desdém.
-Para que eu facilite a tua também – a minha voz tornou-se mais forte e segura à medida que as suas palavras me faziam ver que Fury tinha razão. Era quase como se os insultos me tornassem mais forte, me fizessem ser mais corajosa – porque não me importa o que possas pensar ou deixar de pensar acerca de mim, Loki, posso tornar a tua vida num inferno sem qualquer problema. E não preciso do consentimento de ninguém, não do Fury… não do Thor.
Na menção de Thor a sua expressão alterou-se, passando de desdenhosa e mesquinha a furiosa.
-Não voltes a mencionar esse nome. Nunca. Mais. 
-Porquê, tens medo dele? – cruzei os braços sob o peito e encarei-o desafiadoramente.
-Oh, mortal, há muita coisa que tu não sabes e aviso-te a teres cuidado. Posso estar selado, preso, encarcerado, mas não me tiraram os meus poderes. Posso brincar com a tua mente, criar ilusões…
-Agradeço-te por me desabafares o que podes fazer. Agora quando o fizeres, eu saberei.
Ele riu-se histericamente como um louco. O som era impossível de se aturar, como o som de uma sirene de unhas a arranhar esferovite… aquilo daria comigo em doida em pouco tempo. Também sabia que não era o seu riso normal, que era apenas uma ilusão para me fazer ir embora ou libertá-lo.
Então fiz a única coisa que sabia poder fazer. Olhei para Loki maldosamente, que continuava a emitir aquele barulho ensurdecedor.
Uma onda invisível propagou-se pela cela dele, atirando-o contra a parede de vidro do outro lado e o silêncio instalou-se.

*

Ponto de vista de Fury

-Que raio foi aquilo? – inquiriu Thor, inclinando-se para ver melhor as câmaras da sala de vigilância onde eu e os Vingadores nos encontrávamos.
-Uma onda eletromagnética de propulsões razoavelmente médias – declarou Bruce.
-De quem? – inquiriu Steve.
-Dela – afirmei, um sorriso a bailar-me os lábios. Qualquer guarda humano normal teria dado em doido com aquele barulho. Nós tivéramos de desligar o som para não endoidecermos, quanto mais Bridget, que estava mesmo ao lado de Loki. Fora por isso que a escolhera, porque eu sabia que ela agiria exatamente como agiu. 
-O quê? – inquiriu Clint.
-Sim, temos mantido os seus poderes em segredo – confirmei – mas a agente Robinson consegue controlar o magnetismo e criar ondas, choques e escudos eletromagnéticos.
-Então porque raio é que trabalha secretamente? Podia ser uma super heroína! – exclamou Tony.
-Talvez ela não queira – notou Steve – nem todos têm de ser espalhafatosos como tu, Stark. Talvez ela seja só um soldado.
-Ou talvez ela não seja poderosa o suficiente – alvitrou Natasha.
-Se ela não fosse não tinha atirado assim com o meu irmão – respondeu Thor – está bem que ele está preso, mas já vimos que continua a controlar os seus poderes tão bem como antes. Ela é poderosa. 

*

Ponto de vista de Bridget

Loki caiu com estrondo no chão da cela, interrompendo o súbito silêncio. Levantou-se a custo, mas recompôs-se e olhou-me com fúria.
-Como te atreves, sua estúpida mortal? - questionou.
-Ó paras de ofender os outros ou o teu rabo vai voltar a tocar no chão dessa cela - afirmei calmamente. Ele revirou os olhos.
-Não estou a ofender os outros. Estou a ofender-te a ti.
-Como queiras. Mas não é o que costumas fazer? - inquiri - não costumas ofender os outros só para te sentires melhor contigo mesmo?
-Afinal és uma guarda ou uma psicológica?
-Sou o que precisar de ser - argumentei. Ele olhou-me com desprezo. O telemóvel que tinha no bolso tocou. Era um número desconhecido. Atendi.
-Ei, Bridget, é a Natasha. Só para avisar que podes fazer uma pausa para almoço. Uns guardas devem estar aí a chegar para te substituir dentro de 3, 2, 1...
Nesse momento entraram dois guardas armados e Natasha desligou a chamada.
-E agora o que fazemos nós se Loki começar a gritar como gritou? - perguntou um dos guardas, mais para si próprio que para os outros.
-Ignora-o - encolhi os ombros - ele só o fez porque o provoquei.
-Tu não me provocaste, sua... - ia ele a dizer, mas fechei as portas com força antes de ouvir o que ele tinha para dizer, encaminhando-me para o bar da S.H.I.E.L.D.

Os Vingadores

Os Vingadores não podiam estar melhor: depois da vitória, em Nova Iorque, contra os Chitauri e Loki, irmão adotado de Thor, eram conhecidos por todo o mundo e de vez em quando ajudavam a S.H.I.E.L.D em novos casos. A S.H.I.E.L.D é uma organização com objetivo de realizar a contraespionagem e manutenção da lei e fora ela que me recrutara quando tinha 17 anos. Descobriram-me por causa do meu poder: magnetismo. Não é tão poderoso como outros que já vi, mas continuo a desenvolvê-lo. De qualquer maneira, como me visto de forma normal e não com fatos de super-herói, passo facilmente despercebida.

SHIELD Emblem 1
Símbolo da S.H.I.E.L.D

Mas voltando ao que interessa, trabalho na S.H.I.E.L.D há 6 anos e naquela manhã apresentei-me no trabalho à espera de um dia normal. A sede da S.H.I.E.L.D. era um enorme porta-aviões que voava e se podia tornar invisível, mas naquele momento estava parado no alto mar. Todos os funcionários que lá trabalhavam tinham a possibilidade de morar no gigantesco porta-aviões, em quartos privados, mas a S.H.I.E.L.D também disponibilizava helicópteros e aviões pequenos para quem queria ir e vir diariamente e dormir em casa. Eu preferia dormir no meu quarto, no porta-aviões.
Mas assim que Nick Fury, o diretor da S.H.I.E.L.D me chamou de parte, percebi que algo estava diferente.

Porta-aviões voador da S.H.I.E.L.D

Instalações interiores da S.H.I.E.LD

-Agente Robinson - começou Fury - tenho uma missão para si. Como sabes, Loki vai ser preso nas instalações da S.H.I.E.L.D, por isso quero que sejas tu a vigiá-lo durante o dia. Terás outros guardas a vigiá-los durante a noite e poderás trocar de turnos quando precisares.
Bolas. A sério? Eu? A vigiar Loki? Isso era apenas estúpido, inútil! Que grande missão! Para quem andara quase toda a sua vida em missões secretas por todo o mundo, podia dizer que não estava muito satisfeita com aquela missão. De facto, não estava nada satisfeita com aquela missão. 
-Porquê eu? - perguntei de forma demasiado insinuosa para não parecer insultuosa, mas naquele momento não me preocupei muito. Estava furiosa, embora tentasse não o demonstrar. 
-Achamos que é a pessoa indicada para o caso.
-Oh, muito obrigada - deixei escapar. Fury franziu o seu único olho visível - é só que não acho que tenha muito jeito para estar sentada o dia todo a vigiar alguém. Não sou feita para isso, diretor. Pensei que soubesse isso.
-E sei - ele assentiu lentamente com a cabeça e depois fui eu que franzi o sobrolho - mas ninguém o quer vigiar.
-Não é muito difícil perceber porquê - ironizei - então se ninguém quer porque tive de ser eu a escolhida?
-Era isso que ia dizer antes de me interromper, agente Robinson - continuou ele - Loki vai tentar ameaçar, deitar abaixo, gozar quem quer que esteja perto dele - fez-me sinal para me calar quando ia abrir a boca - mas pareces a pessoa indicada para o caso porque não fazes caso do que os outros dizem. Sabes que ele vai tentar jogar com a tua mente, levar-te a deixá-lo escapar, e tu és forte e segura, com convicções e objetivos. Sabes o que tens de fazer e não deixas ninguém impedir-te de o fazeres. É por isso que és a mais indicada para o papel.
Suspirei. Eram argumentos convincentes, mas não estava ansiosa pelo trabalho.
-E não encontraram mais ninguém que se adequasse a este trabalho? - inquiri.
-Ninguém com capacidades para, se a situação se complicar, conseguir fazer parar Loki, pelo menos durante tempo suficiente para chamar reforços e conseguir imobilizar a situação. Ele não te conhece, pouca gente sabe dos teus poderes, agente Robinson. Vai pensar que és uma simples humana, fraca e ingénua e vai tentar manipular-te.
-Isso até é lisonjeador, mas continuo a achar que não é o trabalho indicado para mim - referi. Talvez não fosse o facto de achar o trabalho aborrecido; talvez fosse o facto de não querer acarretar com tamanha responsabilidade - afinal, a culpa seria minha se algo corresse mal e Loki escapasse. Eu nunca fora muito dada a a arcar com grandes responsabilidades, tinha medo do compromisso.
-Por vezes, agente Robinson, temos de fazer coisas que não gostamos para depois podermos receber as que gostamos - contrapôs Fury.
-E se alguma coisa correr mal?
-Acreditamos que tem capacidades para prevenir que isso que aconteça. E caso aconteça, tem capacidades para remediar a situação, agente Robinson - afirmou Fury. Por aquela altura já sabia que não ia ganhar aquela batalha e que tinha mesmo que aceitar o trabalho, mas ainda me custava a interiorizá-lo.
-Esperemos que sim. Mas se algo acontecer, não me venham culpar a mim - arrisquei dizer - porque eu nunca quis fazer isto. Estou a ser obrigada.
Fury abriu a boca para responder, mas alguém interveio.
-Acho que nunca vi alguém argumentar tanto consigo, Fury. Está a perder as suas capacidades de argumentação? - virei-me para reconhecer Tony Stark, o homem que quando veste a sua armadura se transforma no Homem de Ferro. Ele sorriu-me e avançou, estendendo a mão.

    
Tony Stark/Homem de Ferro


-Tony Stark, também conhecido como Homem de Ferro, génio, bilionário, galã e filantropo - apertou-me a mão. Fury falou finalmente.
-Stark. Para meu grande espanto foste o primeiro a chegar. Onde estão os outros?
-Outros? - interroguei. Fury virou-se para mim.
-Sim. Sabia que não ias aceitar este trabalho de ânimo leve por isso decidi fazer-te uma surpresa - afirmou Fury.
-Bom, não é o meu aniversário - ironizei. Tony apontou para mim e depois deu meia-volta.
-Gosto dela. Divertimento sarcástico - depois abriu os braços e cumprimentou alguém que acabara de chegar - Bruce!
Adivinhei que era Bruce Banner, que me cumprimentou educadamente e depois a Fury.
O incrível Hulk.

 

Bruce Banner/Hulk


Bruce virou-se para mim.
-Então esta é que é...
Ouviu-se um estrondo e uma porta a bater furiosamente. Um homem louro e imponente entrou na sala, fazendo todas as pessoas que trabalhavam nas secretárias sobressaltarem-se. 
-Quem é que vai vigiar Loki? - vociferou, caminhando para nós. 
-Olá também para ti, Thor! - exclamou Tony animadamente. Thor era um Deus de Asgard, um planeta distante, e irmão de Loki, filho de Odin e Frigga.






Thor

Mas antes que qualquer um pudesse dizer fosse o que fosse entraram mais três pessoas na sala. Reconheci-os como sendo Clint Barton (Gavião Arqueiro), Steve Rogers (Capitão América) e Natasha Romanoff (Viúva Negra).

                                 
                                                   Clint Barton
Steve Rogers
Natasha Romanoff

Gavião Arqueiro, Capitão América e Viúva Negra

-Agora que estão aqui todos - começou Fury. Naquele momento, já ninguém ligava aos computadores à sua frente. Todos olhavam para o grupo de super heróis diante de nós, os Vingadores. Como eu praticamente sempre os idolatrara, estava muito entusiasmada por dentro, mas por fora tentava não o demonstrar, comportando-me de forma séria e racional - quero responder oficialmente à pergunta de Thor. Loki será guardado por oficiais experientes da S.H.I.E.L.D e maioritariamente pela agente Robinson - Fury apontou para mim. Todas as cabeças se viraram para mim, inspeccionando-me. Foquei-me num ponto na parede para não começar a envergonhar-me. Nunca gostara de chamar a atenção. 
-Nunca ouvi falar dela - disse Thor - como vou saber que é a indicada por vigiar o meu irmão?
-Isso é o que o Fury me tem estado a convencer durante os últimos dez minutos - fiz notar, agora olhando diretamente para Thor. A sua figura imponente e o seu estatuto de Deus e de super herói intimidavam-me, mas tentei manter-me segura e forte. Não estava mesmo nada ansiosa por vigiar Loki. Todos estavam vestidos casualmente, menos Thor, que vinha com o seu traje de Deus.
-Bom, Thor, nós temos as nossas razões para crer que a agente Robinson é a indicada para o papel. Não te preocupes, o Loki será bem vigiado - alegou Fury.
-Bom, mas porque nunca tive a oportunidade de ver esta bonita rapariga por aqui? - perguntou Tony. 
-Tem andado em missões um pouco por todo o mundo. Não se deixem enganar pelo seu ar jovem e inexperiente, porque ela é muito experiente - respondeu Fury.
-E como é o teu primeiro nome? - Natasha dirigiu-se a mim e fiquei contente por alguém ver que eu estava realmente ali e que sabia responder por mim própria.
-Bridget. Bridget Robinson - respondi. 
-Espero que estejas preparada, Bridget - disse ela - o Loki está a chegar.
Engoli em seco, observando as caras dos Vingadores à medida que o barulho de um helicóptero se fazia ouvir e aterrava no aeroporto adjunto à S.H.I.E.L.D. Thor foi até à janela, com os punhos cerrados. Steve e Clint observavam também a aterragem do helicóptero onde vinha Loki. Tony e Bruce sorriam e conversavam entre si e Natasha observava-me.
Oh, bolas. Eu não estava pronta para aquele tipo de responsabilidade.
Era demasiado grande para mim.