terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Luta

Quando comecei a ver que nunca mais dava com a porta do meu quarto e que estava a andar às voltas, percebi que estava completamente perdida num palácio enorme e desconhecido. Às vezes passavam pessoas por mim, mas tinha quase a certeza de que não me saberiam dizer onde era o meu quarto. No entanto, estava decidida a perguntar à próxima pessoa que visse. E foi quando pensava nisto que ouvi uma voz fria e familiar atrás de mim.
-Perdida, mortal?
Girei nos calcanhares, encarando Loki. Não tirara a sua armadura, tal como Thor, e tinha aquele sorriso presunçoso estampado na cara. 
-Não - respondi.
-Não mentes lá muito bem - afirmou ele.
-Diz o Deus das Mentiras em pessoa - cruzei os braços sob o peito, olhando desafiadoramente.
-Exatamente. Vês como chegaste lá? - inquiriu ele. Ok, provavelmente eu não era tão inteligente como o Deus maquiavélico e manipulador à minha frente, mas isso não significava que fosse burra!
-Estás a chamar-me burra? - interroguei.
-Talvez - ele encolheu os ombros.
Cerrei os punhos. Quanto mais eu falava e argumentava, mais aquele seu sorrisinho estúpido lhe crescia na cara. Só me apetecia arrancá-lo à estalada!
-Retira o que disseste - sibilei.
-E porque haveria?
-Estou a avisar-te - disse eu, falando calma e friamente.
-E eu estou cheio de medo.
Foi a gota de água. Uma onda invisível saiu de mim a toda a velocidade, lançando Loki contra a parede ao fundo do corredor, que neste momento estava vazio à exceção de nós dois. A onda de magnetismo fora muito mais forte e mais fácil de expandir do que aquelas contra a mobília no campo de treinos no dia anterior... mais forte até que a primeira vez que mandara Loki contra o vidro da cela no primeiro dia em que o vigiara.
Mas ele não se rendeu.
Levantou-se a custo, os punhos cerrados e o sorriso desvaneceu-se. Um golpe de magia verde veio contra mim e não consegui reagir a tempo, caindo no chão frio do corredor.


Ok, se era guerra que ele queria, era guerra que ele ia ter. Levantei-me, a raiva a irradiar de mim e projetei uma chicoteada de eletricidade e magnetismo. Nunca tivera grande noção da intensidade dos meus poderes, mas naquele momento senti-me poderosa. Loki desviou-se e sem saber como, multiplicou-se, pelo que fiquei rodeada de clones do Deus do Prejuízo.
-Que vais fazer agora, mortal? - ouvi dizer, mas não consegui distinguir qual dos Lokis tinha dito aquilo. Concentrei-me, projetando novamente uma onda. Era preciso dez vezes mais força e concentração para projetar uma onda capaz de varrer aqueles clones todos, mas a fúria alimentava o meu poder e não foi difícil expandir a onda. No momento em que esta tocou nos clones, eles desapareceram e o verdadeiro Loki caiu ao chão.
Ia começar a sorrir, mas mais um feixe de luz verde veio contra mim, só que eu consegui bloqueá-lo com o meu escudo. No entanto, Loki aumentou a potência do golpe e este trespassou o escudo, vindo direto a mim e atirando-me fortemente contra o chão duro e frio do corredor. Não reagi. Limitei-me a ficar deitada no chão, sem me mexer ou falar, quieta.
-Bridget? – lutei contra a vontade de arregalar os olhos quando ouvi a voz cautelosa de Loki. Era provavelmente a primeira vez que me tratava pelo meu nome verdadeiro e era impossível que ele estivesse realmente preocupado comigo, por isso só podia ser uma armadilha. Não respondi – Bridget, nem sequer foi um golpe assim tão forte…
Um arrepio percorreu-me a espinha quando o ouvi dizer tais palavras e quando o som de passos a caminhar na minha direção me chegaram aos ouvidos. Não sabia o que estava a fazer, não sabia o que Loki estava a fazer e não sabia o que estava a sentir. E eu não gostava de não saber as coisas.
Tinha os olhos fechados, mas sabia que Loki estava perto de mim. Então, sem que eu me conseguisse controlar, uma onda explosiva saiu de dentro de mim e arrasou Loki, lançando-o pelos ares. Não sabia como ainda ninguém ouvira os barulhos da nossa luta e como ninguém tinha passado por ali, nem donde viera aquela onda tão efervescente. Mas não podia mostrar a Loki que aquela onda não estava programada.
-Tens razão, Loki, não foi um golpe assim tão forte – proferi, ele agachado no chão. Cruzei os braços sob o peito, mas congelei ao ouvi-lo atrás de mim.
-Não podes enganar o Deus do Prejuízo, mentir ao Deus das Mentiras, Bridget – a voz dele estava muito perto de mim, mesmo atrás de mim… mas como, se eu o via à minha frente? E depois, à medida que o holograma à minha frente se desvanecia, percebi. Rodei nos calcanhares para encarar o verdadeiro Loki, furiosa, mas tentando não o demonstrar. Por pouco não choquei contra o peito dele, de tão perto ele estava. Recuei a tempo e agradeci a Deus por não ter caído, porque sabia que se isso tivesse acontecido Loki rir-se-ia de mim.
-Quem disse que te estava a tentar enganar? – olhei para cima, desafiando-o. Ele sorriu de forma presunçosa.
-Oh, eu só tenho um dedo que adivinha – respondeu, olhando-me da mesma maneira desafiadora.
-Claro que sim. E eu sou o Pai Nata…
-Há algum problema? – ouvi a voz trovejante de Thor, que dobrava a esquina do corredor e caminhava para nós naquele momento. Vinha sozinho e olhou desconfiado para Loki.
-Não – olhei de Thor para Loki e perguntei-me como é que eles nunca tinham notado que não eram irmãos verdadeiros até ao momento em que isso lhes fora revelado, se não tinham nenhuma parecença física que não o azul dos olhos – está tudo ótimo.
-Loki? – perguntou Thor. Este virou-se para Thor, mas ainda consegui distinguir a ponta dos lábios a contorcerem-se no seu sorriso trocista.
-Não podia estar melhor – e com isto passou por Thor e foi-se embora, sem olhar uma última vez para trás.
-Ele estava a chatear-te? – questionou Thor.
-Não. Não te preocupes – redargui, esperando que Thor não começasse a fazer mais perguntas. Agora que pensava nisso, fora uma infantilidade começar uma luta com um dos príncipes de Asgard, mesmo que fosse um prestes a ser condenado, em pleno palácio de Asgard. E se tivesse sido Odin ou Frigga a encontrar-nos? Que pensariam eles? Quais teriam sido as consequências?
-Ok. Está quase na hora de jantar.
Olhei discretamente para as minhas roupas, amarrotadas das quedas durante a luta.
-Eu vou só ao meu quarto e já lá vou ter.
-Sabes onde é a sala de banquetes?
Encolhi os ombros.
-Hei-de dar com ela.
-Como queiras – disse Thor e eu encaminhei-me para o meu quarto.

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