sábado, 25 de janeiro de 2014

Magneto

Estiquei a mão para abrir a pasta, mas Fury impediu-me, colocando a sua mão firmemente em cima da pasta.
-Temos de falar de algumas coisa primeiro antes de passarmos ao conteúdo desta pasta – declarou – Bridget, sei que nunca tiveste as respostas que querias acerca do teu passado, da origem dos teus poderes, de quem eras.
Franzi o sobrolho, engolindo em seco. Aonde ia aquela conversa chegar?
-Lembras-te da forma como os teus poderes "nasceram", não lembras? - interrogou Fury e eu assenti, vagueando pela mente à procura da memória.

------ Flashback -----

Era um dia nublado e sombrio e eu acabava de sair de um pequeno supermercado num dos bairros menos movimentados de Nova Iorque, atulhada de compras. Subitamente, três homens apareceram à minha frente, o líder a sacar de uma faca. Engoli em seco, o ritmo cardíaco a aumentar, tremendo de medo. Não estava ali ninguém sem sermos nós.
-Passa para cá o dinheiro - rosnou o líder - já.
Assenti, pousando os sacos e remexendo na carteira.
-Despacha-te - grunhiu o líder, aproximando-se, a lâmina da faca muito perto de mim. E então, sem saber como e de onde, um arrepio quente percorreu-me a espinha, uma emoção diferente de todas as que sentira. Senti a adrenalina a correr-me pelas veias e depois um escudo transparente projetou-se de mim e arrebatou os homens, atirando-os ao chão. Eu continuava a tremer, medrosa e confusa. Não sabia o que se passava comigo e as dúvidas sobre o meu passado, os meus pais e sobre quem era assolavam-me. Só consegui pegar nos sacos e voltar para o hotel em que me hospedara. Passado uma hora ou duas, eu ainda assustada e confusa, alguém bateu à porta do meu quarto de hotel. Abri-a. Era um homem negro, vestido com uma capa e tinha uma pala num olho.
-Boa tarde, Bridget. O meu nome é Nick Fury e acho que temos muito que falar.

----- Fim do flashback -----

A voz de Fury trouxe-me de volta à realidade.
-A verdade, Bridget, é que não te lembras de ter sido exposta a alguma experiência durante a tua vida, por isso essa não pode ser a razão da origem dos teus poderes. Quando te recrutámos para a S.H.I.E.L.D, tentámos encontrar a verdade por detrás dos teus poderes, mas presumimos que seria uma consequência do que te aconteceu ou então que fosse algo científico ou de genética – Fury olhou-me, abrindo a pasta lentamente. Uma fotografia de um homem de cabelo branco com um capacete na mão encontrava-se na primeira página. Um arrepio estranho percorreu-me o corpo, como se aquele rosto me fosse familiar, apesar de eu ter a certeza de nunca o ter visto na vida.
-Sabes quem é este, Bridget? – perguntou-me Fury, passado algum tempo. Fiz que não com a cabeça.
-O seu nome é Erik Lehnsherr, mais conhecido por Magneto – declarou Fury. Senti um baque ao reconhecer o nome. Magneto era um vilão com poderes poderosos, com quem a famosa equipa de super-heróis, X-Men, lutava – sabes quais são os seus poderes, Bridget?

Erik Lehnsherr, também conhecido por Magneto

Engoli em seco. Tinha uma vaga ideia e sabia onde Fury queria chegar. Mas não podia ser verdade.
-Ma… magnetismo – respondi, com voz sumida – tal como eu.
-Sim, só que os poderes dele estão muito mais desenvolvidos e ele sabe controlá-los na perfeição – completou Fury.
-Mas eu nunca o vi na minha vida.
-Há uma ligação óbvia nos vossos poderes e tememos que haja alguma espécie de vínculo entre ambos.
-Porque é que só agora é que me contou? – interroguei, chateada.
-Os teus poderes atingiram uma nova potência agora, Bridget. Só agora conseguimos fazer a ligação.
-Então, antes os meus poderes não eram suficientemente fortes para vocês poderem pensar que podiam estar relacionados com os poderes de Magneto? – questionei.
Fury acenou com a cabeça. Cerrei os dentes.
-Não pode ser – insisti – tem de haver outra explicação.
-E pode haver, Bridget – concordou Fury – mas até agora esta é a explicação mais plausível que possuímos.
-E agora, o que quer que eu faça? Vai mandar-me em missão?
-Não. O que eu quero, Bridget, é que o pares. Magneto tem planos para dominar a Terra. Os X-Men estão ocupados a lidar com outros assuntos. A única equipa suficientemente forte para fazer frente a Magneto e aos seus mutantes sem ter qualquer tipo de experiência com eles é os Vingadores.
-Mas eu não faço parte dos Vingadores.
-Mas tens potencial, Bridget. Só precisas de te aperceber disso e de treinares. Magneto está a avançar com calma, mas precisamos de o parar.
-Os Vingadores já sabem disto?
-Ainda não. Foste a primeira a saber – Fury olhou-me, acrescentando com voz urgente – Magneto está a aproveitar-se da euforia da vitória contra Loki para avançar. Sabe que as pessoas escondem a tristeza, a perda e a destruição por debaixo de toda aquela euforia. Os humanos nunca estiveram mais vulneráveis e Magneto sabe-o, e vai aproveitar. A partir de agora, preciso que todos treinem com afinco e que tu lhes possas dar algumas indicações de qual será a melhor maneira de derrotar Magneto. Preciso que lhes digas os pontos fracos dos teus poderes. Magneto pode estar a contar com uma equipa forte de super-heróis, mas não está a contar contigo, Bridget. Ao fim de tanto tempo a conseguir manter-te escondida, agora veio a vantagem. Agora temos o trunfo.
Engoli em seco, à medida que o peso da responsabilidade se abatia sobre mim. E se não fosse capaz? Depois lembrei-me de uma outra questão.
-Mas antes de me apresentar aos planos de Magneto estávamos a falar de Loki e dos planos que tinha para ele, Fury. Qual é, então, a relação dele a este caso?
-Loki, apesar de todos os seus erros, não deixa de ser poderoso. O meu plano é conseguir fazer com que ele lute ao lado dos Vingadores e de ti, Bridget. Quero que ele coopere connosco.
Abri a boca de espanto.
-Isso não me parece muito possível. Ainda há pouco tempo era Loki que queria dominar a Terra. Não seria mais certo ele juntar-se a Magneto do que a nós? – inquiri.
-Provavelmente – assentiu Fury - mas agora nós temos algo que o pode impedir. Ou melhor, alguém.
O olho de Fury fitou-me, como se visse através de mim. Era certo que ele não estava a falar de mim. Não podia.
-Não está a dizer-me que Loki se vai juntar a nós por causa de mim – afirmei.
Fury esboçou um pequeno sorriso.
-É exatamente isso que eu estou a dizer. Tu ajudaste-o, Bridget, e por mais tolo que te possa parecer, Loki sente-se em dívida para contigo. O próprio Thor o afirmou - mentalmente, suspirei de alívio por ele não enveredar por outros caminhos, caminhos que Tony, por exemplo, enveredaria. Como o amor - e se o Loki estava realmente sob o controlo do Tesseract, se calhar agora que voltou ao seu eu verdadeiro, quer tentar remediar-se, só que não o admite. E que melhor hipótese de se remediar do que agora?
Engoli em seco. Fury tinha razão. Loki tinha a possibilidade de se redimir e eu esperava que ele assim o fizesse. E se Magneto era uma ameaça, eu faria tudo o que estivesse ao meu alcance para o deter. Incluindo lutar ao lado do Deus do Prejuízo que sempre me irritava. Isto claro, partindo do princípio que ele nos ajudaria. Mas uma parte de mim, lá no fundo, queria ardentemente que ele nos ajudasse. Queria ardentemente que ele se redimisse. Queria ardentemente consertá-lo. 
-Então agora está na altura de contar tudo aos outros Vingadores - Fury trouxe-me de volta à realidade - espero total confidencialidade de tudo o que lhe disse aqui. Depois poderá discutir e debater com os Vingadores, mas só depois de eu os informar. Agora pode ir, agente Robinson. Chame-os até cá. Leve a pasta e leia as restantes informações do que tem de fazer. Aí dentro constam algumas das habilidades de Magneto, bem como algumas dicas do que deve fazer a seguir. Por agora é tudo, agente Robinson. Reunião terminada.
Assenti com a cabeça, peguei na pasta e saí silenciosamente do gabinete, a cabeça cheia de questões e dúvidas, mas a maior emoção era a esperança com que ficara de lutar ao lado dos Vingadores e da hipótese remota de Loki se redimir. Remota, mas possível. Quem me dera.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Raiva

Ponto de vista de Bridget

Alguns asgardianos miraram-nos de forma estranha quando Loki passou comigo agarrada a ele pelos jardins do palácio. Não sabia o que eles estavam a pensar, mas esperava que não fosse algo diferente da realidade. Mas, depois, qual era a realidade? A verdade é que eu estava a ser ajudada pelo Deus do Prejuízo, o Deus que quase destruíra Nova Iorque inteira. E eu nunca imaginaria que isso fosse possível. Se me tivessem dito, no dia em que o Fury me pediu pela primeira vez vigiar Loki no porta-aviões da S.H.I.E.L.D, que passado algum tempo iria estar ali com Loki, eu rir-me-ia e internaria essa pessoa no manicómio. 
Enquanto ele me levava pelos corredores do palácio até à enfermaria, pensei no que os Vingadores pensariam se nos vissem assim. Steve iria manter a sua cara de sério, ou então desprezar-me-ia. Tony iria rir-se. Bruce não diria nada, tal como Clint. Thor olhar-nos-ia de forma estranha. Natasha faria um comentário sarcástico. Eu tinha saudades deles.
Loki bateu à porta da enfermaria. Uma enfermeira apareceu, olhando-me de forma estranha, conduzindo-nos até a um quarto individual. Depois foi-se embora e Loki abriu com magia a porta do quarto, sem lhe tocar. Uma enfermeira loura ajeitava os lençóis da cama. Quando ela olhou para mim reconheci-a como sendo a enfermeira da qual eu fugira para ir ao julgamento de Loki. Limitei-me a olhá-la de forma estranha, sem saber o que dizer. Loki largou-me finalmente e eu sentei-me na berma da cama, sem saber o que fazer. 
-Madame Lucy - sorriu Loki, olhando para a enfermeira. Ao contrário do que esperava, a enfermeira sorriu também.
-Príncipe Loki - cumprimentou ela. Lutei contra a vontade de revirar os olhos. Nunca gostara de fazer de vela. Eles continuaram a fitar-se por um longo período de tempo, enquanto eu tentava perceber o que estava a sentir. Raiva. Impotência. Quase ciúmes.
Clareei a garganta e levantei-me.
-Desculpem se estou a interromper o vosso momento de... hum, olhares, mas se calhar é melhor voltar noutra altura. Adeus.
-E os teus cortes? - perguntou Loki, quando eu abri a porta.
-Eu fico bem - respondi, friamente. São mais fáceis de suportar do que vos ver a babarem-se, acrescentei mentalmente, fechando a porta atrás de mim.

*

No dia seguinte, encontrava-me no jardim do palácio rodeada pela família real de Asgard, Sif e os Três Guerreiros. No dia anterior tinha ido a outra enfermeira e ela tratara os meus cortes e agora estava na altura de partir para a Terra. Iria sozinha, pois insistira para que Thor ficasse em Asgard como ele queria, apesar de ele ter insistido em levar-me.
-Foi um prazer ter-te aqui connosco - disse-me Frigga, abraçando-me. Depois, sussurrou-me ao ouvido: - obrigada. 
-Se todas as raparigas de Midgard forem como tu, então Midgard é um reino feliz - contemplou Odin e eu senti as minhas bochechas quentes. Loki sorriu presunçosamente. 
-Adeus, Bridget - despediu-se Thor - obrigada por vires!
-De nada - afirmei, abraçando-o e a Sif, Volstagg, Hogun e Fandral também. Loki era o único que faltava, mas depois do incidente com Lucy, não sabia o que fazer. Ou talvez mesmo que isso não tivesse acontecido eu não soubesse na mesma o que fazer. Loki mexia com os meus nervos. 
-Diz-lhe adeus - exigiu Thor a Loki, dando-lhe um empurrão na minha direção - e agradece-lhe, a Bridget fez muito por ti.
O sorriso de Loki voltou, aproximando-se. 
-Boa viagem - afirmou ele.
-Obrigada - respondi, não escondendo a fúria na voz. Depois Thor olhou para o céu e chamou Heimdall.
Troquei um último olhar com os olhos esverdeados de Loki antes do feixe de luz dourado me enviar de volta à Terra. 

*

Aterrei no meio do porta-aviões da S.H.I.E.L.D, com o familiar ruído dos aviões e dos helicópteros a descolar e a aterrar a preencher-me os ouvidos. Respirei fundo, sentindo-me em casa. Asgard tinha sido uma experiência confusa, com altos e baixos, mas sentia-me feliz por voltar ao meu lar. 
-E olhem quem chegou - afirmou uma voz feminina. Virei-me para ver Natasha, com o seu cabelo ruivo flamejante a caminhar de encontro a mim, um pequeno sorriso na cara. Abraçámo-nos.
-Então, o Loki deu-te muitas dores de cabeça? - perguntou ela.
-Não precisas de responder, o Thor manteve-nos atualizado de tudo - afirmou outra voz, agora masculina. Era Clint, que me estendeu a mão e eu apertei-a. Engoli em seco.
-Então vocês sabem sobre...
-Confesso que nunca esperei um argumento tão interessante na minha novela preferida!  - exclamou uma voz sorridente, confirmando as minhas suspeitas. Não precisei de ver para saber que era Tony - aquele Loki é mesmo traiçoeiro.
-Pode dizer-que sim - concordei, abraçando Tony. Bruce vinha atrás, reservado. 
-Bem-vinda de volta, Bridget - cumprimentou.
-Obrigada - olhei em volta - onde está o Steve?
Não compreendi a reação deles. Bruce, Clint e Natasha ficaram calados, trocando olhares estranhos e cúmplices entre si. Tony não sorria, o que era estranho porque ele sorria sempre com ar de gozo sempre que se falava de Steve. 
-Está no ginásio a descarregar a raiva - afirmou Tony. Franzi o sobrolho.
-Vou ter com ele.
-Essa pode não ser a melhor das ideias - declarou Tony.
-Vou na mesma - insisti, dirigindo-me ao ginásio da S.H.I.E.L.D. Passava pouco das três da tarde, por isso não havia quase ninguém no ginásio àquela hora, mas assim que entrei ouvi o som dos murros de Steve nos sacos de boxe. Fui até lá, vendo um Steve forte dando socos potentes no saco de boxe.
-Olá - cumprimentei, hesitante. Ele não respondeu, por isso falei mais alto - Steve.
Ele parou e olhou para trás. A sua cara abriu-se num pequeno sorriso, mas depois voltou a fechar-se em copas. Avançou para mim e abraçou-me.
-Estás bem? - perguntou-me. Eu sorri.
-Estou, Steve. 
-Mas tudo o que aconteceu em Asgard... com o Loki e Klaus...
-O que não nos mata só nos torna mais fortes - afirmei. Sabia que a frase tinha um significado especial para Steve. Ele assentiu.
-Gostava de ter estado lá para te ajudar, só isso.
-Eu sei tomar conta de mim - respondi.
-Eu sei que sabes, mas... - ele foi interrompido por um ruído vindo dos altifalantes. Depois a voz do diretor da S.H.I.E.LD. fez-se ouvir.
-Agente Bridget Robinson, por favor, apresente-se no meu gabinete. Repito, agente Bridget Robinson, meu gabinete.
Não era comum Fury chamar-me por altifalante, mas calculei que não estivesse muito satisfeito por eu ter ido ao ginásio primeiro em vez de ao seu gabinete.
-Tenho de ir - afirmei. Ele acenou com a cabeça e voltou ao saco de boxe. Eu encaminhei-me para o gabinete de Fury. A última vez que lá tinha estado tinha sido há três semanas atrás quando Fury e Thor me revelaram que Thor me tinha escolhido para ir com ele e Loki ao julgamento de Loki, em Asgard. Bati à porta e a voz de Fury mandou-me entrar.
-Desculpe não ter vindo aqui diretamente, mas...
-Não interessa - cortou ele, indicando a cadeira à frente da sua secretária para eu me sentar - pensei que gostasses de te manter atualizada sobre o julgamento de Loki, por isso pedi a Thor que me avisasse assim que tivesse notícias. Através de Heimdall temos recebido notícias deles. Ainda não decidiram quando vai ser o próximo julgamento, mas deverá ser para breve.
-O que acha que vai acontecer a Loki agora que se provou que ele pode ter estado a ser controlado?
-Bom, Bridget, como tu própria afirmaste, isso não é desculpa para os erros que ele cometeu. Mas vistas as coisas desse modo, dá alguma esperança a Loki. Sabes qual é o único processo certo da redenção?
Franzi o sobrolho.
-A prisão?
Fury ri-se da minha inocência.
-Remorsos, agente Robinson, remorsos. Será que Loki os tem?
-Não faço a mínima ideia - afirmei, sincera - mas está a querer dizer-me que se o Loki sentir remorsos e culpa verdadeira pelo que fez, que fica livre de castigos?
-Não. O que eu estou a dizer é que se, hipoteticamente, Loki se remediasse através dos remorsos e da culpa, podia começar o processo do castigo. Ele não se escapa a alguns anos na prisão, mas se ele fizer algo que reabilite nas pessoas a confiança e a segurança nele, alguns anos na prisão será tudo o que ele receberá.
Engoli em seco. Não me podia dar ao luxo de ter esperanças. Loki não era o tipo de pessoa de ajudar os outros. Todavia, ele ajudara-me. Tony tinha razão, Loki era traiçoeiro.
-Então, se Loki se remediar, através dos remorsos e de boas ações, isso aliado ao facto de estar a ser controlado pelo Tesseract, dá-lhe uma vida livre?
O único olho de Fury fitou-me intensamente.
-É exatamente isso que estou a dizer.
-E acha possível Loki, o Deus do Prejuízo, ser capaz de fazer essas boas ações? Ele até pode sentir culpa e remorsos, mas se não for capaz de os ultrapassar, não vale de nada. O seu destino está nas escolhas que ele fará. E Loki não me parece ser o tipo de pessoa que faça escolhas acertadas.
-Tem razão, agente Robinson, mas Loki também não me parece ser o tipo de pessoa que cometa o mesmo erro duas vezes - alegou Fury. Aquela conversa era estranha. Porque haveria Fury de querer ajudar Loki? Ele fizera Fury ficar muito desesperado! Eu já conhecia Fury e todo o sistema da S.H.I.E.L.D para desconfiar daquela conversa. Tinha de haver mais qualquer coisa escondida ali algures. 
-Fury, qual é a sua intenção ao livrar Loki de um destino aprisionado e ao fazê-lo ajudar as pessoas? - questionei diretamente, esperando não estar a ir longe demais. 
Fury olhou para mim, abriu uma gaveta da sua secretária e tirou uma pasta de lá de dentro. Pousou-a à minha frente na secretária.
-Acho que está na altura de lhe contar tudo, agente Robinson - declarou ele, o seu olho a inspeccionar-me atentamente - prepare-se.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Cavalos

No resto do dia, fechei-me no meu quarto a arranjar a mala. Não sabia exatamente quando partiria de volta à Terra, mas sabia que seria em breve e não queria ficar desprevenida. Depois de toda a adrenalina dos últimos acontecimentos, desde o túnel das flores até ao julgamento, começava finalmente a acalmar-me e a pensar nas coisas com mais clareza e calma. O beijo de Loki não me saia da cabeça; mesmo sabendo que não fora ele a capturar-me, ainda não sabia porque me beijara. Tinha de ser para me irritar, só podia. Mas depois, na placa de prata... que novas emoções seriam essas que eles referiam acerca de Loki? E porque é que Klaus me capturara a mim como forma de atingir e atrair Loki? Convencera-me que Loki só fora à minha procura porque Thor insistira ou para que as outras pessoas não suspeitassem que tinha sido ele a arquitetar o plano, mas agora estava confusa.
A ida a Asgard tinha sido perigosa e confusa, mas mesmo assim sentia-me melancólica, quase triste, por deixar o planeta. Fechei a mala com um baque abafado e sai do quarto. Precisava de espairecer, mas em vez de me dirigir para a vila, encaminhei-me para a praia. Alguns asgardianos caminhavam no areal, pequenas crianças brincavam na areia, construindo castelos ou chapinhando nas poças, tal como os humanos faziam. Olhavam-me de forma estranha e não consegui perceber se era por estar a usar roupa de humanos - calções de ganga e t-shirt branca - se por me associarem como sendo Bridget Robinson, a rapariga que Loki fora resgatar. Como se eu precisasse da ajuda dele. Estúpido Loki.
Com os chinelos de dedo numa mão, percorri o areal da praia, deixando que as ondas me molhassem os pés. Cheguei a uma zona mais recostada, com rochedos e grutas. Sentei-me numa das rochas, fixando o mar. Não me surpreendi quando a voz fria e familiar se fez ouvir. 
-A precisar de algum tempo para pensar, Bridget? - questionou. Deitei-lhe um olhar rápido, revirando os olhos ao constatar que até na praia continuava a vestir o seu traje. 
-É assim tão difícil dizer apenas olá? - interpelei - é que começas sempre com perguntas ou comentários sarcásticos. E como é que consegues estar com toda essa roupa na praia?
-Nunca tenho calor - afirmou firmemente - mas por acaso, quero fazer-te sim uma pergunta.
Suspirei.
-Diz.
-Porque o fizeste, Bridget?
Engoli em seco, não desviando os olhos do mar. Ele prosseguiu.
-Porque me quiseste ajudar? Qualquer pessoa normal teria ignorado o Tesseract ou então teria chamado a segurança, acusando-me ainda mais... mas tu usaste-o para tentar provar que eu não estava sempre em mim.
-Porque sou justa, Loki - respondi, saltando da rocha - mesmo que não mereças desculpas nem ninguém que te ajude... se estavas a ser usado, as pessoas têm o direito de saber e tu tens o direito de recorrer ao que te pode ajudar.
-Conheço montes de gente justa que não faria o que fizeste, Bridget - continuou ele. 
-Talvez eu seja apenas idiota. Mas o que está feito, está feito, Loki, esquece.
-És uma mente estranha e confusa para mim, Bridget. Difícil de compreender. 
-Bom, aceito isso como um elogio - declarei, esboçando um pequeno sorriso.
-As outras pessoas parecem gostar - murmurou.
-Se calhar - encolhi os ombros.
-Aqui estão vocês - disse uma voz trovejante. Olhei para trás, abrindo a boca de espanto quando vi Thor montado num lindo cavalo castanho, mais dois ao lado - pensei em como a Bridget se vai embora cedo... fazermos um passeio a cavalo para desanuviar.
-Os três? - interroguei, franzindo o sobrolho.
-O quê, nunca montaste a cavalo? - picou-me Loki.
-Não é algo que os humanos façam com muita frequência - argumentei, cruzando os braços sob o peito.
-Não faz mal. Nós ajudamos - incentivou Thor e não tive coragem de dizer que não ao ver o seu grande sorriso.
Loki deu uma palmada no cavalo preto, eu tentei subir para o que tinha o pêlo cor de areia, mas era demasiado alto.
-Oh, por amor dos Deuses - resmungou Loki, deslizando do seu cavalo e aterrando agilmente na areia. Ajoelhou-se na areia e pôs as mãos em forma de concha.
-Prende o teu pé nas minhas mãos e iça uma perna para o outro lado do dorso do cavalo - afirmou ele. Sentia o meu orgulho ferido por Loki me estar a ajudar, mas isso não impedia o meu coração de bater mais depressa. Coloquei um pé nas mãos de Loki e ele não fez o mais pequeno esgar de dor quando me impulsionei com toda a minha força para o cavalo. Estes não tinham sela, pelo que tive me segurar à sua crina.
-Estás bem segura? - perguntou Loki. Assenti com a cabeça e ele montou graciosamente no seu cavalo preto. 
-Prontos? - questionou Thor - vamos!
Bateu com as pernas no cavalo e Loki fez o mesmo, desatando estes a galopar pela areia, com as patas a chapinhar nas ondas e os seus cabelos ao vento, as pessoas na praia a observá-los, espantadas. Deixei-me ficar para trás, avançando com cuidado. Vi Thor e Loki a pararem lá à frente. O meu cavalo trotou lentamente até eles. Loki e Thor viraram os deles para ficarem de frente para mim.
-Só agora? Estava a ficar com sono - gozou Loki.
-Poupa-me, Loki. Batia-te na Wii Sports. 
-Na quê? - interrogou Thor.
-É apenas um jogo dos midgardianos - afirmou Loki. 
-Desculpem, Loki, Bridget, tenho de ir andando - declarou Thor, continuando a não entender o que era uma Wii - importavam-se de voltarem a pôr o Shadow e o Kalipso nos estábulos?
-Claro que não nos importamos - respondi - adeus.
Thor sorriu e desapareceu a galope com o seu cavalo. 
-Atreves-te a uma corrida? - perguntou-me Loki, com um sorriso malicioso.
Revirei os olhos.
-Vai à frente. Eu depois apanho-te - aleguei.
-Como queiras - ele apertou o cavalo com as pernas e desatou a galope. Segui-o a trote, mas a imagem dele a gozar comigo fez-me apressar o cavalo. A sensação de velocidade era alucinante e o meu cabelo esvoaçava à minha volta, mas a felicidade durou pouco tempo. O cavalo relinchou e atirou-me ao chão e já nem sequer estávamos na praia, pelo que não aterrei na areia mas sim numa série de arbustos.
-Au -sentei-me a custo, examinando o corte que tinha no joelho e outro na anca do lado direito. O meu cavalo tinha desaparecido, e eu estava no meio de um prado verdejante. Ouvi passos de cavalo a aproximarem-se.
-Vês? Até os cavalos têm medo de ti - sorriu Loki, sentado no seu cavalo preto.
-Ai, tu também tens? - indaguei, sorrindo. Ele revirou os olhos e desceu do cavalo.
-Deixa-me ver se te magoaste.
-Isto não é nada, já passa. Mas o cavalo desapareceu.
-Não te preocupes com o Kalipso. Ele não se perde. É bom a encontrar o caminho de volta - acocorou-se junto a mim, examinando o meu joelho direito - o corte no joelho é o único que tens?
Engoli em seco e senti-me corar.
-Não. Tenho um... na anca. - só que está tapado pela t-shirt, completei mentalmente.
-Bom, deixas-me vê-lo? - questionou, educadamente. Não esperava aquele seu comportamento gentil. Primeiro de tudo, não esperava que viesse ver se eu estava bem. Pensava que se ia limitar a rir. Depois, esperava que não se importasse com o que eu dissesse e levantasse logo a t-shirt para ver o corte. Mas não se mexeu enquanto eu não acenei levemente com a cabeça.
O seu toque frio na minha pele fez-me cerrar os dentes e um arrepio - que presumi ser de frio - percorreu-me a espinha. Ele levantou a minha t-shirt do lado direito, apenas o suficiente para ver o corte feio e sangrento.
-Deves ter-te cortado nalgum espinho - observou Loki. Pegou-me nas mãos, o seu toque frio a fazer-me sentir como nunca me sentira. Puxou-me levemente, mas em vez de me fazer levantar, ele caiu para trás no prado e eu caí em cima dele, rodeados por relva alta e fofa. O meu coração começou a bater mais depressa, sem que eu o pudesse controlar. As nossas caras estavam a centímetros uma da outra e os nossos corpos tocavam-se. Os seus olhos perscrutavam os meus, indecifráveis. Inconscientemente aproximei-me, mas recuei antes que os nossos lábios se pudessem tocar.
-Desculpa - dissemos ao mesmo tempo. Eu sorri e ele também, mas foi um sorriso genuíno. 
-Achas que te consegues levantar? - perguntou-me.
-Acho que sim - afirmei. Ele ajudou-me, mas o joelho ardia-me, bem como o corte na anca, e doía-me o pé esquerdo. 
-Não me parece que consigas andar nesse estado. Além disso, o caminho até aos estábulos ainda é longe - referiu ele e então, sem me avisar, pegou-me ao colo sem esforço e colocou-me suavemente em cima do cavalo, que relinchou. Loki depressa o acalmou, sussurrando-lhe algo ao ouvido que não consegui ouvir - cuidado, Bridget - avisou ele, saltando para o cavalo e sentando-se à minha frente - é melhor agarrares-te.
A sua voz parecia estar a sorrir e conseguia imaginar o tipo de sorriso que ele estava a fazer. Sarcástico.
-O quê, Loki, tu não...
-Vamos! - gritou ele, apertando os calcanhares contra o dorso do cavalo e obrigando-me a agarrar-me à sua cintura, enquanto o cavalo cavalgava pelo prado verde.

*

Ponto de vista de Loki

O toque dela na minha cintura lançava arrepios pelo meu corpo inteiro e só esperava que ela não conseguisse ouvir o meu coração a bater tão depressa. Era uma paisagem linda, aquela que nos rodeava: o sol começava a pôr-se no prado, lançando raios dourados contra o verde do prado. Mas nada era comparado a Bridget... ela era apenas... ela. E isso era suficiente para me fazer sentir diferente, para não reconhecer o que se passava comigo.
-Então, tens o hábito de falar com animais? - perguntou ela ao fim de algum tempo.
-Shadow tem sido o meu cavalo desde pequeno. Sou das raras pessoas que o consegue montar. É muito instável.
-Então, eu também faço parte dessas pessoas - disse Bridget, o seu hálito quente a bater-me no pescoço. Eu sorri.
-Tecnicamente, eu é que o estou a montar. Nunca o conseguirias montar sozinha. Quer dizer, tiveste dificuldades em montar o Kalipso, que é um dos cavalos mais mansos do reino!
-Escusas de estar sempre a atirar-me isso à cara, Loki. Já ambos percebemos que não sou muito dada a cavalos.
-Aborreci-te? - questionei.
-Querias - resmungou ela e percebi pela voz que tinha um sorriso a bailar-lhe os lábios. Não a conseguia compreender pelo facto de ela ainda me continuar a aturar, depois de tudo o que eu fizera. Eu não merecia tanta generosidade da parte dela. Preferia quando ela me ralhava e me chamava pelo que era. Mas nestes momentos não sabia o que fizera para merecer alguém como ela. Porque tinha a certeza que nunca fizera nada tão grandioso para receber a companhia de alguém tão bondoso. Ugh, estava mesmo a tornar-me num lamechas.
Ficámos em silêncio o resto da viagem e finalmente chegámos ao estábulos. Ajudei-a a sair do Shadow, embora o orgulho dela não estivesse muito recetivo à minha ajuda. Coloquei o meu cavalo no compartimento correto, dando-lhe um torrão de açúcar.
-Se tratasses as pessoas como tratas o Shadow, irias ser aceite - comentou ela.
-Bom, não vou andar por aí a distribuir torrões de açúcar pelas pessoas, pois não? - argumentei, com uma pontada de sarcasmo na voz. Ela revirou os olhos e eu já podia adivinhar uma discussão a vir aí. Ela pareceu ver o mesmo que eu, por isso desistiu e caminhou ao pé coxinho até fora dos estábulos. Segui-a.
-Levo-te à enfermaria - ofereci-me, pegando-lhe ao colo antes que pudesse ripostar.
-Não penses que me vais levar assim, Loki - replicou ela. Suspirei, pousando-a no chão. Coloquei o braço dela em redor do meu ombro, enquanto lhe pus uma mão na anca esquerda. 
-Assim está melhor? - questionei, cerrando os dentes. Ela sorriu de satisfação.
-Assim está ótimo - concordou ela. Esbocei um meio sorriso enquanto nos dirigíamos ao palácio. Que é que se passava comigo? Porque me sentia diferente com ela? Ela... fazia-me sentir mais vivo, mais brilhante. E ela fazia-me feliz. Mas eu nunca o admitiria.

Tesseract

Ponto de vista de Bridget

Quando acordei, senti-me tonta, com a garganta seca, e doía-me a cabeça. Abri os olhos a custo, e estes doeram-me por causa da luz. Olhei em volta: estava num quarto, sozinha, numa cama de lençóis brancos e bancadas nas paredes com instrumentos de medicina. Um copo alto com água encontrava-se pousado na mesa-de-cabeceira. Peguei nele, bebi e soube-me bem. Alguém entrou no quarto, estacando quando me viu acordada.
-Acordou finalmente!
Era uma enfermeira, pelo menos parecia-se com uma, com uma bata branca, um chapéu branco e os caracóis louros apanhados. Parecia nova.
-Quanto tempo estive inconsciente? – perguntei. Ela pegou no copo, encheu-o numa torneira e estendeu-mo.
-Hoje é sexta-feira. Esteve a dormir desde terça a hoje – declarou ela.
Franzi o sobrolho, o que me fez doer mais a cabeça.
-Então hoje é o dia do julgamento – afirmei.
Ela não respondeu, olhando-me com um ar estranho. Inevitavelmente e contra a minha vontade, o meu coração emitiu um baque. Loki…
-O julgamento de Loki? – questionei – ele está cá, certo?
Ela acenou.
-Sim, apareceu pouco depois de a menina desmaiar. Não estava muito mal fisicamente, mas parecia mentalmente esgotado.
-Aposto que Asgard inteira já sabe o que aconteceu.
-Sim – a enfermeira deitou-me um olhar repreensivo – Thor e Loki levaram um sermão dos reis por terem fugido sem dizer nada e acima de tudo por terem mentido acerca do seu paradeiro.
-Não é culpa deles – aleguei – bom, pelo menos a culpa não é de Thor.
 -Isso não impede o facto de que o que eles fizeram ter sido errado…
-Onde e quando é o julgamento? – interrompi.
-Não pense que vai sair daqui, menina. Não tem autorização e há dois guardas armados a vigiar a porta.
-Eu sei. Só estava curiosa. Não gosto de não saber as coisas.
-A sessão já está a decorrer, de qualquer maneira, no Tribunal de Asgard - ela encolheu os ombros. Assenti com a cabeça e bebi o resto da água.
-Podia dar-me mais? – inquiri. Ela virou-se para a torneira e não pensei duas vezes. Tinha uma camisa branca que mais parecia um vestido e saltei da cama.
-Tome… - ia ela a dizer, mas deixou cair o copo ao chão e tentou agarrar-me enquanto eu corria até à porta. Esquivei-me, abrindo a porta.
-Desculpe! – exclamei, fechando-lhe a porta na cara e embatendo contra os dois guardas armados.

*

Ponto de vista do Juiz

-E confessa ter cometido os crimes anteriormente referidos, de total e livre vontade? – perguntei a Loki, que se encontrava à minha frente, em pé, com a família real, incluindo Odin, Frigga e Thor, sentados nos bancos do Tribunal.
Ele não respondeu imediatamente. Ficou quase como pensativo, a cor dos seus olhos a variar entre o verde e o azul. Loki possuía uma estranha magia. Devia ser característica dos Gigantes de Gelo.
-Sim – afirmou, finalmente.
-Irmão… - ouvi Thor sussurrar, mas Odin mandou-o calar.
-Então, vistas e consideradas estas declarações, declaro que…
Porém, não consegui terminar a frase uma vez que a porta do Tribunal explodiu, revelando uma rapariga loura vestida com uma camisa de hospital do outro lado.

*

Ponto de vista de Bridget

Dez minutos antes

Esbarrei contra os guardas. Um deles segurou-me e o outro pôs-se há minha frente.
-Desculpe, menina, mas tem de voltar lá para dentro – disse o que estava há minha frente.
-Temo que não possa obedecer a essa ordem – afirmei e quando o guarda atrás de mim tinha intenções de me voltar a pôr no quarto, uma onda magnética projetou-se do meu corpo para o exterior, mandando os guardas contra a parede.
-Desculpem! – exclamei e desatei a correr pelos corredores. Ponderei ir até ao meu quarto trocar de roupa, mas perderia imenso tempo e não tinha a certeza em que zona do palácio é que estava. Alguns guardas correram atrás de mim, mas afastei-os com as minhas ondas eletromagnéticas.
Dobrei a esquina para um novo corredor e algo prendeu a minha atenção. Uma luz azulada via-se por entre uma porta. Rapidamente, fui até lá, hesitando um pouco se havia de abrir a porta ou não. Resolvi abri-la e susti a respiração. Não precisei de muito tempo para perceber onde estava.
O quarto de Loki.
Era em tons verdes, pretos e dourados, e tinha o seu capacete de príncipe pousado na cómoda. Mas não reparei em mais nada, pois a luz azul que vira irradiava de um pequeno objeto pousado na cama dele. Não sabia se lhe devia tocar, mas acabei por o fazer. Era um mini cubo, frio como gelo. Reprimi um grito de surpresa. Era uma mini representação do Tesseract.

Tesseract
Havia um pequeno bilhete ao lado. Não era em papel, mas sim uma espécie de placa de prata, com umas letras pretas inscritas.

“Isto é o que resta do nosso controlo sobre ti, Loki. Tu falhaste na tua missão e como tal renegamos-te ao poder imenso do Tesseract. Sentimos em ti novas emoções que não conseguimos identificar. Não és mais bem-vindo, Loki. E dá graças pelo facto de estarmos destruídos para não irmos à tua procura. Aproveita a tua liberdade.”

Engoli em seco. Se eu percebia o que a placa dizia, Loki estivera, de alguma forma, sob o controlo do Tesseract, tal como Clint e outros estiveram, só que de maneira diferente. Isso significava que ele não estava em si quando cometera alguns crimes. Não sabia porque estava a pensar assim, mas naquele momento, soube que tinha de levar aquelas provas para o julgamento. Loki não era inocente, mas podia ser que não fosse tanto o monstro que toda a gente pensava que ele era. Concentrei-me, criando uma pequena bolha magnética e envolvendo o cubo e a placa de prata dentro dela. Não perdi tempo e envolvi a bolha com as mãos, correndo desenfreadamente pelo palácio. Consegui chegar, por sorte, a uma porta que levava às traseiras do palácio. Atravessei os jardins e parei para perguntar a uma criança pequena se ela sabia onde era o tribunal. Ela olhou-me de forma estranha, mas depois apontou para a direita. Cortei para lá e estaquei à frente de um edifício dourado, com uma imponente escadaria. Subi-a, ignorando os guardas que me intercetavam. Explodi com a porta, encarando uma família real e um juiz muito zangados. Mas Loki sorria com aquele sorriso endiabrado.
-O que fez com os meus guardas? – grunhiu o juiz, olhando-me furioso, mas calou-se quando reparou no que eu envolvia com as mãos. O sorriso de Loki desvaneceu-se assim que percebeu o que era e a sua expressão escureceu.
-O. Que. Fazes. Com. Isso? – questionou, calma e friamente. Só por acaso, relembrem-me porque estava a tentar ajudá-lo?
-Bom, eu… havia uma luz a sair do teu quarto e encontrei isto…
-Mostra – ordenou Odin e levei a bolha até ele, Thor e Frigga. Os três olharam para a mini representação do Tesseract e depois leram o que a placa dizia. O juiz também se aproximou, enquanto eu e Loki nos enfrentávamos furiosamente com o olhar.
-Loki… - Frigga foi a primeira a falar – isto quer dizer aquilo que eu penso que quer? Que todo este tempo estiveste a ser controlado?
-Claro que não! – replicou ele – eu nunca me sujeitaria a subjugar-me e…
-Loki anseia pelo poder – aleguei eu, cruzando os braços e virando-me para a família real – por isso aliou-se a quem julgava poder conceder-lhe esse poder. Ele estava errado, eles só o usaram como isco, como servo, como um meio para atingirem o que queriam. E Loki falhou e levou-os assim à sua própria destruição. E não quero com isto dizer que Loki é inocente, por que não é. Ele errou, e estava perfeitamente consciente quando fez a escolha de se aliar a quem não devia, e errou pela sua própria cabeça e deve ser julgado por isso. Mas talvez isto seja a prova de que ele não estava sempre em si, que lutava contra algo que o possuía.
Como que a confirmar as minhas suspeitas, os olhos de Loki variaram entre o verde e o azul.
-Vejam agora – afirmei, apontando para os seus olhos e todos olharam para ele. O juiz fez uma cara como se compreendesse.
-Loki… - chamou Thor desta vez – é verdade? Não mintas!
Ele sorriu cinicamente.
-Eu sou o Deus das Mentiras.
-Mas nós somos a tua família. E depois de tudo o que fizeste, a Bridget ainda te quer ajudar – Thor olhou para mim – não achas que merecemos ouvir a verdade pelo menos uma vez?
-De que é que isso adiantaria? – inquiriu Loki – vou ser posto numa cela para o resto da vida, quer minta, quer seja sincero.
-Não me deixas alternativa – afirmou Thor, estendendo o braço e abrindo a mão.
-Oh, não, Thor…. Tu não… - disse Loki, mas o martelo de Thor veio disparado em direção à mão aberta de Thor. Este agarrou-o e destruiu a representação do Tesseract bem como a placa, numa explosão violenta de luz e raios.


Mas eu só reparei nos olhos de Loki. Passaram de um intenso azul para um azul mais claro, mais verde… os seus olhos puros. E acho que nunca os tinha visto assim, tão reais, tão profundos.
Só depois reparei que Odin, Frigga e o juiz discutiam vivamente. Em seguida levantaram as cabeças e o juiz declarou:
-O julgamento foi adiado devido às circunstâncias e novas provas que nos foram dadas – depois olhou para mim – e quero o prejuízo daquela porta e dos cuidados médicos dos guardas pago.
-E o Loki? – questionou Thor.
-Ficará aqui em Asgard – respondeu Odin – quanto à Bridget, pode regressar a Midgard.
-Se não precisam mais de mim, então assim o farei – afirmei, fazendo uma pequena vénia e virando-me para a porta destruída.
-Bridget – chamou Frigga. Olhei por cima do ombro – obrigada.
-Não me arrependo do que fiz – aleguei simplesmente, caminhando de volta ao palácio. Ao sair, um pensamento atravessou-me a mente. Uma frase inscrita na placa prateada.
Sentimos em ti novas emoções que não conseguimos identificar. 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Poder

Ponto de vista de Bridget

O local era frio e desagradável, tal como Loki. O homem encapuzado abandonou o espaço sem mais uma palavra e o silêncio inundou a cela. Sabia que estava à espera de Loki, mas para quê? Para receber um pagamento pela minha captura? Para falar com ele sobre o que fazer comigo a seguir? Se fosse isso, porquê aquele sorriso horripilante, como se mal pudesse esperar que Loki chegasse? Quereria o homem encapuzado assim tanto o dinheiro ou detestar-me-ia tanto que mal podia esperar por me ver pelas costas? Quaisquer que fossem as razões, faltava ali qualquer coisa.
Subitamente, ouvi um estrondo e pela porta da cela vi uma réstia de luz verde-azulada. Que se teria passado? Subitamente, aquela luz vagamente familiar deu-me esperança. Concentrei-me e expandi o escudo para além de mim, rebentando com as paredes de vidro da cela e depois com a porta. O que vi deixou-me perplexa.
Loki tinha agarrado o homem encapuzado, que agora tinha a cabeça a descoberto, pelos colarinhos e empurrava-o contra a parede, a cara contorcida numa expressão de raiva. Mas não foi isso que me surpreendeu mais. No seu tom de voz normal, embora alterado pela fúria, Loki grunhiu:
-Onde é que ela está e o que é que lhe fizeste, Klaus?

*

Ponto de vista de Thor

Meia hora antes

Escondi-me por entre as flores do túnel, rezando para que nem Loki nem Klaus sentissem a minha presença. Observei ofegante enquanto Loki esperava por Klaus. Temia as consequências daquele encontro. Depois, à meia noite em ponto, Klaus chegou, com os seus lábios vermelhos e carnudos, olhos azuis-gelo e cabelo castanho e comprido. Era novo, supunha, parecia ter uma aparência de vinte a trinta anos.
-Então vieste, Loki – sorriu ele, sinistramente.
-Onde está ela? – replicou Loki, furioso.
-Acalma os cavalos, Laufeyson, ela está provavelmente melhor comigo do que contigo. Ela é bem bonita, por sinal...
Loki deu um passo em frente, os punhos cerrados.
-Se lhe fizeste alguma coisa, eu juro que…
-Ora, ora, ora – gozou Klaus – ela mudou-te mesmo, não foi? Onde está o Deus controlado e manipulador? Porque há minha frente vejo um louco impulsivo!
-Porquê ela? – questionou Loki.
-Ela é importante para ti.
Loki não respondeu e eu franzi o sobrolho. Eu nunca notara que havia algo entre eles… mas eu também não era a pessoa mais observadora do Universo.
-Mas, se eu acho que aquilo que me estás a perguntar é isto, então respondo-te: decidi não escolher a tua querida mãe, porque ela tem muito mais proteção e seria muito mais difícil chegar até ela. Mas com a Bridget, foi tão fácil... - disse Klaus.
-Como é que a capturaste? Como é que conseguiste manipular a situação de forma a parecer que fora eu a planear tudo? - interrogou Loki.
-Poder, Loki. Poder. Agora, pergunto-me se gostarias de a ver?
-Deixa-a em paz, Klaus. Ela não te fez nada, eu fiz!
-Oh, aí é que te enganas. Ela foi a escolha perfeita: fácil e tão importante para ti… - ele parou, um brilho sádico no olhar. Susti a respiração. Aquele Klaus era mesmo um idiota – não acredito! És assim tão estúpido para não perceberes que ela não conseguiu bloquear nem lutar contra o meu poder por que pensou que eras tu o causador?
-Sim, eu sei que foi por isso – afirmou Loki.
-E achas mesmo que se ela te odiasse não reagiria? Loki, se ela te odiasse o poder dela esmagar-me-ia! Mas ela não estava à espera porque ela caiu… não só na armadilha, mas ela caiu num sentimento mais profundo e mais fatela... amor, Loki. Amor.
Não sei quanto a Loki, mas as palavras de Klaus atingiram-me com força. Seria possível? Seria possível que alguém fosse capaz de amar o meu irmão? E seria possível que Loki, o Deus do Prejuízo, correspondesse a esses mesmos sentimentos? As palavras de Klaus faziam sentido. Era pior quando as pessoas de quem nós gostávamos nos traíam do que se um inimigo nos magoasse. Muito pior. E se Loki significasse mesmo isso para Bridget… se eu pensasse que Jane me faria uma coisa dessas, também não conseguiria reagir.
-Isso não explica a razão pela qual me possuíste – afirmou Loki, não confirmando nem desmentido o que Klaus dissera.
-Repito: poder. Eu não nutro qualquer tipo de sentimentos por ela, Loki. É me indiferente, excetuando aquilo que ela significa para ti e o significado que isso adquire para mim. Ela é a minha vingança, Loki. O meu poder é a indiferença e a vingança.
De repente, Loki saltou sobre Klaus, agarrando-o pelos colarinhos.
-Tu deixa-la em paz, Klaus!
Klaus sorriu sinistramente.
-Oh, ela vai estar. Depois de eu vos matar a ambos.
E depois, sem que eu pudesse fazer alguma coisa, uma explosão de fumo cinzento caiu sobre eles e ambos desapareceram. Desci até ao local, mas não havia nada que pudesse fazer. Engoli em seco, desesperado. Olhei para o túnel de flores, gritando:
-Heimdall, ajuda!
Imediatamente, um feixe de luz dourada trespassou o túnel, incidindo à minha frente. Entrei e ele transportou-me até Bifrost.

*

Ponto de vista de Bridget

-Loki – o seu nome saiu da minha boca antes que eu pudesse evitar e saiu num tom que detestei. Não era furioso nem frio, soava antes… preocupado. Ele virou a cabeça para mim brevemente e depois concentrou-se novamente no suposto Klaus. Passou-me pela cabeça que Loki não estivesse satisfeito por Klaus não me ter morto já, mas não parecia ser isso. Algo estava diferente, errado. E porque é que eu, mesmo sabendo que tudo aquilo era obra de Loki, não conseguia evitar a sensação de preocupação que me assolava enquanto o via à frente de Klaus, aquele homem doido e sinistro?
-Sai daqui, Bridget. Vai até lá fora e pede a Heimdall que te abra o portal. Quando lá chegares, deixa-o acompanhar-te até ao palácio e vai procurar Thor.
Fiquei boquiaberta.
-Lá fora está mais gente para me apanhar? Porque é me estás a deixar ir embora, Loki? O plano é teu! – Klaus voltou a sorrir e as palavras metálicas de Loki atravessaram-me a mente: Sim, foste tola em acreditar que eu podia mudar.
-Não há tempo para explicações. Vai-te embora, Bridget! Juro-te que da minha parte não há ninguém lá fora para te apanhar!
-E tu? – escapou-me novamente antes de pensar.
-Depois de tudo o que ele te fez, mortal tola, ainda te preocupas com ele? - inquiriu Klaus, a voz desdenhosa.
-Eu não estou preoc… - argumentei.
-A negação só reforça a verdade – sorriu Klaus e reparei que Loki cerrou mais os punhos no colarinho de Klaus. Este começou a bater os dentes. Percebi que eram os poderes de Loki a afetá-lo: afinal, Loki era um Gigante de Gelo, oriundo de Jotunheim, e podia criar frio e gelo.
-Ele fez alguma coisa de errado? Ele não me tratou mal o suficiente, Loki, foi isso? – perguntei, satisfeita por finalmente reencontrar a minha fúria e poder replicar com Loki.
-Não percebes que ele me manipulou, Bridget? Não percebes que nunca foi minha intenção fazer-te uma coisa destas? Não percebes que o verdadeiro culpado não sou eu, Bridget, mas ele?
No fundo, eu queria acreditar, talvez estivesse quase a fazê-lo... mas naquele momento não consegui.
-Tens a certeza disso, Loki?
E dito isto, e sem olhar para trás, fiz o que ele quis, corri até ao exterior, que de facto estava vazio, e chamei por Heimdall. Um feixe de luz dourada caiu à minha frente. Não percebi porque Loki me deixou escapar assim tão facilmente, mas ele devia pensar que ia ter mais oportunidades de me capturar. Suspirei de alívio quando o feixe de luz me teletransportou.

*

Ponto de vista de Loki

Vi Bridget a ir-se embora e só rezava para que chamasse Heimdall. Se o fizesse, sabia que estaria em segurança, mas também sabia que ela era teimosa e que podia muito bem não querer aceitar o meu pedido. O gelo saía-me pelas mãos e Klaus começava a perder a cor. No entanto, isso não o impediu de rir quando Bridget me perguntara se eu tinha a certeza de que não fora o culpado daquilo tudo. Porque, ironia das ironias, até podia ser, ao matar a mãe de Klaus.
O poder de Klaus acabara, ele não tinha mais forças. Mas queria eu realmente matá-lo?
-Ela… vai… ser… minha… - ouvi-o sussurrar, aquele sorriso estúpido ainda estampado na cara. E isso foi o suficiente. Com mais raiva e força de que alguma vez acontecera, o gelo escapou-me das mãos e envolveu-o, congelando-o e assim acabando com a vida dele. Depois, o gelo estilhaçou-se, bem como o resto dos fragmentos do que fora, em tempos, Klaus.

*

Ponto de vista de Thor

Estava a falar com Heimdall quando notei que ele parou de me ouvir. Percebi que alguém o estava a chamar e um raio de esperança invadiu-me o espírito. Depois, ao ver Bridget emergir da explosão de luz dourada, suspirei de alívio. Esperei ver Loki logo atrás dela, mas isso não aconteceu. Ela olhou espantada para mim.
-Bridget – disse eu, aproximando-me e amparando-a quando ela parecia estar prestes a cair. Ela estava muito cansada e fraca, mas eu precisava de saber de Loki – o Loki? Ele foi encontrar-se com o Klaus e eu segui-os às escondidas, e Loki ia salvar-te, mas depois desapareceram os dois e eu vim para aqui.
Bridget arregalou os olhos.
-O quê, o Loki queria salvar-me? Mas foi ele que planeou isto!
Percebi que ela ainda pensava que tinha sido Loki a causar aquilo. Tirei um papel do bolso.
-Acho que devia ser o Loki a mostrar-te, mas lê.
Esperei enquanto ela leu o bilhete que Klaus mandara a Loki.
-Este K é de Klaus, certo? – perguntou com voz fraca, no fim de ler.
-Sim – assenti. Ela olhou para mim, uma lágrima a escorrer-lhe pela cara.
-Então estás a dizer-me que o Loki não teve nada a ver com isto e que foi manipulado, ele, o Deus do Prejuízo?
-É exatamente isso o que estou a dizer-te, Bridget – afirmei, com sinceridade – o Loki fez a mesma pergunta a Klaus, como é que ele conseguira possuí-lo. Conseguiu fazê-lo porque… bom, nas palavras de Klaus… vocês amam-se.
E depois os olhos de Bridget rolaram e ela caiu desamparada nos meus braços, desmaiada.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Klaus

Acordei num sítio escuro e silencioso, quebrada. Surpreendentemente, doía-me mais a traição de Loki que propriamente o estado em que me encontrava e o facto de poder morrer. Como é que ele me podia ter feito uma coisa destas? Ele tinha razão, eu fora uma idiota por ter acreditado nele, apenas durante uns segundos… e esses segundos foram cruciais para a minha captura, para eu não me conseguir defender. E a voz dele… estava diferente, quase metálica.
Quis lutar, quis projetar o meu escudo magnético, mas não consegui. Sentia-me demasiado chocada e destruída, quebrada, traída. E chorei enquanto dormia, porque as lágrimas ainda me escorriam pela cara quando acordei. Como eu é que eu pude ser tão estúpida ao ponto de acreditar que o Deus do Prejuízo, o Deus das Mentiras, pudesse ter mudado? Ele nunca mudaria, essa era a verdade, quer eu quisesse acreditar quer não!
Tateei o chão. Era duro, frio e parecia ser de cimento. Tinha uma enorme dor de cabeça, mas não sabia se era física ou psicológica. Não me lembrava de ter batido com a cabeça, mas também não me lembrava de nada desde que a rede e o fumo me envolveram, ainda no túnel das flores. Podia ser apenas uma dor de cabeça psicológica provocada por tudo o que passara e pelo que sentia.
E odiava o facto de Loki me ter posto assim, me ter armadilhado e me ter feito sentir assim. Ele não merecia. Eu devia estar a tentar arranjar uma maneira de sair daquele sítio, mas só conseguia sentir-me deprimida e desesperada. Acima de tudo, só conseguia pensar em Loki. Maldita a hora em que o conhecera. Não me arrependia de me ter juntado à S.H.I.EL.D., pois era o meu lar, mas amaldiçoava Fury por me ter dado a estúpida missão de vigiar Loki. E culpava Thor por me ter escolhido a mim para ir com ele e Loki a Asgard. Se tivesse ido outra pessoa, Loki ter-lhes-ia feito o mesmo que me fez a mim ou seria eu o alvo desde o início? Sabia que Thor nada tinha a ver com o assunto e que nunca faria nem alinharia numa coisa destas, mas Loki aproveitara-se. E acima de tudo, culpava-me a mim, por ter caído tão facilmente na esparrela do Deus do Prejuízo.
De repente, ouvi um arrastar de uma porta metálica e alguém ligou uma tocha. Recuei instantaneamente e a luz ofuscou-me. Depois os meus olhos habituaram-se à luminosidade e reconheci uma cela parecida com as da S.H.I.EL.D. Uma figura encapuzada, dos quais só se viam os lábios carnudos, sorria maquiavelicamente na minha direção. Seria Loki? Achava que Loki era mais alto, mas podia ser uma ilusão.
-Foi relativamente fácil capturar alguém de quem falam tão bem – a voz era-me estranha, não parecia ser a de Loki. Era rude e forte, mas estridente e aguda ao mesmo tempo.
-Onde estou eu? – perguntei, cerrando os punhos. A criatura riu.
-Num sítio onde espero que só uma pessoa te consiga encontrar.
-Quem? – questionei, apesar de já saber a resposta.
Os seus lábios moveram-se, abrindo-se num sorriso maléfico.
-Loki.

*

Ponto de vista de Thor

Era noite e eu arranjava as coisas para resgatar Bridget. Eu e Loki não fazíamos ideia de onde ela podia estar, mas tínhamos de agir o mais rapidamente possível. Quando me perguntaram sobre o que Loki queria dizer quando me pedira ajuda, afirmei que era uma coisa entre irmãos. Os meus pais e os meus amigos respeitaram o meu silêncio, mas ficaram desconfiados. Depois também perguntaram por Bridget. Respondi que estava no quarto a descansar e que pedira para não ser incomodada e Loki criara um holograma dela no seu quarto, mas que seria desmascarado se alguém entrasse no quarto dela e a tentasse acordar.
Continuava a não perceber bem o que acontecera. Algo parecia errado, havia ali algo que Loki não me estava a contar, mas não quis insistir. Não acho que tenha visto Loki alguma vez assim; esperava que não estivesse só a fingir; mas ele parecia mesmo deprimido. Era Bridget assim tão importante para ele? Quer dizer, eles não se suportavam! Não que alguém conseguisse suportar Loki, mas a relação de eles os dois era diferente… estavam sempre a implicar, mas agora Loki parecia muito preocupado com ela.
Acabei de arrumar as minhas coisas e fui ter com Loki à varanda, onde depois decidiríamos o que fazer. Ele já lá estava, com a cabeça para baixo a ler qualquer coisa.
-Por onde é que começamos? – perguntei-lhe. Como ele não respondeu, aproximei-me. Ele machucou o papel que tinha nas mãos com tanta força e raiva que cravou as unhas na pele.
-Loki, que se passa? – tornei a perguntar.
-Devia ter suspeitado que era ele – afirmou, a voz cheia de fúria. Franzi o sobrolho.
-Que queres dizer?
Ele virou-se e eu tive de me conter para não recuar perante a sua expressão esvairada. Estendeu-me o papel, que agarrei e li.

“Se queres ter a tua querida e preciosa Bridget de volta, encontra-te comigo no túnel das flores à meia-noite de hoje. Vai sozinho, Loki, ou nunca a verás outra vez. De certeza que consegues adivinhar quem eu sou, não? Faz um esforço, Loki, e chegas lá. Estou à tua espera e repito, vem SOZINHO. K“

-Isto não é um dos teus truques, pois não? – inquiri, olhando-o nos olhos. A sua expressão, até para o Deus das Mentiras, parecia ser demasiado sincera para eu insistir e continuar a duvidar.
-Tu também o conheces. Klaus – declarou e o choque invadiu-me o corpo. Klaus? Era um asgardiano com quem a família real não se dava propriamente bem. A família dele era perita em arranjar problemas no reino, mas ele era o pior. A mãe dele envolvera-se uma vez em discussões com a nossa e Loki atirara-se a Klaus para proteger a nossa mãe. Eu estava no outro lado do reino quando isto aconteceu e Loki lutara com Klaus até a sua mãe não aguentar mais e ter morrido de ataque cardíaco mesmo diante dos olhos deles, ao ver assim o seu filho lutar. Ainda que a culpa tivesse sido da mãe dele por ter começado a arranjar problemas com a nossa mãe, Klaus nunca perdoara Loki e sempre dissera que se ia vingar. E aí estava a vingança. Mas porquê a Bridget? Era ela querida e preciosa para Loki? Relembrei-me de quando encontrara Loki e Bridget num corredor do palácio de Asgard. Agora que pensava nisso, eles estavam muito perto um do outro…
-Mas como é que ele conseguiu superar os poderes de Bridget? Superar a tua magia? – interroguei e depois acrescentei, sem pensar – quer dizer, dizem que o amor nos deixa impotentes, mas…
-O quê? – perguntou Loki.  
-Nada – afirmei – quando é que partimos? Não falta assim tanto para a meia-noite.
-Não leste o bilhete? – perguntou Loki – tenho de ir sozinho.
-Estás a brincar? Não vou deixar que o meu irmão mais novo defronte alguém cujo poder desconhecemos! Já te julguei morto uma vez, não vou permitir que isso volte a acontecer.
-Eu não mereço essa preocupação, Thor, e tu sabes isso.
-Eu sei, mas os sentimentos não se controlam assim tão facilmente, Loki. Vou contigo.
-Não – ripostou ele.
-Sim. Não insistas, Loki. Eu escondo-me, ele não vai perceber.
-Achas mesmo? Não vai resultar e ainda acabamos os três mortos. Além disso, fui eu quem provocou isto, sou eu que tenho de ir – olhou-me nos olhos e quis acreditar que estava realmente triste – tenho de ir, Thor. Se… se eu não regressar, apenas… - engoliu em seco e cravou os olhos no chão – apenas esquece que eu existo.
-Isso é impossível.
-Desculpa, Thor, desculpa mesmo – lançou-me um último olhar e depois desapareceu. Eu estava a agir como um irresponsável, ao deixar que ele partisse. E se fosse tudo um plano para ele se esquivar ao julgamento e se aliar novamente com uma raça inimiga? Ou se fosse verdade, mas ele… mas ele não voltasse porque… nem queria pensar nisso. Por isso peguei no meu martelo e segui-o. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ajuda

Ponto de vista de Loki

Não percebi o que aconteceu. Vi-a a cair ao chão e de súbito uma rede caiu sobre ela. Queria mover-me, mas algo não me deixava olhar a cara dela; era devastador; a traição e a mágoa eram evidentes e não precisava de magia para saber o que ela estava a pensar. Mas por mais que seja difícil de acreditar, não era eu. Nunca a quisera atrair para nenhuma armadilha, não me passara sequer pela cabeça poder traí-la. Porém, ali estava eu, imóvel, preso ao chão, sem me conseguir mover, enquanto a rede lhe caía em cima e ela não tinha forças para lutar.
-Eu confiei em ti, Loki! - disse ela, a voz triste mas forte, lutando para se libertar da rede - não sei porquê, mas confiei! Fui tola em acreditar que podias... nunca mudaste e nunca vais mudar!
Quis encontrar a minha voz, replicar, dizer-lhe que não fora eu, mas em vez disso, senti um arrepio e uma voz quase metálica saiu pela minha boca:
-Sim, foste tola em acreditar que eu podia mudar - não conseguia perceber o que se passava, não tinha controlo sobre mim ou sobre as minhas ações. E no entanto os olhos dela arregalaram-se e ela desapareceu no meio de uma baforada de fumo sem que eu pudesse fazer algo para a ajudar. 
O que senti naquele momento... é impossível de descrever... sentia-me inútil, impotente, destruído. Como alguém conseguira distorcer a verdade e levar Bridget a acreditar que fora eu a planear aquilo tudo, quando não fora! E sentia-me revoltado e furioso por terem conseguido planear tudo sem eu desconfiar de nada... sem eu poder fazer nada... afinal, sou um Deus e mestre de magia, devia ter podido fazer alguma coisa! E agora estava livre e conseguia mover-me, mas ela tinha desaparecido... e mesmo que não tenha sido eu a planear aquilo, continuava a ser culpa minha... porque eu quisera mostrar-lhe o túnel de flores... eu distraíra-a inconscientemente quando a beijara... e ela não conseguira lutar por causa da tristeza e da mágoa que sentira ao pensar que eu a traíra... que não passava do velho Loki, cruel, malvado e horrível...
Aquilo que estava a sentir... era incontrolável e só era comparado à dor que sentira por Odin, Frigga e Thor... quando os magoava... porque é que esta mortal me afetava tanto?
Desesperado, tomei uma decisão. Tinha de ir ter com a pessoa que achava ser uma das poucas que me podia ajudar, ainda que não tivesse qualquer razão para o fazer. 
Teletransportei-me para a ponte de Bifrost, caminhando apressadamente até Heimdall. Ele estava virado de costas para mim, mas eu sabia que ele sabia que eu ali estava, por isso fui direto ao assunto.
-Para onde é que ela foi?
Ele virou-se lentamente, os olhos dourados conhecedores a fixarem-se em mim.
-Não devias ser tu a saber? - perguntou. Cerrei os punhos.
-Se há alguém que sabe que não fui eu que planeei o que aconteceu, és tu, Heimdall, Guardião dos Mundos. 
-Como posso ter a certeza, Loki? Enganaste-me uma vez, como posso ter a certeza de que não o estás a fazer novamente?
-Porque vim pedir-te ajuda - respondi, honestamente.

*

Ponto de vista de Heimdall

Olhei para Loki. Algo nele parecia mudado... diferente... verdadeiro.  Mas eu não o podia ajudar. Mesmo que quisesse, não conseguia ver Bridget. Ficava frustrado ao perceber que haviam magias poderosas que se sobrepunham à minha vigilância, mas era a verdade.
-Lamento, Loki - afirmei - mas não a consigo ver. 
Ele engoliu em seco e fixou os olhos no chão.
-Se realmente te preocupas com essa mortal - Loki levantou os olhos do chão abruptamente, mas eu prossegui - se te importas com ela... cai em ti, Loki, e pede ajuda. Não é mau pedir ajuda de vez em quando. Faz-nos sentir mais... humanos.

*

Ponto de vista de Loki

Humanos... Bridget apelara à minha humanidade... dissera-me com todas as letras que a tinha perdido... mas era mais fácil seguir o lado das trevas... e agora Heimdall queria que eu fosse pedir ajuda?
-Tenho a certeza de que o Thor te pode ajudar - declarou Heimdall e dito isto, virou costas. Percebi que não ia conseguir mais nada vindo dele e caminhei até ao palácio. Sabia que Heimdall estava certo. Eu ia ter de pedir ajuda, já percebera que sozinho não conseguia... mas pedir ajuda a Thor era diferente. Tinha-lhe feito tanto mal e continuava a fazer... se eu não me perdoava, como é que ele me poderia perdoar? Como poderia Odin ou Frigga? Como poderia Bridget?
Respirei fundo ao subir a escadaria de mármore. Tinha de o fazer... e quanto mais depressa melhor. Passei pela portas do palácio e abri de rompante a porta do salão de banquetes. Olhei diretamente para Thor, ignorando todos os outros que lá estavam.... Frigga, Odin, Sif, Volstagg, Fandral e Hogun.
-Preciso da tua ajuda.

*

Ponto de vista de Thor

Num minuto estava a rir-me com os meus companheiros, no outro o meu irmão entrara pela porta adentro a pedir a minha ajuda. Fiquei espantado e em choque, bem como todos os outros. Seria uma armadilha? Estaria ele a tentar a tramar-me? E qual o porquê daquela urgência na sua voz?
-Acho que vocês os dois deviam falar lá fora - disse a minha mãe. Assenti com a cabeça, ainda admirado e saí com Loki para o corredor.
Vi Loki a engolir em seco. Algo na sua expressão preocupou-me. Apesar de tudo o que tinha feito, o amor não era um botão que se podia simplesmente desligar quando se queria... ainda o amava e tinha esperança de que por debaixo daquele Loki cruel e sádico ainda existisse o meu irmãozinho, com quem brincara e discutira amigavelmente em criança e em jovem.
-Que se passa?- perguntei - e Loki, se isto for um dos teus truques, eu juro que...
-A Bridget está em perigo - interrompeu ele, sem me olhar nos olhos.
-O quê? Que lhe fizeste? Onde é que ela está? - inquiri. Não a vira desde o almoço, sabia apenas que tinha ido passear pela vila... que acontecera?
-Não me parece que acredites em mim se te contar, mas Heimdall disse que às vezes era bom pedir ajuda... e...
-Espera, o Heimdall?
-Fui ter com ele primeiro. Aconselhou-me a vir ter comigo.
Se ele estivera realmente com Heimdall, o caso mudava de figura. Ia perguntar a Heimdall se o que Loki dizia era verdade mais tarde.
-Conta-me o que aconteceu, irmão - pedi. Ele olhou-me, mas rapidamente desviou o olhar.
-Lembras-te... lembras-te daquele túnel de flores que a mãe nos costumava levar em pequenos? Com as flores roxas e brancas?
Sorri.
-Claro que sim.
-Vi a Bridget na vila e... mostrei-lhe esse túnel. Mas depois ela foi atacada e uma rede caiu sobre ela, sem que eu pudesse fazer nada porque não me conseguia mexer e alguém pôs palavras na minha boca e uma voz metálica saiu dentro de mim, mas não era eu, percebes?
Não podia dizer que estava a perceber tudo, mas curiosamente a parte que me intrigava mais era porque razão Loki quisera mostrar o túnel de flores a Bridget. E porque estava ele preocupado com ela.
-E depois ela desapareceu no meio de fumo, sem que eu pudesse reagir... - finalizou ele - tens todas as razões do mundo se não me quiseres ajudar, mas ela...
-Eu ajudo-te - cortei - mas faço-o pela Bridget, Loki. Apenas por ela.
Loki encarou-me finalmente, um misto de agradecimento e tristeza no olhar.
-Obrigado - murmurou.
-Mas vou ter de falar com algumas pessoas - declarei.
Ele encolheu os ombros.
-Só quero que me ajudes a encontrá-la.
Loki estava realmente a pedir-me ajuda... e tudo por causa de Bridget, a mortal... que se passaria entre eles para suscitar aquelas ações em Loki? Ele importar-se-ia mesmo com ela como me levava a crer? Ou fazia tudo parte de mais um plano maquiavélico?
Era melhor que não. Se assim fosse, eu seria o primeiro a certificar-me que Loki se arrependeria. E muito.