sábado, 18 de janeiro de 2014

Raiva

Ponto de vista de Bridget

Alguns asgardianos miraram-nos de forma estranha quando Loki passou comigo agarrada a ele pelos jardins do palácio. Não sabia o que eles estavam a pensar, mas esperava que não fosse algo diferente da realidade. Mas, depois, qual era a realidade? A verdade é que eu estava a ser ajudada pelo Deus do Prejuízo, o Deus que quase destruíra Nova Iorque inteira. E eu nunca imaginaria que isso fosse possível. Se me tivessem dito, no dia em que o Fury me pediu pela primeira vez vigiar Loki no porta-aviões da S.H.I.E.L.D, que passado algum tempo iria estar ali com Loki, eu rir-me-ia e internaria essa pessoa no manicómio. 
Enquanto ele me levava pelos corredores do palácio até à enfermaria, pensei no que os Vingadores pensariam se nos vissem assim. Steve iria manter a sua cara de sério, ou então desprezar-me-ia. Tony iria rir-se. Bruce não diria nada, tal como Clint. Thor olhar-nos-ia de forma estranha. Natasha faria um comentário sarcástico. Eu tinha saudades deles.
Loki bateu à porta da enfermaria. Uma enfermeira apareceu, olhando-me de forma estranha, conduzindo-nos até a um quarto individual. Depois foi-se embora e Loki abriu com magia a porta do quarto, sem lhe tocar. Uma enfermeira loura ajeitava os lençóis da cama. Quando ela olhou para mim reconheci-a como sendo a enfermeira da qual eu fugira para ir ao julgamento de Loki. Limitei-me a olhá-la de forma estranha, sem saber o que dizer. Loki largou-me finalmente e eu sentei-me na berma da cama, sem saber o que fazer. 
-Madame Lucy - sorriu Loki, olhando para a enfermeira. Ao contrário do que esperava, a enfermeira sorriu também.
-Príncipe Loki - cumprimentou ela. Lutei contra a vontade de revirar os olhos. Nunca gostara de fazer de vela. Eles continuaram a fitar-se por um longo período de tempo, enquanto eu tentava perceber o que estava a sentir. Raiva. Impotência. Quase ciúmes.
Clareei a garganta e levantei-me.
-Desculpem se estou a interromper o vosso momento de... hum, olhares, mas se calhar é melhor voltar noutra altura. Adeus.
-E os teus cortes? - perguntou Loki, quando eu abri a porta.
-Eu fico bem - respondi, friamente. São mais fáceis de suportar do que vos ver a babarem-se, acrescentei mentalmente, fechando a porta atrás de mim.

*

No dia seguinte, encontrava-me no jardim do palácio rodeada pela família real de Asgard, Sif e os Três Guerreiros. No dia anterior tinha ido a outra enfermeira e ela tratara os meus cortes e agora estava na altura de partir para a Terra. Iria sozinha, pois insistira para que Thor ficasse em Asgard como ele queria, apesar de ele ter insistido em levar-me.
-Foi um prazer ter-te aqui connosco - disse-me Frigga, abraçando-me. Depois, sussurrou-me ao ouvido: - obrigada. 
-Se todas as raparigas de Midgard forem como tu, então Midgard é um reino feliz - contemplou Odin e eu senti as minhas bochechas quentes. Loki sorriu presunçosamente. 
-Adeus, Bridget - despediu-se Thor - obrigada por vires!
-De nada - afirmei, abraçando-o e a Sif, Volstagg, Hogun e Fandral também. Loki era o único que faltava, mas depois do incidente com Lucy, não sabia o que fazer. Ou talvez mesmo que isso não tivesse acontecido eu não soubesse na mesma o que fazer. Loki mexia com os meus nervos. 
-Diz-lhe adeus - exigiu Thor a Loki, dando-lhe um empurrão na minha direção - e agradece-lhe, a Bridget fez muito por ti.
O sorriso de Loki voltou, aproximando-se. 
-Boa viagem - afirmou ele.
-Obrigada - respondi, não escondendo a fúria na voz. Depois Thor olhou para o céu e chamou Heimdall.
Troquei um último olhar com os olhos esverdeados de Loki antes do feixe de luz dourado me enviar de volta à Terra. 

*

Aterrei no meio do porta-aviões da S.H.I.E.L.D, com o familiar ruído dos aviões e dos helicópteros a descolar e a aterrar a preencher-me os ouvidos. Respirei fundo, sentindo-me em casa. Asgard tinha sido uma experiência confusa, com altos e baixos, mas sentia-me feliz por voltar ao meu lar. 
-E olhem quem chegou - afirmou uma voz feminina. Virei-me para ver Natasha, com o seu cabelo ruivo flamejante a caminhar de encontro a mim, um pequeno sorriso na cara. Abraçámo-nos.
-Então, o Loki deu-te muitas dores de cabeça? - perguntou ela.
-Não precisas de responder, o Thor manteve-nos atualizado de tudo - afirmou outra voz, agora masculina. Era Clint, que me estendeu a mão e eu apertei-a. Engoli em seco.
-Então vocês sabem sobre...
-Confesso que nunca esperei um argumento tão interessante na minha novela preferida!  - exclamou uma voz sorridente, confirmando as minhas suspeitas. Não precisei de ver para saber que era Tony - aquele Loki é mesmo traiçoeiro.
-Pode dizer-que sim - concordei, abraçando Tony. Bruce vinha atrás, reservado. 
-Bem-vinda de volta, Bridget - cumprimentou.
-Obrigada - olhei em volta - onde está o Steve?
Não compreendi a reação deles. Bruce, Clint e Natasha ficaram calados, trocando olhares estranhos e cúmplices entre si. Tony não sorria, o que era estranho porque ele sorria sempre com ar de gozo sempre que se falava de Steve. 
-Está no ginásio a descarregar a raiva - afirmou Tony. Franzi o sobrolho.
-Vou ter com ele.
-Essa pode não ser a melhor das ideias - declarou Tony.
-Vou na mesma - insisti, dirigindo-me ao ginásio da S.H.I.E.L.D. Passava pouco das três da tarde, por isso não havia quase ninguém no ginásio àquela hora, mas assim que entrei ouvi o som dos murros de Steve nos sacos de boxe. Fui até lá, vendo um Steve forte dando socos potentes no saco de boxe.
-Olá - cumprimentei, hesitante. Ele não respondeu, por isso falei mais alto - Steve.
Ele parou e olhou para trás. A sua cara abriu-se num pequeno sorriso, mas depois voltou a fechar-se em copas. Avançou para mim e abraçou-me.
-Estás bem? - perguntou-me. Eu sorri.
-Estou, Steve. 
-Mas tudo o que aconteceu em Asgard... com o Loki e Klaus...
-O que não nos mata só nos torna mais fortes - afirmei. Sabia que a frase tinha um significado especial para Steve. Ele assentiu.
-Gostava de ter estado lá para te ajudar, só isso.
-Eu sei tomar conta de mim - respondi.
-Eu sei que sabes, mas... - ele foi interrompido por um ruído vindo dos altifalantes. Depois a voz do diretor da S.H.I.E.LD. fez-se ouvir.
-Agente Bridget Robinson, por favor, apresente-se no meu gabinete. Repito, agente Bridget Robinson, meu gabinete.
Não era comum Fury chamar-me por altifalante, mas calculei que não estivesse muito satisfeito por eu ter ido ao ginásio primeiro em vez de ao seu gabinete.
-Tenho de ir - afirmei. Ele acenou com a cabeça e voltou ao saco de boxe. Eu encaminhei-me para o gabinete de Fury. A última vez que lá tinha estado tinha sido há três semanas atrás quando Fury e Thor me revelaram que Thor me tinha escolhido para ir com ele e Loki ao julgamento de Loki, em Asgard. Bati à porta e a voz de Fury mandou-me entrar.
-Desculpe não ter vindo aqui diretamente, mas...
-Não interessa - cortou ele, indicando a cadeira à frente da sua secretária para eu me sentar - pensei que gostasses de te manter atualizada sobre o julgamento de Loki, por isso pedi a Thor que me avisasse assim que tivesse notícias. Através de Heimdall temos recebido notícias deles. Ainda não decidiram quando vai ser o próximo julgamento, mas deverá ser para breve.
-O que acha que vai acontecer a Loki agora que se provou que ele pode ter estado a ser controlado?
-Bom, Bridget, como tu própria afirmaste, isso não é desculpa para os erros que ele cometeu. Mas vistas as coisas desse modo, dá alguma esperança a Loki. Sabes qual é o único processo certo da redenção?
Franzi o sobrolho.
-A prisão?
Fury ri-se da minha inocência.
-Remorsos, agente Robinson, remorsos. Será que Loki os tem?
-Não faço a mínima ideia - afirmei, sincera - mas está a querer dizer-me que se o Loki sentir remorsos e culpa verdadeira pelo que fez, que fica livre de castigos?
-Não. O que eu estou a dizer é que se, hipoteticamente, Loki se remediasse através dos remorsos e da culpa, podia começar o processo do castigo. Ele não se escapa a alguns anos na prisão, mas se ele fizer algo que reabilite nas pessoas a confiança e a segurança nele, alguns anos na prisão será tudo o que ele receberá.
Engoli em seco. Não me podia dar ao luxo de ter esperanças. Loki não era o tipo de pessoa de ajudar os outros. Todavia, ele ajudara-me. Tony tinha razão, Loki era traiçoeiro.
-Então, se Loki se remediar, através dos remorsos e de boas ações, isso aliado ao facto de estar a ser controlado pelo Tesseract, dá-lhe uma vida livre?
O único olho de Fury fitou-me intensamente.
-É exatamente isso que estou a dizer.
-E acha possível Loki, o Deus do Prejuízo, ser capaz de fazer essas boas ações? Ele até pode sentir culpa e remorsos, mas se não for capaz de os ultrapassar, não vale de nada. O seu destino está nas escolhas que ele fará. E Loki não me parece ser o tipo de pessoa que faça escolhas acertadas.
-Tem razão, agente Robinson, mas Loki também não me parece ser o tipo de pessoa que cometa o mesmo erro duas vezes - alegou Fury. Aquela conversa era estranha. Porque haveria Fury de querer ajudar Loki? Ele fizera Fury ficar muito desesperado! Eu já conhecia Fury e todo o sistema da S.H.I.E.L.D para desconfiar daquela conversa. Tinha de haver mais qualquer coisa escondida ali algures. 
-Fury, qual é a sua intenção ao livrar Loki de um destino aprisionado e ao fazê-lo ajudar as pessoas? - questionei diretamente, esperando não estar a ir longe demais. 
Fury olhou para mim, abriu uma gaveta da sua secretária e tirou uma pasta de lá de dentro. Pousou-a à minha frente na secretária.
-Acho que está na altura de lhe contar tudo, agente Robinson - declarou ele, o seu olho a inspeccionar-me atentamente - prepare-se.

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