sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ajuda

Ponto de vista de Loki

Não percebi o que aconteceu. Vi-a a cair ao chão e de súbito uma rede caiu sobre ela. Queria mover-me, mas algo não me deixava olhar a cara dela; era devastador; a traição e a mágoa eram evidentes e não precisava de magia para saber o que ela estava a pensar. Mas por mais que seja difícil de acreditar, não era eu. Nunca a quisera atrair para nenhuma armadilha, não me passara sequer pela cabeça poder traí-la. Porém, ali estava eu, imóvel, preso ao chão, sem me conseguir mover, enquanto a rede lhe caía em cima e ela não tinha forças para lutar.
-Eu confiei em ti, Loki! - disse ela, a voz triste mas forte, lutando para se libertar da rede - não sei porquê, mas confiei! Fui tola em acreditar que podias... nunca mudaste e nunca vais mudar!
Quis encontrar a minha voz, replicar, dizer-lhe que não fora eu, mas em vez disso, senti um arrepio e uma voz quase metálica saiu pela minha boca:
-Sim, foste tola em acreditar que eu podia mudar - não conseguia perceber o que se passava, não tinha controlo sobre mim ou sobre as minhas ações. E no entanto os olhos dela arregalaram-se e ela desapareceu no meio de uma baforada de fumo sem que eu pudesse fazer algo para a ajudar. 
O que senti naquele momento... é impossível de descrever... sentia-me inútil, impotente, destruído. Como alguém conseguira distorcer a verdade e levar Bridget a acreditar que fora eu a planear aquilo tudo, quando não fora! E sentia-me revoltado e furioso por terem conseguido planear tudo sem eu desconfiar de nada... sem eu poder fazer nada... afinal, sou um Deus e mestre de magia, devia ter podido fazer alguma coisa! E agora estava livre e conseguia mover-me, mas ela tinha desaparecido... e mesmo que não tenha sido eu a planear aquilo, continuava a ser culpa minha... porque eu quisera mostrar-lhe o túnel de flores... eu distraíra-a inconscientemente quando a beijara... e ela não conseguira lutar por causa da tristeza e da mágoa que sentira ao pensar que eu a traíra... que não passava do velho Loki, cruel, malvado e horrível...
Aquilo que estava a sentir... era incontrolável e só era comparado à dor que sentira por Odin, Frigga e Thor... quando os magoava... porque é que esta mortal me afetava tanto?
Desesperado, tomei uma decisão. Tinha de ir ter com a pessoa que achava ser uma das poucas que me podia ajudar, ainda que não tivesse qualquer razão para o fazer. 
Teletransportei-me para a ponte de Bifrost, caminhando apressadamente até Heimdall. Ele estava virado de costas para mim, mas eu sabia que ele sabia que eu ali estava, por isso fui direto ao assunto.
-Para onde é que ela foi?
Ele virou-se lentamente, os olhos dourados conhecedores a fixarem-se em mim.
-Não devias ser tu a saber? - perguntou. Cerrei os punhos.
-Se há alguém que sabe que não fui eu que planeei o que aconteceu, és tu, Heimdall, Guardião dos Mundos. 
-Como posso ter a certeza, Loki? Enganaste-me uma vez, como posso ter a certeza de que não o estás a fazer novamente?
-Porque vim pedir-te ajuda - respondi, honestamente.

*

Ponto de vista de Heimdall

Olhei para Loki. Algo nele parecia mudado... diferente... verdadeiro.  Mas eu não o podia ajudar. Mesmo que quisesse, não conseguia ver Bridget. Ficava frustrado ao perceber que haviam magias poderosas que se sobrepunham à minha vigilância, mas era a verdade.
-Lamento, Loki - afirmei - mas não a consigo ver. 
Ele engoliu em seco e fixou os olhos no chão.
-Se realmente te preocupas com essa mortal - Loki levantou os olhos do chão abruptamente, mas eu prossegui - se te importas com ela... cai em ti, Loki, e pede ajuda. Não é mau pedir ajuda de vez em quando. Faz-nos sentir mais... humanos.

*

Ponto de vista de Loki

Humanos... Bridget apelara à minha humanidade... dissera-me com todas as letras que a tinha perdido... mas era mais fácil seguir o lado das trevas... e agora Heimdall queria que eu fosse pedir ajuda?
-Tenho a certeza de que o Thor te pode ajudar - declarou Heimdall e dito isto, virou costas. Percebi que não ia conseguir mais nada vindo dele e caminhei até ao palácio. Sabia que Heimdall estava certo. Eu ia ter de pedir ajuda, já percebera que sozinho não conseguia... mas pedir ajuda a Thor era diferente. Tinha-lhe feito tanto mal e continuava a fazer... se eu não me perdoava, como é que ele me poderia perdoar? Como poderia Odin ou Frigga? Como poderia Bridget?
Respirei fundo ao subir a escadaria de mármore. Tinha de o fazer... e quanto mais depressa melhor. Passei pela portas do palácio e abri de rompante a porta do salão de banquetes. Olhei diretamente para Thor, ignorando todos os outros que lá estavam.... Frigga, Odin, Sif, Volstagg, Fandral e Hogun.
-Preciso da tua ajuda.

*

Ponto de vista de Thor

Num minuto estava a rir-me com os meus companheiros, no outro o meu irmão entrara pela porta adentro a pedir a minha ajuda. Fiquei espantado e em choque, bem como todos os outros. Seria uma armadilha? Estaria ele a tentar a tramar-me? E qual o porquê daquela urgência na sua voz?
-Acho que vocês os dois deviam falar lá fora - disse a minha mãe. Assenti com a cabeça, ainda admirado e saí com Loki para o corredor.
Vi Loki a engolir em seco. Algo na sua expressão preocupou-me. Apesar de tudo o que tinha feito, o amor não era um botão que se podia simplesmente desligar quando se queria... ainda o amava e tinha esperança de que por debaixo daquele Loki cruel e sádico ainda existisse o meu irmãozinho, com quem brincara e discutira amigavelmente em criança e em jovem.
-Que se passa?- perguntei - e Loki, se isto for um dos teus truques, eu juro que...
-A Bridget está em perigo - interrompeu ele, sem me olhar nos olhos.
-O quê? Que lhe fizeste? Onde é que ela está? - inquiri. Não a vira desde o almoço, sabia apenas que tinha ido passear pela vila... que acontecera?
-Não me parece que acredites em mim se te contar, mas Heimdall disse que às vezes era bom pedir ajuda... e...
-Espera, o Heimdall?
-Fui ter com ele primeiro. Aconselhou-me a vir ter comigo.
Se ele estivera realmente com Heimdall, o caso mudava de figura. Ia perguntar a Heimdall se o que Loki dizia era verdade mais tarde.
-Conta-me o que aconteceu, irmão - pedi. Ele olhou-me, mas rapidamente desviou o olhar.
-Lembras-te... lembras-te daquele túnel de flores que a mãe nos costumava levar em pequenos? Com as flores roxas e brancas?
Sorri.
-Claro que sim.
-Vi a Bridget na vila e... mostrei-lhe esse túnel. Mas depois ela foi atacada e uma rede caiu sobre ela, sem que eu pudesse fazer nada porque não me conseguia mexer e alguém pôs palavras na minha boca e uma voz metálica saiu dentro de mim, mas não era eu, percebes?
Não podia dizer que estava a perceber tudo, mas curiosamente a parte que me intrigava mais era porque razão Loki quisera mostrar o túnel de flores a Bridget. E porque estava ele preocupado com ela.
-E depois ela desapareceu no meio de fumo, sem que eu pudesse reagir... - finalizou ele - tens todas as razões do mundo se não me quiseres ajudar, mas ela...
-Eu ajudo-te - cortei - mas faço-o pela Bridget, Loki. Apenas por ela.
Loki encarou-me finalmente, um misto de agradecimento e tristeza no olhar.
-Obrigado - murmurou.
-Mas vou ter de falar com algumas pessoas - declarei.
Ele encolheu os ombros.
-Só quero que me ajudes a encontrá-la.
Loki estava realmente a pedir-me ajuda... e tudo por causa de Bridget, a mortal... que se passaria entre eles para suscitar aquelas ações em Loki? Ele importar-se-ia mesmo com ela como me levava a crer? Ou fazia tudo parte de mais um plano maquiavélico?
Era melhor que não. Se assim fosse, eu seria o primeiro a certificar-me que Loki se arrependeria. E muito.

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