Ponto de vista de
Bridget
Quando acordei,
senti-me tonta, com a garganta seca, e doía-me a cabeça. Abri os olhos a custo,
e estes doeram-me por causa da luz. Olhei em volta: estava num quarto, sozinha,
numa cama de lençóis brancos e bancadas nas paredes com instrumentos de
medicina. Um copo alto com água encontrava-se pousado na mesa-de-cabeceira. Peguei
nele, bebi e soube-me bem. Alguém entrou no quarto, estacando quando me viu
acordada.
-Acordou finalmente!
Era uma enfermeira,
pelo menos parecia-se com uma, com uma bata branca, um chapéu branco e os
caracóis louros apanhados. Parecia nova.
-Quanto tempo estive
inconsciente? – perguntei. Ela pegou no copo, encheu-o numa torneira e
estendeu-mo.
-Hoje é sexta-feira. Esteve
a dormir desde terça a hoje – declarou ela.
Franzi o sobrolho, o
que me fez doer mais a cabeça.
-Então hoje é o dia
do julgamento – afirmei.
Ela não respondeu,
olhando-me com um ar estranho. Inevitavelmente e contra a minha vontade, o meu
coração emitiu um baque. Loki…
-O julgamento de
Loki? – questionei – ele está cá, certo?
Ela acenou.
-Sim, apareceu pouco
depois de a menina desmaiar. Não estava muito mal fisicamente, mas parecia
mentalmente esgotado.
-Aposto que Asgard
inteira já sabe o que aconteceu.
-Sim – a enfermeira
deitou-me um olhar repreensivo – Thor e Loki levaram um sermão dos reis por
terem fugido sem dizer nada e acima de tudo por terem mentido acerca do seu
paradeiro.
-Não é culpa deles –
aleguei – bom, pelo menos a culpa não é de Thor.
-Isso não impede o facto de que o que eles
fizeram ter sido errado…
-Onde e quando é o
julgamento? – interrompi.
-Não pense que vai
sair daqui, menina. Não tem autorização e há dois guardas armados a vigiar a
porta.
-Eu sei. Só estava
curiosa. Não gosto de não saber as coisas.
-A sessão já está a
decorrer, de qualquer maneira, no Tribunal de Asgard - ela encolheu os ombros. Assenti com a cabeça e bebi o resto da água.
-Podia dar-me mais? –
inquiri. Ela virou-se para a torneira e não pensei duas vezes. Tinha uma camisa
branca que mais parecia um vestido e saltei da cama.
-Tome… - ia ela a
dizer, mas deixou cair o copo ao chão e tentou agarrar-me enquanto eu corria
até à porta. Esquivei-me, abrindo a porta.
-Desculpe! –
exclamei, fechando-lhe a porta na cara e embatendo contra os dois guardas
armados.
*
Ponto de vista do Juiz
-E confessa ter cometido
os crimes anteriormente referidos, de total e livre vontade? – perguntei a
Loki, que se encontrava à minha frente, em pé, com a família real, incluindo
Odin, Frigga e Thor, sentados nos bancos do Tribunal.
Ele não respondeu
imediatamente. Ficou quase como pensativo, a cor dos seus olhos a variar entre o
verde e o azul. Loki possuía uma estranha magia. Devia ser característica dos
Gigantes de Gelo.
-Sim – afirmou,
finalmente.
-Irmão… - ouvi Thor
sussurrar, mas Odin mandou-o calar.
-Então, vistas e
consideradas estas declarações, declaro que…
Porém, não consegui
terminar a frase uma vez que a porta do Tribunal explodiu, revelando uma
rapariga loura vestida com uma camisa de hospital do outro lado.
*
Ponto de vista de
Bridget
Dez minutos antes
Esbarrei contra os
guardas. Um deles segurou-me e o outro pôs-se há minha frente.
-Desculpe, menina,
mas tem de voltar lá para dentro – disse o que estava há minha frente.
-Temo que não possa
obedecer a essa ordem – afirmei e quando o guarda atrás de mim tinha intenções
de me voltar a pôr no quarto, uma onda magnética projetou-se do meu corpo para
o exterior, mandando os guardas contra a parede.
-Desculpem! –
exclamei e desatei a correr pelos corredores. Ponderei ir até ao meu quarto
trocar de roupa, mas perderia imenso tempo e não tinha a certeza em que zona do
palácio é que estava. Alguns guardas correram atrás de mim, mas afastei-os com
as minhas ondas eletromagnéticas.
Dobrei a esquina para
um novo corredor e algo prendeu a minha atenção. Uma luz azulada via-se por
entre uma porta. Rapidamente, fui até lá, hesitando um pouco se havia de abrir a
porta ou não. Resolvi abri-la e susti a respiração. Não precisei de muito tempo
para perceber onde estava.
O quarto de Loki.
Era em tons verdes,
pretos e dourados, e tinha o seu capacete de príncipe pousado na cómoda. Mas não
reparei em mais nada, pois a luz azul que vira irradiava de um pequeno objeto
pousado na cama dele. Não sabia se lhe devia tocar, mas acabei por o fazer. Era
um mini cubo, frio como gelo. Reprimi um grito de surpresa. Era uma mini
representação do Tesseract.
Tesseract |
Havia um pequeno
bilhete ao lado. Não era em papel, mas sim uma espécie de placa de prata, com
umas letras pretas inscritas.
“Isto é o que resta
do nosso controlo sobre ti, Loki. Tu falhaste na tua missão e como tal
renegamos-te ao poder imenso do Tesseract. Sentimos em ti novas emoções que não
conseguimos identificar. Não és mais bem-vindo, Loki. E dá graças pelo facto de
estarmos destruídos para não irmos à tua procura. Aproveita a tua
liberdade.”
Engoli em seco. Se eu
percebia o que a placa dizia, Loki estivera, de alguma forma, sob o controlo do
Tesseract, tal como Clint e outros estiveram, só que de maneira diferente. Isso
significava que ele não estava em si quando cometera alguns crimes. Não sabia
porque estava a pensar assim, mas naquele momento, soube que tinha de levar
aquelas provas para o julgamento. Loki não era inocente, mas podia ser que não
fosse tanto o monstro que toda a gente pensava que ele era. Concentrei-me,
criando uma pequena bolha magnética e envolvendo o cubo e a placa de prata
dentro dela. Não perdi tempo e envolvi a bolha com as mãos, correndo
desenfreadamente pelo palácio. Consegui chegar, por sorte, a uma porta que
levava às traseiras do palácio. Atravessei os jardins e parei para perguntar a
uma criança pequena se ela sabia onde era o tribunal. Ela olhou-me de forma
estranha, mas depois apontou para a direita. Cortei para lá e estaquei à frente
de um edifício dourado, com uma imponente escadaria. Subi-a, ignorando os
guardas que me intercetavam. Explodi com a porta, encarando uma família real e
um juiz muito zangados. Mas Loki sorria com aquele sorriso endiabrado.
-O que fez com os
meus guardas? – grunhiu o juiz, olhando-me furioso, mas calou-se quando reparou
no que eu envolvia com as mãos. O sorriso de Loki desvaneceu-se assim que
percebeu o que era e a sua expressão escureceu.
-O. Que. Fazes. Com.
Isso? – questionou, calma e friamente. Só por acaso, relembrem-me porque estava
a tentar ajudá-lo?
-Bom, eu… havia uma
luz a sair do teu quarto e encontrei isto…
-Mostra – ordenou
Odin e levei a bolha até ele, Thor e Frigga. Os três olharam para a mini
representação do Tesseract e depois leram o que a placa dizia. O juiz também se
aproximou, enquanto eu e Loki nos enfrentávamos furiosamente com o olhar.
-Loki… - Frigga foi a
primeira a falar – isto quer dizer aquilo que eu penso que quer? Que todo este
tempo estiveste a ser controlado?
-Claro que não! – replicou
ele – eu nunca me sujeitaria a subjugar-me e…
-Loki anseia pelo
poder – aleguei eu, cruzando os braços e virando-me para a família real – por
isso aliou-se a quem julgava poder conceder-lhe esse poder. Ele estava errado, eles só o usaram como isco, como servo,
como um meio para atingirem o que queriam. E Loki falhou e levou-os assim à sua
própria destruição. E não quero com isto dizer que Loki é inocente, por que não
é. Ele errou, e estava perfeitamente consciente quando fez a escolha de se
aliar a quem não devia, e errou pela sua própria cabeça e deve ser julgado por
isso. Mas talvez isto seja a prova de que ele não estava sempre em si, que
lutava contra algo que o possuía.
Como que a confirmar
as minhas suspeitas, os olhos de Loki variaram entre o verde e o azul.
-Vejam agora –
afirmei, apontando para os seus olhos e todos olharam para ele. O juiz fez uma
cara como se compreendesse.
-Loki… - chamou Thor
desta vez – é verdade? Não mintas!
Ele sorriu
cinicamente.
-Eu sou o Deus das
Mentiras.
-Mas nós somos a tua
família. E depois de tudo o que fizeste, a Bridget ainda te quer ajudar – Thor
olhou para mim – não achas que merecemos ouvir a verdade pelo menos uma vez?
-De que é que isso
adiantaria? – inquiriu Loki – vou ser posto numa cela para o resto da vida,
quer minta, quer seja sincero.
-Não me deixas
alternativa – afirmou Thor, estendendo o braço e abrindo a mão.
-Oh, não, Thor…. Tu
não… - disse Loki, mas o martelo de Thor veio disparado em direção à mão aberta
de Thor. Este agarrou-o e destruiu a representação do Tesseract bem como a
placa, numa explosão violenta de luz e raios.
Mas eu só reparei nos
olhos de Loki. Passaram de um intenso azul para um azul mais claro, mais verde…
os seus olhos puros. E acho que nunca os tinha visto assim, tão reais, tão
profundos.
Só depois reparei que
Odin, Frigga e o juiz discutiam vivamente. Em seguida levantaram as cabeças e o
juiz declarou:
-O julgamento foi
adiado devido às circunstâncias e novas provas que nos foram dadas – depois
olhou para mim – e quero o prejuízo daquela porta e dos cuidados médicos dos
guardas pago.
-E o Loki? –
questionou Thor.
-Ficará aqui em
Asgard – respondeu Odin – quanto à Bridget, pode regressar a Midgard.
-Se não precisam mais
de mim, então assim o farei – afirmei, fazendo uma pequena vénia e virando-me
para a porta destruída.
-Bridget – chamou
Frigga. Olhei por cima do ombro – obrigada.
-Não me arrependo do
que fiz – aleguei simplesmente, caminhando de volta ao palácio. Ao sair, um pensamento atravessou-me a mente. Uma frase inscrita na placa prateada.
Sentimos em ti novas emoções que não conseguimos identificar.
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