sábado, 11 de janeiro de 2014

Tesseract

Ponto de vista de Bridget

Quando acordei, senti-me tonta, com a garganta seca, e doía-me a cabeça. Abri os olhos a custo, e estes doeram-me por causa da luz. Olhei em volta: estava num quarto, sozinha, numa cama de lençóis brancos e bancadas nas paredes com instrumentos de medicina. Um copo alto com água encontrava-se pousado na mesa-de-cabeceira. Peguei nele, bebi e soube-me bem. Alguém entrou no quarto, estacando quando me viu acordada.
-Acordou finalmente!
Era uma enfermeira, pelo menos parecia-se com uma, com uma bata branca, um chapéu branco e os caracóis louros apanhados. Parecia nova.
-Quanto tempo estive inconsciente? – perguntei. Ela pegou no copo, encheu-o numa torneira e estendeu-mo.
-Hoje é sexta-feira. Esteve a dormir desde terça a hoje – declarou ela.
Franzi o sobrolho, o que me fez doer mais a cabeça.
-Então hoje é o dia do julgamento – afirmei.
Ela não respondeu, olhando-me com um ar estranho. Inevitavelmente e contra a minha vontade, o meu coração emitiu um baque. Loki…
-O julgamento de Loki? – questionei – ele está cá, certo?
Ela acenou.
-Sim, apareceu pouco depois de a menina desmaiar. Não estava muito mal fisicamente, mas parecia mentalmente esgotado.
-Aposto que Asgard inteira já sabe o que aconteceu.
-Sim – a enfermeira deitou-me um olhar repreensivo – Thor e Loki levaram um sermão dos reis por terem fugido sem dizer nada e acima de tudo por terem mentido acerca do seu paradeiro.
-Não é culpa deles – aleguei – bom, pelo menos a culpa não é de Thor.
 -Isso não impede o facto de que o que eles fizeram ter sido errado…
-Onde e quando é o julgamento? – interrompi.
-Não pense que vai sair daqui, menina. Não tem autorização e há dois guardas armados a vigiar a porta.
-Eu sei. Só estava curiosa. Não gosto de não saber as coisas.
-A sessão já está a decorrer, de qualquer maneira, no Tribunal de Asgard - ela encolheu os ombros. Assenti com a cabeça e bebi o resto da água.
-Podia dar-me mais? – inquiri. Ela virou-se para a torneira e não pensei duas vezes. Tinha uma camisa branca que mais parecia um vestido e saltei da cama.
-Tome… - ia ela a dizer, mas deixou cair o copo ao chão e tentou agarrar-me enquanto eu corria até à porta. Esquivei-me, abrindo a porta.
-Desculpe! – exclamei, fechando-lhe a porta na cara e embatendo contra os dois guardas armados.

*

Ponto de vista do Juiz

-E confessa ter cometido os crimes anteriormente referidos, de total e livre vontade? – perguntei a Loki, que se encontrava à minha frente, em pé, com a família real, incluindo Odin, Frigga e Thor, sentados nos bancos do Tribunal.
Ele não respondeu imediatamente. Ficou quase como pensativo, a cor dos seus olhos a variar entre o verde e o azul. Loki possuía uma estranha magia. Devia ser característica dos Gigantes de Gelo.
-Sim – afirmou, finalmente.
-Irmão… - ouvi Thor sussurrar, mas Odin mandou-o calar.
-Então, vistas e consideradas estas declarações, declaro que…
Porém, não consegui terminar a frase uma vez que a porta do Tribunal explodiu, revelando uma rapariga loura vestida com uma camisa de hospital do outro lado.

*

Ponto de vista de Bridget

Dez minutos antes

Esbarrei contra os guardas. Um deles segurou-me e o outro pôs-se há minha frente.
-Desculpe, menina, mas tem de voltar lá para dentro – disse o que estava há minha frente.
-Temo que não possa obedecer a essa ordem – afirmei e quando o guarda atrás de mim tinha intenções de me voltar a pôr no quarto, uma onda magnética projetou-se do meu corpo para o exterior, mandando os guardas contra a parede.
-Desculpem! – exclamei e desatei a correr pelos corredores. Ponderei ir até ao meu quarto trocar de roupa, mas perderia imenso tempo e não tinha a certeza em que zona do palácio é que estava. Alguns guardas correram atrás de mim, mas afastei-os com as minhas ondas eletromagnéticas.
Dobrei a esquina para um novo corredor e algo prendeu a minha atenção. Uma luz azulada via-se por entre uma porta. Rapidamente, fui até lá, hesitando um pouco se havia de abrir a porta ou não. Resolvi abri-la e susti a respiração. Não precisei de muito tempo para perceber onde estava.
O quarto de Loki.
Era em tons verdes, pretos e dourados, e tinha o seu capacete de príncipe pousado na cómoda. Mas não reparei em mais nada, pois a luz azul que vira irradiava de um pequeno objeto pousado na cama dele. Não sabia se lhe devia tocar, mas acabei por o fazer. Era um mini cubo, frio como gelo. Reprimi um grito de surpresa. Era uma mini representação do Tesseract.

Tesseract
Havia um pequeno bilhete ao lado. Não era em papel, mas sim uma espécie de placa de prata, com umas letras pretas inscritas.

“Isto é o que resta do nosso controlo sobre ti, Loki. Tu falhaste na tua missão e como tal renegamos-te ao poder imenso do Tesseract. Sentimos em ti novas emoções que não conseguimos identificar. Não és mais bem-vindo, Loki. E dá graças pelo facto de estarmos destruídos para não irmos à tua procura. Aproveita a tua liberdade.”

Engoli em seco. Se eu percebia o que a placa dizia, Loki estivera, de alguma forma, sob o controlo do Tesseract, tal como Clint e outros estiveram, só que de maneira diferente. Isso significava que ele não estava em si quando cometera alguns crimes. Não sabia porque estava a pensar assim, mas naquele momento, soube que tinha de levar aquelas provas para o julgamento. Loki não era inocente, mas podia ser que não fosse tanto o monstro que toda a gente pensava que ele era. Concentrei-me, criando uma pequena bolha magnética e envolvendo o cubo e a placa de prata dentro dela. Não perdi tempo e envolvi a bolha com as mãos, correndo desenfreadamente pelo palácio. Consegui chegar, por sorte, a uma porta que levava às traseiras do palácio. Atravessei os jardins e parei para perguntar a uma criança pequena se ela sabia onde era o tribunal. Ela olhou-me de forma estranha, mas depois apontou para a direita. Cortei para lá e estaquei à frente de um edifício dourado, com uma imponente escadaria. Subi-a, ignorando os guardas que me intercetavam. Explodi com a porta, encarando uma família real e um juiz muito zangados. Mas Loki sorria com aquele sorriso endiabrado.
-O que fez com os meus guardas? – grunhiu o juiz, olhando-me furioso, mas calou-se quando reparou no que eu envolvia com as mãos. O sorriso de Loki desvaneceu-se assim que percebeu o que era e a sua expressão escureceu.
-O. Que. Fazes. Com. Isso? – questionou, calma e friamente. Só por acaso, relembrem-me porque estava a tentar ajudá-lo?
-Bom, eu… havia uma luz a sair do teu quarto e encontrei isto…
-Mostra – ordenou Odin e levei a bolha até ele, Thor e Frigga. Os três olharam para a mini representação do Tesseract e depois leram o que a placa dizia. O juiz também se aproximou, enquanto eu e Loki nos enfrentávamos furiosamente com o olhar.
-Loki… - Frigga foi a primeira a falar – isto quer dizer aquilo que eu penso que quer? Que todo este tempo estiveste a ser controlado?
-Claro que não! – replicou ele – eu nunca me sujeitaria a subjugar-me e…
-Loki anseia pelo poder – aleguei eu, cruzando os braços e virando-me para a família real – por isso aliou-se a quem julgava poder conceder-lhe esse poder. Ele estava errado, eles só o usaram como isco, como servo, como um meio para atingirem o que queriam. E Loki falhou e levou-os assim à sua própria destruição. E não quero com isto dizer que Loki é inocente, por que não é. Ele errou, e estava perfeitamente consciente quando fez a escolha de se aliar a quem não devia, e errou pela sua própria cabeça e deve ser julgado por isso. Mas talvez isto seja a prova de que ele não estava sempre em si, que lutava contra algo que o possuía.
Como que a confirmar as minhas suspeitas, os olhos de Loki variaram entre o verde e o azul.
-Vejam agora – afirmei, apontando para os seus olhos e todos olharam para ele. O juiz fez uma cara como se compreendesse.
-Loki… - chamou Thor desta vez – é verdade? Não mintas!
Ele sorriu cinicamente.
-Eu sou o Deus das Mentiras.
-Mas nós somos a tua família. E depois de tudo o que fizeste, a Bridget ainda te quer ajudar – Thor olhou para mim – não achas que merecemos ouvir a verdade pelo menos uma vez?
-De que é que isso adiantaria? – inquiriu Loki – vou ser posto numa cela para o resto da vida, quer minta, quer seja sincero.
-Não me deixas alternativa – afirmou Thor, estendendo o braço e abrindo a mão.
-Oh, não, Thor…. Tu não… - disse Loki, mas o martelo de Thor veio disparado em direção à mão aberta de Thor. Este agarrou-o e destruiu a representação do Tesseract bem como a placa, numa explosão violenta de luz e raios.


Mas eu só reparei nos olhos de Loki. Passaram de um intenso azul para um azul mais claro, mais verde… os seus olhos puros. E acho que nunca os tinha visto assim, tão reais, tão profundos.
Só depois reparei que Odin, Frigga e o juiz discutiam vivamente. Em seguida levantaram as cabeças e o juiz declarou:
-O julgamento foi adiado devido às circunstâncias e novas provas que nos foram dadas – depois olhou para mim – e quero o prejuízo daquela porta e dos cuidados médicos dos guardas pago.
-E o Loki? – questionou Thor.
-Ficará aqui em Asgard – respondeu Odin – quanto à Bridget, pode regressar a Midgard.
-Se não precisam mais de mim, então assim o farei – afirmei, fazendo uma pequena vénia e virando-me para a porta destruída.
-Bridget – chamou Frigga. Olhei por cima do ombro – obrigada.
-Não me arrependo do que fiz – aleguei simplesmente, caminhando de volta ao palácio. Ao sair, um pensamento atravessou-me a mente. Uma frase inscrita na placa prateada.
Sentimos em ti novas emoções que não conseguimos identificar. 

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