Ponto de vista de
Bridget
O local era frio e
desagradável, tal como Loki. O homem encapuzado abandonou o espaço sem mais uma
palavra e o silêncio inundou a cela. Sabia que estava à espera de Loki, mas
para quê? Para receber um pagamento pela minha captura? Para falar com ele
sobre o que fazer comigo a seguir? Se fosse isso, porquê aquele sorriso
horripilante, como se mal pudesse esperar que Loki chegasse? Quereria o homem
encapuzado assim tanto o dinheiro ou detestar-me-ia tanto que mal podia esperar
por me ver pelas costas? Quaisquer que fossem as razões, faltava ali qualquer
coisa.
Subitamente, ouvi um
estrondo e pela porta da cela vi uma réstia de luz verde-azulada. Que se teria
passado? Subitamente, aquela luz vagamente familiar deu-me esperança.
Concentrei-me e expandi o escudo para além de mim, rebentando com as paredes de
vidro da cela e depois com a porta. O que vi deixou-me perplexa.
Loki tinha agarrado o
homem encapuzado, que agora tinha a cabeça a descoberto, pelos colarinhos e
empurrava-o contra a parede, a cara contorcida numa expressão de raiva. Mas não
foi isso que me surpreendeu mais. No seu tom de voz normal, embora alterado
pela fúria, Loki grunhiu:
-Onde é que ela está
e o que é que lhe fizeste, Klaus?
*
Ponto de vista de
Thor
Meia hora antes
Escondi-me por entre
as flores do túnel, rezando para que nem Loki nem Klaus sentissem a minha
presença. Observei ofegante enquanto Loki esperava por Klaus. Temia as
consequências daquele encontro. Depois, à meia noite em ponto, Klaus chegou,
com os seus lábios vermelhos e carnudos, olhos azuis-gelo e cabelo castanho e
comprido. Era novo, supunha, parecia ter uma aparência de vinte a trinta anos.
-Então vieste, Loki –
sorriu ele, sinistramente.
-Onde está ela? –
replicou Loki, furioso.
-Acalma os cavalos,
Laufeyson, ela está provavelmente melhor comigo do que contigo. Ela é bem
bonita, por sinal...
Loki deu um passo em
frente, os punhos cerrados.
-Se lhe fizeste
alguma coisa, eu juro que…
-Ora, ora, ora –
gozou Klaus – ela mudou-te mesmo, não foi? Onde está o Deus controlado e
manipulador? Porque há minha frente vejo um louco impulsivo!
-Porquê ela? –
questionou Loki.
-Ela é importante
para ti.
Loki não respondeu e
eu franzi o sobrolho. Eu nunca notara que havia algo entre eles… mas eu também não era
a pessoa mais observadora do Universo.
-Mas, se eu acho que
aquilo que me estás a perguntar é isto, então respondo-te: decidi não escolher
a tua querida mãe, porque ela tem
muito mais proteção e seria muito mais difícil chegar até ela. Mas com a
Bridget, foi tão fácil... - disse Klaus.
-Como é que a
capturaste? Como é que conseguiste manipular a situação de forma a parecer que
fora eu a planear tudo? - interrogou Loki.
-Poder, Loki. Poder.
Agora, pergunto-me se gostarias de a ver?
-Deixa-a em paz,
Klaus. Ela não te fez nada, eu fiz!
-Oh, aí é que te
enganas. Ela foi a escolha perfeita: fácil e tão importante para ti… - ele
parou, um brilho sádico no olhar. Susti a respiração. Aquele Klaus era mesmo um
idiota – não acredito! És assim tão estúpido para não perceberes que ela não
conseguiu bloquear nem lutar contra o meu poder por que pensou que eras tu o
causador?
-Sim, eu sei que foi
por isso – afirmou Loki.
-E achas mesmo que se
ela te odiasse não reagiria? Loki, se ela te odiasse o poder dela esmagar-me-ia!
Mas ela não estava à espera porque ela caiu… não só na armadilha, mas ela caiu
num sentimento mais profundo e mais fatela... amor, Loki. Amor.
Não sei quanto a
Loki, mas as palavras de Klaus atingiram-me com força. Seria possível? Seria
possível que alguém fosse capaz de amar o meu irmão? E seria possível que Loki,
o Deus do Prejuízo, correspondesse a esses mesmos sentimentos? As palavras de
Klaus faziam sentido. Era pior quando as pessoas de quem nós gostávamos nos traíam do que
se um inimigo nos magoasse. Muito pior. E se Loki significasse mesmo isso para
Bridget… se eu pensasse que Jane me faria uma coisa dessas, também não
conseguiria reagir.
-Isso não explica a
razão pela qual me possuíste – afirmou Loki, não confirmando nem desmentido o
que Klaus dissera.
-Repito: poder. Eu
não nutro qualquer tipo de sentimentos por ela, Loki. É me indiferente,
excetuando aquilo que ela significa para ti e o significado que isso adquire
para mim. Ela é a minha vingança, Loki. O meu poder é a indiferença e a
vingança.
De repente, Loki
saltou sobre Klaus, agarrando-o pelos colarinhos.
-Tu deixa-la em paz,
Klaus!
Klaus sorriu
sinistramente.
-Oh, ela vai estar.
Depois de eu vos matar a ambos.
E depois, sem que eu
pudesse fazer alguma coisa, uma explosão de fumo cinzento caiu sobre eles e
ambos desapareceram. Desci até ao local, mas não havia nada que pudesse fazer.
Engoli em seco, desesperado. Olhei para o túnel de flores, gritando:
-Heimdall, ajuda!
Imediatamente, um
feixe de luz dourada trespassou o túnel, incidindo à minha frente. Entrei e
ele transportou-me até Bifrost.
*
Ponto de vista de
Bridget
-Loki – o seu nome
saiu da minha boca antes que eu pudesse evitar e saiu num tom que detestei. Não
era furioso nem frio, soava antes… preocupado. Ele virou a cabeça para mim
brevemente e depois concentrou-se novamente no suposto Klaus. Passou-me pela
cabeça que Loki não estivesse satisfeito por Klaus não me ter morto já, mas não
parecia ser isso. Algo estava diferente, errado. E porque é que eu, mesmo
sabendo que tudo aquilo era obra de Loki, não conseguia evitar a sensação de
preocupação que me assolava enquanto o via à frente de Klaus, aquele homem doido e
sinistro?
-Sai daqui, Bridget.
Vai até lá fora e pede a Heimdall que te abra o portal. Quando lá chegares,
deixa-o acompanhar-te até ao palácio e vai procurar Thor.
Fiquei boquiaberta.
-Lá fora está mais
gente para me apanhar? Porque é me estás a deixar ir embora, Loki? O plano é
teu! – Klaus voltou a sorrir e as palavras metálicas de Loki atravessaram-me a
mente: Sim, foste tola em acreditar que
eu podia mudar.
-Não há tempo para
explicações. Vai-te embora, Bridget! Juro-te que da minha parte não há ninguém
lá fora para te apanhar!
-E tu? – escapou-me
novamente antes de pensar.
-Depois de tudo o que
ele te fez, mortal tola, ainda te preocupas com ele? - inquiriu Klaus, a voz desdenhosa.
-Eu não estou preoc… - argumentei.
-A negação só reforça
a verdade – sorriu Klaus e reparei que Loki cerrou mais os punhos no colarinho
de Klaus. Este começou a bater os dentes. Percebi que eram os poderes de Loki a
afetá-lo: afinal, Loki era um Gigante de Gelo, oriundo de Jotunheim, e podia
criar frio e gelo.
-Ele fez alguma coisa
de errado? Ele não me tratou mal o suficiente, Loki, foi isso? – perguntei,
satisfeita por finalmente reencontrar a minha fúria e poder replicar com Loki.
-Não percebes que ele
me manipulou, Bridget? Não percebes que nunca foi minha intenção fazer-te uma
coisa destas? Não percebes que o verdadeiro culpado não sou eu, Bridget, mas
ele?
No fundo, eu queria
acreditar, talvez estivesse quase a fazê-lo... mas naquele momento não
consegui.
-Tens a certeza
disso, Loki?
E dito isto, e sem
olhar para trás, fiz o que ele quis, corri até ao exterior, que de facto estava
vazio, e chamei por Heimdall. Um feixe de luz dourada caiu à minha frente. Não
percebi porque Loki me deixou escapar assim tão facilmente, mas ele devia
pensar que ia ter mais oportunidades de me capturar. Suspirei de alívio quando
o feixe de luz me teletransportou.
Ponto de vista de
Loki
*
Vi Bridget a ir-se
embora e só rezava para que chamasse Heimdall. Se o fizesse, sabia que estaria
em segurança, mas também sabia que ela era teimosa e que podia muito bem não
querer aceitar o meu pedido. O gelo saía-me pelas mãos e Klaus começava a
perder a cor. No entanto, isso não o impediu de rir quando Bridget me
perguntara se eu tinha a certeza de que não fora o culpado daquilo tudo.
Porque, ironia das ironias, até podia ser, ao matar a mãe de Klaus.
O poder de Klaus acabara,
ele não tinha mais forças. Mas queria eu realmente matá-lo?
-Ela… vai… ser… minha…
- ouvi-o sussurrar, aquele sorriso estúpido ainda estampado na cara. E isso foi
o suficiente. Com mais raiva e força de que alguma vez acontecera, o gelo escapou-me
das mãos e envolveu-o, congelando-o e assim acabando com a vida dele. Depois, o
gelo estilhaçou-se, bem como o resto dos fragmentos do que fora, em tempos,
Klaus.
Ponto de vista de
Thor
*
Estava a falar com
Heimdall quando notei que ele parou de me ouvir. Percebi que alguém o estava a
chamar e um raio de esperança invadiu-me o espírito. Depois, ao ver Bridget
emergir da explosão de luz dourada, suspirei de alívio. Esperei ver Loki logo
atrás dela, mas isso não aconteceu. Ela olhou espantada para mim.
-Bridget – disse eu,
aproximando-me e amparando-a quando ela parecia estar prestes a cair. Ela
estava muito cansada e fraca, mas eu precisava de saber de Loki – o Loki? Ele foi
encontrar-se com o Klaus e eu segui-os às escondidas, e Loki ia salvar-te,
mas depois desapareceram os dois e eu vim para aqui.
Bridget arregalou os
olhos.
-O quê, o Loki queria
salvar-me? Mas foi ele que planeou isto!
Percebi que ela ainda
pensava que tinha sido Loki a causar aquilo. Tirei um papel do bolso.
-Acho que devia ser o Loki a mostrar-te, mas lê.
Esperei enquanto ela
leu o bilhete que Klaus mandara a Loki.
-Este K é de Klaus,
certo? – perguntou com voz fraca, no fim de ler.
-Sim – assenti. Ela
olhou para mim, uma lágrima a escorrer-lhe pela cara.
-Então estás a
dizer-me que o Loki não teve nada a ver com isto e que foi manipulado, ele, o
Deus do Prejuízo?
-É exatamente isso o
que estou a dizer-te, Bridget – afirmei, com sinceridade – o Loki fez a mesma
pergunta a Klaus, como é que ele conseguira possuí-lo. Conseguiu fazê-lo porque… bom, nas
palavras de Klaus… vocês amam-se.
E depois os olhos de
Bridget rolaram e ela caiu desamparada nos meus braços, desmaiada.
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