quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Poder

Ponto de vista de Bridget

O local era frio e desagradável, tal como Loki. O homem encapuzado abandonou o espaço sem mais uma palavra e o silêncio inundou a cela. Sabia que estava à espera de Loki, mas para quê? Para receber um pagamento pela minha captura? Para falar com ele sobre o que fazer comigo a seguir? Se fosse isso, porquê aquele sorriso horripilante, como se mal pudesse esperar que Loki chegasse? Quereria o homem encapuzado assim tanto o dinheiro ou detestar-me-ia tanto que mal podia esperar por me ver pelas costas? Quaisquer que fossem as razões, faltava ali qualquer coisa.
Subitamente, ouvi um estrondo e pela porta da cela vi uma réstia de luz verde-azulada. Que se teria passado? Subitamente, aquela luz vagamente familiar deu-me esperança. Concentrei-me e expandi o escudo para além de mim, rebentando com as paredes de vidro da cela e depois com a porta. O que vi deixou-me perplexa.
Loki tinha agarrado o homem encapuzado, que agora tinha a cabeça a descoberto, pelos colarinhos e empurrava-o contra a parede, a cara contorcida numa expressão de raiva. Mas não foi isso que me surpreendeu mais. No seu tom de voz normal, embora alterado pela fúria, Loki grunhiu:
-Onde é que ela está e o que é que lhe fizeste, Klaus?

*

Ponto de vista de Thor

Meia hora antes

Escondi-me por entre as flores do túnel, rezando para que nem Loki nem Klaus sentissem a minha presença. Observei ofegante enquanto Loki esperava por Klaus. Temia as consequências daquele encontro. Depois, à meia noite em ponto, Klaus chegou, com os seus lábios vermelhos e carnudos, olhos azuis-gelo e cabelo castanho e comprido. Era novo, supunha, parecia ter uma aparência de vinte a trinta anos.
-Então vieste, Loki – sorriu ele, sinistramente.
-Onde está ela? – replicou Loki, furioso.
-Acalma os cavalos, Laufeyson, ela está provavelmente melhor comigo do que contigo. Ela é bem bonita, por sinal...
Loki deu um passo em frente, os punhos cerrados.
-Se lhe fizeste alguma coisa, eu juro que…
-Ora, ora, ora – gozou Klaus – ela mudou-te mesmo, não foi? Onde está o Deus controlado e manipulador? Porque há minha frente vejo um louco impulsivo!
-Porquê ela? – questionou Loki.
-Ela é importante para ti.
Loki não respondeu e eu franzi o sobrolho. Eu nunca notara que havia algo entre eles… mas eu também não era a pessoa mais observadora do Universo.
-Mas, se eu acho que aquilo que me estás a perguntar é isto, então respondo-te: decidi não escolher a tua querida mãe, porque ela tem muito mais proteção e seria muito mais difícil chegar até ela. Mas com a Bridget, foi tão fácil... - disse Klaus.
-Como é que a capturaste? Como é que conseguiste manipular a situação de forma a parecer que fora eu a planear tudo? - interrogou Loki.
-Poder, Loki. Poder. Agora, pergunto-me se gostarias de a ver?
-Deixa-a em paz, Klaus. Ela não te fez nada, eu fiz!
-Oh, aí é que te enganas. Ela foi a escolha perfeita: fácil e tão importante para ti… - ele parou, um brilho sádico no olhar. Susti a respiração. Aquele Klaus era mesmo um idiota – não acredito! És assim tão estúpido para não perceberes que ela não conseguiu bloquear nem lutar contra o meu poder por que pensou que eras tu o causador?
-Sim, eu sei que foi por isso – afirmou Loki.
-E achas mesmo que se ela te odiasse não reagiria? Loki, se ela te odiasse o poder dela esmagar-me-ia! Mas ela não estava à espera porque ela caiu… não só na armadilha, mas ela caiu num sentimento mais profundo e mais fatela... amor, Loki. Amor.
Não sei quanto a Loki, mas as palavras de Klaus atingiram-me com força. Seria possível? Seria possível que alguém fosse capaz de amar o meu irmão? E seria possível que Loki, o Deus do Prejuízo, correspondesse a esses mesmos sentimentos? As palavras de Klaus faziam sentido. Era pior quando as pessoas de quem nós gostávamos nos traíam do que se um inimigo nos magoasse. Muito pior. E se Loki significasse mesmo isso para Bridget… se eu pensasse que Jane me faria uma coisa dessas, também não conseguiria reagir.
-Isso não explica a razão pela qual me possuíste – afirmou Loki, não confirmando nem desmentido o que Klaus dissera.
-Repito: poder. Eu não nutro qualquer tipo de sentimentos por ela, Loki. É me indiferente, excetuando aquilo que ela significa para ti e o significado que isso adquire para mim. Ela é a minha vingança, Loki. O meu poder é a indiferença e a vingança.
De repente, Loki saltou sobre Klaus, agarrando-o pelos colarinhos.
-Tu deixa-la em paz, Klaus!
Klaus sorriu sinistramente.
-Oh, ela vai estar. Depois de eu vos matar a ambos.
E depois, sem que eu pudesse fazer alguma coisa, uma explosão de fumo cinzento caiu sobre eles e ambos desapareceram. Desci até ao local, mas não havia nada que pudesse fazer. Engoli em seco, desesperado. Olhei para o túnel de flores, gritando:
-Heimdall, ajuda!
Imediatamente, um feixe de luz dourada trespassou o túnel, incidindo à minha frente. Entrei e ele transportou-me até Bifrost.

*

Ponto de vista de Bridget

-Loki – o seu nome saiu da minha boca antes que eu pudesse evitar e saiu num tom que detestei. Não era furioso nem frio, soava antes… preocupado. Ele virou a cabeça para mim brevemente e depois concentrou-se novamente no suposto Klaus. Passou-me pela cabeça que Loki não estivesse satisfeito por Klaus não me ter morto já, mas não parecia ser isso. Algo estava diferente, errado. E porque é que eu, mesmo sabendo que tudo aquilo era obra de Loki, não conseguia evitar a sensação de preocupação que me assolava enquanto o via à frente de Klaus, aquele homem doido e sinistro?
-Sai daqui, Bridget. Vai até lá fora e pede a Heimdall que te abra o portal. Quando lá chegares, deixa-o acompanhar-te até ao palácio e vai procurar Thor.
Fiquei boquiaberta.
-Lá fora está mais gente para me apanhar? Porque é me estás a deixar ir embora, Loki? O plano é teu! – Klaus voltou a sorrir e as palavras metálicas de Loki atravessaram-me a mente: Sim, foste tola em acreditar que eu podia mudar.
-Não há tempo para explicações. Vai-te embora, Bridget! Juro-te que da minha parte não há ninguém lá fora para te apanhar!
-E tu? – escapou-me novamente antes de pensar.
-Depois de tudo o que ele te fez, mortal tola, ainda te preocupas com ele? - inquiriu Klaus, a voz desdenhosa.
-Eu não estou preoc… - argumentei.
-A negação só reforça a verdade – sorriu Klaus e reparei que Loki cerrou mais os punhos no colarinho de Klaus. Este começou a bater os dentes. Percebi que eram os poderes de Loki a afetá-lo: afinal, Loki era um Gigante de Gelo, oriundo de Jotunheim, e podia criar frio e gelo.
-Ele fez alguma coisa de errado? Ele não me tratou mal o suficiente, Loki, foi isso? – perguntei, satisfeita por finalmente reencontrar a minha fúria e poder replicar com Loki.
-Não percebes que ele me manipulou, Bridget? Não percebes que nunca foi minha intenção fazer-te uma coisa destas? Não percebes que o verdadeiro culpado não sou eu, Bridget, mas ele?
No fundo, eu queria acreditar, talvez estivesse quase a fazê-lo... mas naquele momento não consegui.
-Tens a certeza disso, Loki?
E dito isto, e sem olhar para trás, fiz o que ele quis, corri até ao exterior, que de facto estava vazio, e chamei por Heimdall. Um feixe de luz dourada caiu à minha frente. Não percebi porque Loki me deixou escapar assim tão facilmente, mas ele devia pensar que ia ter mais oportunidades de me capturar. Suspirei de alívio quando o feixe de luz me teletransportou.

*

Ponto de vista de Loki

Vi Bridget a ir-se embora e só rezava para que chamasse Heimdall. Se o fizesse, sabia que estaria em segurança, mas também sabia que ela era teimosa e que podia muito bem não querer aceitar o meu pedido. O gelo saía-me pelas mãos e Klaus começava a perder a cor. No entanto, isso não o impediu de rir quando Bridget me perguntara se eu tinha a certeza de que não fora o culpado daquilo tudo. Porque, ironia das ironias, até podia ser, ao matar a mãe de Klaus.
O poder de Klaus acabara, ele não tinha mais forças. Mas queria eu realmente matá-lo?
-Ela… vai… ser… minha… - ouvi-o sussurrar, aquele sorriso estúpido ainda estampado na cara. E isso foi o suficiente. Com mais raiva e força de que alguma vez acontecera, o gelo escapou-me das mãos e envolveu-o, congelando-o e assim acabando com a vida dele. Depois, o gelo estilhaçou-se, bem como o resto dos fragmentos do que fora, em tempos, Klaus.

*

Ponto de vista de Thor

Estava a falar com Heimdall quando notei que ele parou de me ouvir. Percebi que alguém o estava a chamar e um raio de esperança invadiu-me o espírito. Depois, ao ver Bridget emergir da explosão de luz dourada, suspirei de alívio. Esperei ver Loki logo atrás dela, mas isso não aconteceu. Ela olhou espantada para mim.
-Bridget – disse eu, aproximando-me e amparando-a quando ela parecia estar prestes a cair. Ela estava muito cansada e fraca, mas eu precisava de saber de Loki – o Loki? Ele foi encontrar-se com o Klaus e eu segui-os às escondidas, e Loki ia salvar-te, mas depois desapareceram os dois e eu vim para aqui.
Bridget arregalou os olhos.
-O quê, o Loki queria salvar-me? Mas foi ele que planeou isto!
Percebi que ela ainda pensava que tinha sido Loki a causar aquilo. Tirei um papel do bolso.
-Acho que devia ser o Loki a mostrar-te, mas lê.
Esperei enquanto ela leu o bilhete que Klaus mandara a Loki.
-Este K é de Klaus, certo? – perguntou com voz fraca, no fim de ler.
-Sim – assenti. Ela olhou para mim, uma lágrima a escorrer-lhe pela cara.
-Então estás a dizer-me que o Loki não teve nada a ver com isto e que foi manipulado, ele, o Deus do Prejuízo?
-É exatamente isso o que estou a dizer-te, Bridget – afirmei, com sinceridade – o Loki fez a mesma pergunta a Klaus, como é que ele conseguira possuí-lo. Conseguiu fazê-lo porque… bom, nas palavras de Klaus… vocês amam-se.
E depois os olhos de Bridget rolaram e ela caiu desamparada nos meus braços, desmaiada.

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